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Protestantismo brasileiro, apatia ou acomodação?




















Uma das coisas que tem me preocupado é a forma como nós os protestantes nos comportamos ultimamente. Aliás, nem gostamos muito de dizer que somos protestantes. Dizemos que somos evangélicos. Ser evangélico é como ser crente, basta crer para ser. Para ser evangélico é só se nominar. Agora ser protestante é gritar contra o estado de coisas que estão estabelecidas, inclusive na religião em si. É inquietar-se também com os desmandos do governo, o estado de corrupção, e a cleptocracia que se firmou no Brasil, por exemplo.
Para colaborar com minha inquietação, no curso de teologia que cursei houve uma proposição em fórum para comentarmos o artigo de Ricardo Mariano sobre seu diagnóstico em relação ao desenvolvimento do protestantismo tendo como mola propulsora o crescimento do neopentecostalismo.
Com relação ao “Futuro não será Protestante” conforme o diagnóstico de Mariano (1999), a julgar pelo andamento do processo, ao menos em termos de Brasil isso pode ser considerado uma profecia. Senão vejamos o trecho abaixo:

"A vertente neopentecostal é a ponta-de-lança neste sentido. Pressupor que eles sejam portadores tardios da velha ética protestante, beira ao risível. O futuro dessa religião, como dá mostras de sobra seu presente, aponta na direção da flexibilização, da adaptação, da assimilação, da aculturação. Aculturação que nunca será total, sempre parcial, mas que tende a minorar sua agressividade contracultural e reduzir sua possibilidade de contribuir com inovações culturais de relevo (MARIANO, 1999, pg. 110)".

Fazendo uma "dissecação" do trecho acima o que mais chama a atenção é a forma metafórica com que o autor expôs o assunto. Quando se refere ao neopentecostal como sendo a ponta-de-lança do protestantismo – por ser o que mais cresce ou torna o protestantismo evidente – devido à sua forma e postura nem sempre firmes, fica claro que longe de ser um componente rígido de um instrumento de guerra, na verdade tornou-se um objeto maleável que enverga e cede diante de superfícies endurecidas, no caso, a moral e a ética atuais.
Como bem cita o autor, o protestantismo aponta para assimilação, porque os modismos e as outras formas cúlticas acabam sendo incorporadas aos seus ritos, assim sendo fica o pensamento de que “tudo o que dá certo lá fora pode ser usado por nós”, afinal, tudo foi criado por Deus. É a personificação do pragmatismo religioso. Flexibilização porque aceita todo tipo de comportamento para não perder prosélitos, ou seja, “Deus só quer o teu coração” não passa de uma frase armadilha, mas que não estimula ação prática de mudança de vida. Ao que parece no que tange à moralidade já se deu de mão, ou, às favas com a moralidade. Adaptação porque usa todas as “armas” da concorrência, incluindo aí o marketing religioso, as indulgências, os amuletos, os “sacramentos” afins.
Também há de se concordar com a afirmação de que essa postura tende a minorar a capacidade de contribuir com a inovação cultural que tenha relevância. Afinal, o que o protestante tem de diferente para apresentar? Se veste igual, se porta igual, usa as mesmas “ferramentas” dos demais, abandonam famílias, se envolvem em transações corruptas etc. O termo agressividade contracultural é adequado para atribuir a uma lança. Mas essa contracultura fica prejudicada quando se confunde diversidade religiosa com incorporação de procedimentos, ou não ser um E.T. com adotar comportamentos terrenais. Por isso a nossa "obsolescência". Por que alguém vai querer ser igual a gente se somos iguais a todos? Por que um não cristão se inspirar em nosso comportamento se nós nos inspiramos no comportamento deles?
Quando a sociedade clama por tolerância religiosa, não está necessariamente esperando que se abra mão da ética para tal. Hoje, como já afirmaram autores dos mais lidos o protestantismo está fazendo exatamente o que motivou a reforma. Vende-se um pedaço do céu para quem tem o tesouro terreno. E assim se fia na lógica da teoria da evolução “só os fortes sobrevivem”, ainda que a força não venha de Deus. Então, vamos protestar contra a “economia de mercado religioso” mantendo a ética protestante mesmo em meio ao espírito capitalista. Se bem que para Weber, a ética protestante e o "espírito" capitalista é uma reflexão sobre as virtudes dos protestantes que os levaram a dominar os meios de produção e ser mais prósperos materialmente na época em que o autor formulou sua tese.
É essa virtude que precisamos resgatar, ou seja, se formos prósperos, destacados e celebrados, que sejamos por ser éticos. Precisamos resgatar o que se perdeu quando uma parte dos protestantes abandonou a sua essência e vai se moldar ao estilo não cristão, e pior, mercadológico do jeitinho brasileiro.



Fonte: O FUTURO NÃO SERÁ PROTESTANTE; MARIANO, Ricardo. Universidade de São Paulo – Brasil. Disponível em http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/ENSINORELIGIOSO/artigos4/futuro_nao_protestante.pdf. Acesso em 19 de novembro de 2015.



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