Por Sergio Aparecido Alfonso
Texto-base Lucas 10.38-42
E aconteceu que, indo eles de caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em sua casa; E tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, assentando-se também aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava distraída em muitos serviços; e, aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me deixe servir só? Dize-lhe que me ajude. E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; E Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.
Como diz o texto, Jesus ia com os seus discípulos. Eles se aproximaram de uma aldeia e entraram. Essa aldeia se localizava na cidade de Betânia, e lá moravam três irmãos: Marta, Lázaro e Maria. Apesar de nosso texto bíblico não expressar o nome de Lázaro, sim, ele fazia parte da família em questão. Ao entrar na aldeia, Jesus é recebido por Marta em sua casa. Logo, depreende-se que Marta era a responsável pela residência. De imediato ela então começa um corre-corre. Limpa, lava, cozinha, torce, varre, põe a mesa. Imagino que ela depenou uma galinha, matou um pato, pediu para alguém matar uma ovelha. Depois ela assou a ovelha e os outros animais, tudo, claro, bem temperado. Também fez os acompanhamentos e os enfeites da mesa. Além do preparo de bebidas, ainda tinha que servir os alimentos, fazer a sobremesa, trocar as louças, enfim, trabalho que não acabava mais.
O texto diz que sua irmã, de nome Maria, também estava assentada aos pés de Jesus e ouvia a sua palavra. Assentar aos pés de alguém, no caso, aos pés de um mestre, era o ato de postar-se como aluno e participar de uma aula como aprendiz. Assim Paulo se assentou aos pés de Gamaliel, de quem foi aluno (Atos 22.3). Tudo o que Gamaliel sabia ele passou para Paulo. Maria fez exatamente o que Paulo revelaria ter feito, assentou-se aos pés para aprender. Um ato não só da posição de aluno, mas de humildade que confessa precisar de ensinamentos e interesse pela matéria ensinada. Jesus nunca perdeu uma oportunidade de ensinar, e Maria aproveitou a rara oportunidade que uma mulher daquele período tinha para aprender. A única vez que Marta se dirigiu a Jesus, foi para dar uma ordem a ele, para que ele liberasse sua aluna para ajudar nos afazeres do banquete.
Assim estava Marta, muito ocupada querendo oferecer algo material para Jesus, o próprio Deus, dono de tudo, do ouro e da prata, da terra e sua plenitude, do mundo e os que nele habitam (Salmo 24.1). Se ele tivesse fome não precisaria pedir a ela (Salmo 50.12). Além disso, em João 4.34, Jesus declarou que sua comida era fazer a vontade do Pai e realizar a sua obra. Exatamente o que ele estava fazendo ao pregar para a mulher samaritana, enquanto os apóstolos saíram para comprar alimentos. Disse ele tais coisas em esclarecimento às indagações de seus discípulos quando e eles perguntaram entre si se ele havia trazido algum pão que eles não tivessem visto, já que no verso 32 de João 4, ele afirmava ter uma comida que eles não conheciam. E em semelhante situação, naquele momento em que Marta corria para todos os lados para providenciar o que o Mestre precisava, Jesus já estava satisfeito com a presença de seus ouvintes. Ele estava fazendo o que o alimentava, pregar o reino dos céus.
Apesar do episódio do texto não ser comemoração do nascimento de Jesus, toda véspera de natal as atitudes de Marta se repetem. Muita correria para providenciar tudo para a ceia logo mais à noite. Limpa a casa que ficou suja a semana toda. Tira os móveis do lugar para não deixar poeira em nenhum espaço. As louças são lavadas uma por uma e tudo é disposto na mesa combinando; garfos, facas, pratos copos guardanapos. O guarda-roupas arrumado, a cristaleira tem a poeira removida, os calçados lavados, tudo sendo colocado no lugar. Há briga, intriga e estresse, porque ninguém quer ajudar a tirar os móveis mais pesados do lugar para varrer embaixo deles. Ainda tem a comida da ceia. Cozinha as batatas, bate o creme de ovo para a maionese, porque maionese saudável é feita em casa. Assa o peru, a alcatra, monta a churrasqueira, para assar também uma costela bem gorda lá fora. Arroz à grega, e vai uva passa em tudo. Compra gelo, porque tem que ter uma caixa com bebidas bem geladas. Às vezes acontece até discussão porque ainda tem pouca gente ajudando. Nesse momento, à semelhança de Marta, a única vez que o organizador da festa se dirige ao Senhor, é para reclamar que está cansado e ninguém ajuda.
Mas então, tanta correria para que? Chegarão os convidados, que entrarão com calçados nos pés e deixarão a casa tão ou mais suja do que antes. Vai cair pedaço de bolo no chão. Em muitas casas terão bebidas alcoólicas, e alguém alcoolizado vai ter uma crise e aquele tapete limpo e bonito vai ficar num estado deplorável. Algumas pessoas se tornaram veganas do ano anterior para o atual. Outras não comem brócolis. Algumas estão com mal estar, vieram só para não desfazer do convite. Enfim, a comida vai sobrar. A família que a preparou vai ficar comendo a semana inteira o mesmo cardápio, correndo o risco de ter uma infecção intestinal com comida estragada de tanto tempo armazenada na geladeira. Aquele ponche de frutas ficou quase todo lá. Vai servir para alguém ficar bêbado de novo, armar confusão, ou quem sabe, ter até um coma alcoólico. Com ou sem bebidas alcoólicas, quando a festa acaba, a faxina fica para a família fazer tudo novamente. E detalhe, sabe quando Jesus foi lembrado no momento da ceia? No máximo durante uma oração antes da comilança, quem sabe, por mais longo que seja, durante uma reflexão de cinco míseros minutos. Natal, um minuto de oração, cinco de reflexão, somando tudo seis minutos de lembrança da presença de Jesus, e isso extrapolando.
Mas no próximo ano tem mais. Durante o dia limpeza, correria de cozinha, reclamação para Jesus - não confunda com oração. De noite recepção de convidados, e de novo seis minutos para Jesus, talvez um pouco menos. Depois, intoxicação alimentar, sujeira refeita, ressaca, armazenamento das sobras, comer tudo o que sobrou. Não é pecado arrumar a casa, também não o é cozinhar. Mas procure deixar a casa limpa e arrumada o ano todo. Assim, na véspera do natal um pano úmido resolve o problema da sujeira, uma ou outra coisinha básica já deixa a casa apresentável para a noite. Na cozinha, sem exageros. Busque fazer tudo na medida. Evite desgaste, tenha tempo para Jesus. Pare e pense: A comida se esvai, a saúde se abala, a paz titubeia em meio ao corre-corre dos afazeres. Mas ainda dá tempo. Leia a bíblia, afinal natal é uma festa cristã, e se você a comemora é porque você é cristão, logo, tenha um tempo com Cristo. Faça como Maria, (Lucas 10.42) priorize o ficar aos pés de Jesus; medite sobre a missão e o propósito da vinda do Mestre. Ele é o motivo de tanta festa. Feliz natal!
Realmente muitas vezes é assim mesmo precisamos mudar o abito e reconhecer o verdadeiro sentido do Natal e não só do natal mas das nossas vidas.Deus abençoe você e sua família irmão Sérgio
ResponderExcluirAmém irmão! O objetivo é pensar o que realmente vale a pena pena fazer no natal.
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