Por Sergio Aparecido Alfonso
1.
Voltou Jesus a ensinar à beira-mar. E reuniu-se numerosa multidão a
ele, de modo que entrou num barco, onde se assentou, afastando-se da
praia. E todo o povo estava à beira-mar, na praia. 2. Assim, lhes
ensinava muitas coisas por parábolas, no decorrer do seu
doutrinamento. 3. Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. 4. E,
ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a
comeram. 5. Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca,
e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. 6. Saindo,
porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se.
7. Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e
a sufocaram, e não deu fruto. 8. Outra, enfim, caiu em boa
terra e deu fruto, que vingou e cresceu, produzindo a trinta, a
sessenta e a cem por um. 9. E acrescentou: Quem tem ouvidos para
ouvir, ouça. 10. Quando Jesus ficou só, os que estavam junto
dele com os doze o interrogaram a respeito das parábolas. 11. Ele
lhes respondeu: A vós outros vos é dado conhecer o mistério do
reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de
parábolas, 12. para que, vendo, vejam e não percebam; e,
ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se,
e haja perdão para eles. 13. Então, lhes perguntou: Não
entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas?
14. O semeador semeia a palavra. 15. São estes os da beira
do caminho, onde a palavra é semeada; e, enquanto a ouvem, logo vem
Satanás e tira a palavra semeada neles. 16. Semelhantemente,
são estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra,
logo a recebem com alegria. 17. Mas eles não têm raiz em si
mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia
ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam. 18. Os
outros, os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a palavra,
19. mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as
demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela
infrutífera. 20. Os que foram semeados em boa terra são
aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, a
sessenta e a cem por um. (Marcos 4. 1-20).
Introdução
Jesus
nos inspira com todas as suas ações. Suas atitudes são sempre
executadas no sentido de dar exemplo. Sua regra pessoal era a de
quando desse alguma ordem, bem antes, Ele mesmo fazia aquilo que
requeria das pessoas. O nosso texto-base é mais uma demonstração
disso. Jesus fala no texto acima sobre a figura do semeador.
Claramente Ele se refere ao semeador como sendo o missionário, a
pessoa que prega a palavra de Deus para quem não conhece ainda. Isso
se confirma na explicação dada nos versos 14 – 20. Mas ao se
observar o versículo 1, o que Jesus está fazendo é exatamente a
atividade de semeadura por analogia nessa parábola. O texto diz que
Ele novamente está a ensinar.
Cada
momento que Jesus tinha,
era uma
oportunidade aproveitada. Além de dar o exemplo de semeador, o
Mestre também apresentava
algumas características que devem ser seguidas pelos
seus discípulos em todos os tempos.
Assim, nós, enquanto aqueles que devem seguir a ordem de ir, podemos
aproveitar a oportunidade de aprendizado com o exemplo de Cristo.
Precisamos abrir os nossos olhos, enfim, a nossa percepção, para
captarmos as lições que Jesus nos oferece para
hoje. E essas lições são
encontradas nas suas palavras e ações.
Jesus,
o semeador da boa semente
Os
versículos 1 e 2 são ricos em informação sobre Jesus, nosso
mestre e semeador. Esses
dois versículos dizem que Jesus voltou a ensinar, ou seja, Ele
ensinou em situações
anteriores, e agora está
ensinando de novo. Mas Ele
não está ensinando coisas aleatórias. O verso 2 diz que Ele
estava
proferindo parábolas, falando de muitas coisas por
meio de figuras e metáforas. E mais, ensinava essas parábolas
“no decorrer do seu doutrinamento”. Ele
usava as parábolas para dar condições de se edificar o
conhecimento e a vida sobre instruções profundas.
Doutrina
pode ser entendida como um
conjunto de ideias fundamentais, da
filosofia, religião, economia, política etc,
que são transmitidas e ensinadas por
meio de aulas ou escritos.
Quando se fala em
fundamental,
se remete a rudimento, alicerce, base sobre a qual algo será
edificado. Portanto, os ensinos de Jesus são ministrados a partir do
ponto inicial, como se desenvolvidos
num método, de modo que o ouvinte pudesse entendê-los
por meio de sequência
lógica. O ensino de Jesus
tinha começo, meio e fim. Quem aprendesse com Ele
saberia o porquê
das
coisas. Cada etapa do aprendizado era construída sobre o primórdio
de cada assunto. Quer dizer, Jesus não apresentava
a complexidade de uma lição, sem que a pessoa pudesse entender de
onde cada parte do ensino se originava.
Jesus ia onde a multidão pudesse estar
O
verso 1 ainda nos diz que
as pessoas se ajuntava em
multidão onde Ele
estava. No tempo de Jesus havia muitos mestres. Mas eles tinham uma
plateia seleta. Eram poucos alunos. Atos
22. 3 fala sobre um desses mestres, no caso, Gamaliel, cujo aluno era
Paulo. O apóstolo tardio não era o único aluno de Gamaliel, mas
era um dos poucos, um privilegiado, até porque, o ensino com esses
mestres era pago, e caro. Mas Jesus ensinava de graça, e tantos
quantos quisessem, em que
pese sua escola não ser formal.
Sua
sala de aula era em ambientes externos,
sua classe de alunos não precisava apresentar credenciais de sucesso
na seleção vestibular.
Seu ensino era livre para
todos. Adultos, jovens, adolescentes e crianças. Homem ou mulher,
não importava, todos podiam
frequentar as aulas do mestre Jesus. Sem acepção de pessoas. Aliás,
durante uma das suas preleções um grupo de pessoas se aproximou
Dele
com as crianças que estavam presentes, pedindo que Ele
as abençoasse. Os seus discípulos repreenderam os adultos que
traziam as crianças,
pois, segundo eles, as
crianças perturbavam o Mestre. Mas
Jesus
os repreendeu de volta e disse que as crianças não deveriam
ser impedidas de se achegarem a Ele,
pois
delas seria o reino dos céus (Mateus 19.13 e 14).
Jesus
aproveitava as oportunidades
Nas
narrações de Jesus à beira-mar, via de regra observa-se
Ele estava voltando de
alguma jornada de trabalho de pregação, ou se preparava para sair
em uma nova jornada. O
Mestre nunca estava desocupado. No
entanto, sua agenda não se
fechava para reuniões de
última hora, para uma aula
magna para os que o procuravam.
Enquanto os preparativos de uma viagem eram feitos pelos seus
auxiliares, os apóstolos, Ele
fazia atendimentos, ensinava, aconselhava, curava, consolava,
confortava, etc. a todas as pessoas que o buscavam.
Ainda que as pessoas
estivessem em
número de multidões, em aglomerações incontáveis, Ele
não se intimidava, mas ministrava com o mesmo ânimo e paciência
que teria para falar com uma pessoa ou grupo pequeno.
Jesus
tinha disponibilidade para a missão que o Pai lhe havia atribuído.
Isso era natural
em Jesus. Sua boa vontade não era uma ação política, não era uma
forma de fazer média com as pessoas, não era apenas para preencher
o tempo, nem era para completar horários vazios de sua agenda. Cada
atitude tomada por Jesus era uma otimização da sua presença no
período em que Ele
teve que passar na terra. Ele não dispensava a multidão que o
procurava sem antes satisfazer a sua sede e fome de Deus. O dono do
tempo não tinha tempo a perder, nem
fazia diferença entre as pessoas. Quem o procurasse, Ele
atendia.
Ele
usava todos os instrumentos a seu favor para promover
o sucesso da
obra que tinha para realizar. Ensinava por meio de parábolas, falava
na linguagem que o povo podia entender, e usava como púlpito
qualquer ferramenta que tinha à sua disposição. No caso em
comento, Ele
usou
um barco para se distanciar um pouco da multidão, de modo que sua
voz não fosse abafada pelo efeito acústico com a proximidade das
pessoas que o estavam comprimindo na
margem.
Ele não privava ninguém
de ouvir o seu ensino. Pelo
contrário, sempre arrumava
um jeito de fazer sua voz reverberar. Sua
marca era a de certificar-se de que ninguém saísse sem ser
alcançado pela sua pregação.
Não dificultava o acesso a si mesmo
É
interessante ver como hoje em dia tem tanta gente famosa, que passou
a vida buscando reconhecimento, e quando alcançou, se viu perturbada
pela presença dos admiradores. Jesus, pelo contrário, preferia o
anonimato. Era comum Ele
pedir que a pessoa a quem Ele
tinha acabado de curar, não contasse para ninguém. Certa
vez, quando tentaram fazer Dele
um rei, Ele
simplesmente se retirou, e isolou-se num monte (João 6.15). Mas esse
isolamento não era para fugir do povo, era para continuar perto
desse mesmo povo, pois, um rei deste mundo não pode andar livremente
entre a multidão, e esse
afastamento permanente e isolamento em função do cargo nunca foi o
que Ele
buscou. E mais,
quando Ele
assumisse o seu verdadeiro reino, já não estaria mais conosco.
Há
um provérbio popular que diz: “O pastor tem que ter cheiro de
ovelha”. Para ter cheiro de ovelha o pastor precisa andar com elas.
Por isso, Jesus não era dado a frequentar palácios, e isso tem nada
a ver com discurso de conflito de classes sociais, mas tem a ver com
preferir locais onde a multidão pudesse ter livre acesso Ele.
Poucas vezes Jesus esteve em ambientes de frequência restrita. Via
de regra estava em praça pública. Isso facilitava o acesso das
pessoas de todas as classes.
Nos
locais de frequência pública Ele
teve encontros com nobres e pobres, sãos e doentes, festas e
féretros, grandes e
pequenos, religiosos e pagãos, sinceros e fingidos, fiéis e
indiferentes, preocupados e displicentes, judeus e gentios,
estrangeiros e nacionais, moderados e passionais, honestos e ladrões,
enfim, todo tipo de gente. A ninguém fechou a porta, mas escancarou
a vida para todos, bem como escancarou a vida de todos.
Jesus
tinha cheiro de ovelha,
porque Ele
foi um pastor que andava com elas. Ele estava onde as ovelhas podiam
estar. Não se confinava dentro das paredes de sua casa, nem nos
círculos sacerdotais, não havia empecilhos entre Ele
e as multidões. Não havia exigências da parte Dele,
diferente de governantes que desde sempre seleciona para seus
eventos, apenas os que os apoiam. Jesus facilitava o acesso até de
seus opositores, momento em que Ele
aproveitava para ensiná-los também.
Semeava o evangelho e ensinava a semear
Nesta
passagem em comento, Jesus está falando para dois públicos
diferentes. Ao mesmo tempo Ele
ensinava desde a base, aos que precisavam ser evangelizados, bem
como, aos que precisavam assumir a incumbência de evangelizar. Se
de um lado Ele
falava sobre a responsabilidade de pregar, não importa a quem, por
outro lado, Ele
também falava sobre as eventuais frustrações pelas quais o
pregador passaria.
E
não somente isso, mas Ele
também deixava claro para seus ouvintes, a quem Ele
estava evangelizando, que muitos não assumiriam compromisso com a
palavra ouvida. Jesus nunca vendeu facilidade para os que iam assumir
a obra evangelizadora, bem como, nunca se deixou enganar, e nem mesmo
abria espaço para seus ouvintes se enganarem, pensando que o
tapeariam. Desde sempre Ele
mostrou para todos a sua imensa capacidade de perceber tudo à sua
volta, de modo que ninguém, jamais poderia alegar que
não entendeu corretamente o que Ele queria. Assim, nesta parábola o
Senhor ensina a respeito do semeador, que é o pregador, da semente
que é a palavra, e dos tipos de solo, que são as pessoas que
receberão a semente.
Estando
Jesus diante da multidão, Ele
não perdeu tempo e pregou. A multidão ficou atenta e se aproximava
mais e mais, a fim de ouvir o ensino do Mestre. E Ele
então expôs para aquela gente a eficácia da pregação, a
universalidade do evangelho, a verdade sendo dita a todos os ouvidos.
O Senhor explanou com
clareza os detalhes do evangelho para a multidão, e assim, a
mensagem chegou a todos de forma inequívoca.
Por
outro lado, os discípulos ouvindo o Mestre ensinar, podiam aprender
a ser honestos, claros, objetivos, sinceros e diretos na missão da
semeadura. Por meio de parábola Ele ensinava aos discípulos um
método eficiente de levar a palavra da verdade, e por meio da mesma
parábola Ele facilitava ao máximo o entendimento das suas
pregações.
Falava do evangelho como doutrina
Mas
o evangelho de Jesus não era algo a ser ensinado como mais uma
mensagem, uma filosofia, uma compilação de palavras ao vento, ou
uma palestra de autoajuda. O evangelho não era uma aula secular
sobre problemas do cotidiano apenas.
As pregações de Jesus não eram discursos sobre abstrações.
Pelo contrário, longe de tratar sobre coisas isoladas, o Senhor
falava sobre as questões da vida presente e seu relacionamento com
as coisas atemporais. Jesus não agia como um palestrante
motivacional, Ele não era um animador de auditório.
As
palavras do Senhor não eram ditas em um
momento para ser esquecidas
ou desprezadas logo depois. Jesus não era mais um mestre a ensinar
coisas que seriam
logo em seguida suplantadas pela renovação de conhecimento, ou
alguma evolução científica. Não. O ensino de Jesus era doutrina.
Paradoxalmente, o ensino de Jesus era o fundamento, o alicerce que vem do topo, o
seja, o fundamento originado no céu.
Como
já definido anteriormente, doutrina é um conjunto de ideias
pertencentes a um sistema político, econômico, filosófico,
sociológico, científico, religioso, etc. Doutrina é o que há de
base, de alicerce sobre o qual se edificará um conhecimento. É o
ensino desde os rudimentos, passando por conceitos mais elaborados,
até chegar a uma postulação estruturada a ser defendida como tese,
e por fim, passar a ser tida
como fundamental.
Mas
não no sentido pejorativo pelo meio do qual o mundo se refere ao
fundamentalismo, por exemplo, religioso. Mas
fundamental no sentido de essencial, de fundamento sem o qual não se
terá base para prosseguir nas demais etapas a serem percorridas. E
em se tratando de Reino de Deus, que é para o qual Jesus veio para
nos preparar, a Sua doutrina é o fundamento sobre o qual precisamos
nos sustentar para termos condições de edificar a nossa vida,
segundo a arquitetura de Deus. É o essencial de que precisamos, sem
o qual, o edifício construído está fadado à ruína.
Ensinava
a doutrinar
O
Senhor reservava espaço no seu dia para passar tempo extra com seus
discípulos, sobretudo, com os apóstolos. E nesses momentos Ele
repisava as verdades ditas às multidões. Muitas
vezes Ele aproveitava para tirar dúvidas e responder perguntas que
os apóstolos eventualmente tivessem. Mas
é interessante observar que o grupo de doze apóstolos não era o
único que acompanhava a Jesus. Além deles, ainda vários outros seguidores, entre eles mulheres, algumas delas de classe social elevada.
Foi
desses outros seguidores, por exemplo, que os apóstolos escolheram o
substituto do Judas que havia traído Jesus.
Atos dos Apóstolos, capítulo 1. 21 – 25, conta como
o novo componente foi
escolhido para integrar o grupo dos doze. Mas observe que dentre
os candidatos, Pedro deu como requisito, que o escolhido deveria ser
alguém que tivesse andado
com eles desde o início do ministério quando Jesus foi batizado,
até ao dia em que o Senhor foi elevado ao céu.
Na ocasião da escolha do referido substituto, os apóstolos que não eram mais doze, mas onze, e não estavam sós. O
texto diz que eles estavam reunidos em assembleia, e que dos presentes, a assembleia apontou dois homens, dos quais um seria o
escolhido. Esses
homens eram José, o Justo, também chamado de Barsabás, e Matias.
Depois de um ritual de
escolha, que envolveu até um sorteio, Matias foi honrado com o
privilégio de passar a ser contado entre os doze. Portanto,
a classe Especial, por assim, dizer, de Jesus, contava com muita
gente. As multidões recebiam o ensinamento do Mestre tanto quanto
estivessem dispostas a ouvir. Mas havia um grupo que caminhava com
Cristo o tempo todo, absorvendo dEle o máximo que pudessem. O número
pode ser maior do que se pensa. Voltando
a Atos 1.15,
vamos verificar que se tratava de aproximadamente cento e vinte
pessoas o número de seguidores mais próximos de Jesus, seguidores
que o acompanhavam o regularmente.
E
é exatamente a esse grupo que Jesus se dirigia com mais frequência.
Às vezes, somente os doze se acercavam de Jesus para fazer peguntas
em particular. Mas outras vezes, esse grupo mais numeroso estava
presente para ouvir mais do Mestre, fazer perguntas, satisfazer
dúvidas, ou simplesmente ouvir as respostas que Ele dava para os
apóstolos. A esse círculo
mais abrangente pertenciam Matias e José, o Justo. Ambos possuíam o
mesmo conhecimento que os demais apóstolos tinham recebido de Jesus.
E
esse conhecimento extra foi mais uma vez dado aos apóstolos, e
também a esse grupo maior. Repare que no verso 10 do nosso texto-base, quando Jesus
encerrou a sua prédica, ficou só, e com Ele
os apóstolos, e além dos doze, havia outras pessoas. Na versão que
estamos usando (Bíblia
Almeida Revista e Atualizada
– ARA), diz: Quando
Jesus ficou só, os que estavam junto dEle
com os doze o interrogaram a respeito das parábolas.
Veja que quem o interroga
são “os que estavam jundo dEle
com os doze” e não os doze propriamente.
Portanto,
todos aqueles que quisessem aprender mais, tinham a liberdade de
chegar até Jesus. No versículo 10 em questão, os demais discípulos
o interrogaram, e Ele os respondeu, satisfazendo suas dúvidas. No texto-base, do verso 11 em diante, Jesus deixa claro que eles faziam
parte dos “de dentro”, a quem era dado a conhecer os mistérios
de Deus, ao passo que para os de fora, tudo era dito por parábola.
Daí, a partir do verso 14 o Senhor passa a explicar a parábola,
dando o significado de cada elemento, quais sejam, o semeador, a
semente, os tipos de solo, além da capacidade da parte fértil de
produzir quantidades diferentes para cada porção de boa terra.
Enfim,
nos evangelhos o leitor vai identificar vários encontros do Senhor com
seus discípulos, que trazem a Ele
as suas interpelações, perguntas,
curiosidades, dúvidas e
sede de conhecimento. Por outro
lado, vamos ver
Jesus contemplando cada pergunta, respondendo a tudo e matando toda
sede de sabedoria de Deus que esses discípulos apresentavam. É
por isso, que depois que Jesus é elevado ao céu, os discípulos
ficam reunidos, são revestidos de poder (Atos 1.8),
e depois falam de forma
intrépida, como em Atos 2, e vários textos do mesmo livro.
Em
certa ocasião, em Atos 4, os apóstolos são levados diante do
Sinédrio para responderem sobre sua pregação. Porém, não se
deram por intimidados, pelo contrário, foram muito bem
na defesa da sua fé e do seu ensino.
Mas, ainda que tidos por
iletrados, acabaram
despertando a admiração até mesmo do Sinédrio, que diante da
desenvoltura, só restava às autoridades religiosas reconhecerem que
os apóstolos estiveram com Jesus (Atos 4.13). Ou
seja, captaram o ensino do Mestre, desde os rudimentos até a
mais elaborada postulação, de modo que não foram envergonhados.
Que bom seria se todos os
mestres da palavra pudessem instruir os discípulos de modo que
pudessem se
sentir
seguros para defender a sua fé.
O semeador tem dinamismo V. 3
Muitas
pessoas são chamadas para algum tipo de atividade, mas nem todas têm
disposição para enfrentar os desafios previsíveis para o alcance
dos objetivos propostos na tarefa. Quando diante de alguma coisa
trabalhosa, há pessoas que dão todo tipo de desculpa para não
assumir um compromisso. Fazem lembrar o preguiçoso de Provérbios
22.13. “Diz o preguiçoso: Um leão está lá fora; serei morto no
meio das ruas”. São encontradas as justificativas mais esdrúxulas
para se livrar da responsabilidade. Até o incomum é aventado para
se esquivar do serviço. No
interior, costumamos dizer dessa
pessoa: Fulano não quer nada com a dureza.
Mas
o semeador da parábola de Jesus é bem diferente. Ele é vívido,
forte, ativo. É cheio de vitalidade e energia. O semeador tem ânimo
e disposição. É alguém que está a postos para o trabalho. Ele é
uma pessoa a quem se pode confiar a tarefa da semeadura certo de que
será realizada. É um trabalhador com quem se pode contar. Não dá
justificativas calculadas, nem desculpas esfarrapadas. Não. Uma vez
incumbido, ele segue para o cumprimento da ordem a fim de honrar
aquele que o arregimentou, bem como, garantir que é alguém que pode
ser chamado ao trabalho outras vezes. Assim, o seu contratante tem a
tranquilidade de que não haverá prejuízo nem atrasos por causa da
desídia do funcionário. Esse semeador é alguém que participa do
sucesso e da produção dos resultados.
O
semeador vai a campo
Ainda
no verso 3, observa-se que o verbo sair está conjugado no tempo
verbal pretérito perfeito, na forma simples: saiu. Significa dizer
que essa ação está acaba, concluída, terminada. Ou seja, é algo
que aconteceu sem sombra de dúvida. Portanto, não se está a
perguntar se o semeador vai sair, nem se está dizendo “quando ele
vai sair”, mas ele peremptoriamente saiu. O semeador se deslocou,
se movimentou, ele foi.
Mas
esse semeador não saiu sem rumo, sem saber o que fazer. O texto diz
que ele saiu a semear. O semeador partiu com uma incumbência certa,
uma atividade definida, um trabalho determinado, uma tarefa a
cumprir. Aqui não se trata de falta de opção do semeador, mas de
compromisso dele com quem o incumbiu. Uma vez conhecedor da sua
missão ele seguiu rumo à perseguição do objetivo a ser atingido.
A semente tinha que ser depositada na terra, e ele tinha diante de si
a seriedade do seu chamado. No caso, como o Mestre Jesus identifica a
semente com a palavra de Deus, o semeador tinha consciência da
urgência e da abrangência de sua missão de levar a palavra de Deus
a um território e povo.
Por
isso, o semeador saiu resoluto, com ânimo, sem perda de tempo.
Afinal, a semente, que é a palavra, não pode esperar. Há pressa,
há urgência. Há um vasto campo a percorrer, uma semente sadia a
semear, um dia que está por findar, um trabalho por fazer. Quanto
mais rápido for o semeador, mais produtivo o trabalho será. Pois, a
semeadura precisa ser feita na estação certa.
O
semeador semeia sem abrigo e sem perspectiva
O
semeador saiu a semear, disse Jesus. Ele se movimentou. Deixou o
conforto de sua casa. Não ficou da varanda assistindo os
acontecimentos, mas ele foi. O semeador não limitou sua área de
atuação a um barracão, nem a um local fixo. Ele não estava em uma
linha de produção depositando sementes em montes de terra que
passavam à sua frente em uma esteira.
O
semeador saiu a enfrentar o sol, o distanciamento de sua casa. Ele
enfrentou a escassez de recursos, como água, por exemplo. Sem
nenhuma possibilidade de conforto, sem banheiro, sem sombra, para
descansar, sem refeitório
para se alimentar. Exposto
às intempéries da natureza, lá se foi. Só havia uma coisa em sua
mente: lançar a semente espalhando
por toda parte. Não pensou sobre quais sementes frutificariam nem
quais se perderiam, mas
seguiu confiante.
O
semeador não improvisa
Outro
detalhe importante é que o semeador saiu a semear. Ou seja, ele não
foi pego
de improviso, não estava
desprevenido, mas estava bem
preparado. O
texto diz que ele saiu a semear. Ele não foi ao banco ver se tinha dinheiro para comprar sementes, nem
foi ao armazém para
comprá-las, ele não foi
selecionar os grãos para plantio. Não. Ele
saiu pronto para a tarefa. Sua casa estava arrumada, sua refeição
havia sido preparada, seu alforje estava cheio, o campo foi
escolhido. Não havia mais preparativos. Então ele partiu. Uma
vez designado, o semeador partiu em direção ao seu trabalho,
deixando claro que o Dono da terra podia ficar tranquilo com um
trabalhador aplicado e confiável.
Algo
curioso sobre a atividade de semeadura àquela época, é que o
semeador usava um arco parecido com um semicírculo. Ele então
punha suas sementes ali e fazia movimentos fortes para lançá-las.
Ele era destro com esse instrumento, de modo que o trabalho era feito
sem demora, e todo o campo era alcançado pelas sementes. O uso desse
arco, além de agilizar o trabalho, servia para garantir que as
sementes não se acumulariam
em um local
apenas. Mas também havia o
risco, como no caso da parábola, de sementes caírem em locais não
tão próprios para geminação.
O
semeador lança a mesma semente em vários tipos de terrenos
Dos
versos 14 – 20, o Senhor esclarece o significado da semente, do
semeador, e de cada tipo de solo contido na parábola. Como sempre,
Jesus é direto, e diz que a semente é a palavra e o semeador é o
pregador. Até aí sem mistérios. Mas o que chama a atenção é que
no mesmo campo são vários os tipos de solos que recebem a semente.
A beira do caminho, o solo rochoso, uma parte do solo com espinhos e
por fim, a parte fértil e boa para a germinação da semente.
Conhecendo isso, vejamos as considerações sobre cada uma dessas
partes do campo.
A
beira do caminho
O
Mestre diz em Mar. 4.4, que um pouco das sementes caiu à beira do
caminho. E vieram as aves e comeram as sementes. Já no verso 15, ao dar e
explicação da parábola, Ele diz que a beira do caminho são
aqueles que recebem a palavra, mas vem Satanás e logo a arrebata.
Satanás vem rapidamente antes que a palavra tenha a menor
possibilidade de vida. Mas vamos pensar um pouco sobre a beira do
caminho.
Em
tempos passados não havia tantas ruas construídas, as pessoas costumavam a passar pelo meio das lavouras para cortar caminho.
Então passava uma, duas, várias pessoas. Algumas sozinhas, outras
em duplas, trios e até grupos. Na maioria das vezes passavam a pé,
outras vezes numa montaria, noutras vezes passavam com carroças. Não
raras vezes passavam carregando algum peso, fosse a pé, montadas ou
em carroças. Mas o fato que é quanto mais vezes a passagem fosse
repetida, mais socada a terra ficava, e isso tornava aquele local
bastante endurecido, capaz até mesmo de em uma eventual chuva formar
enxurrada, pois, dada a dureza do solo, a água não infiltrava.
É
óbvio que em uma terra endurecida a semente tem pouca chance, mas
ainda que pouca, há esperança. Se antes das aves chegarem, cair a
chuva por alguns dias logo após ser lançada, a chance da semente
aumenta. Do contrário, por ficar exposta, as aves vêm e a
arrebatam. Observe que Jesus diz no verso 15 que é Satanás que
arrebata as sementes que caíram à beira do caminho. Nesse caso, as
pobres aves são o símbolo da rapidez e precisão de Satanás. Não
que as aves sejam más, neste caso são apenas uma simbologia mesmo.
Mas o que vem a ser isso, Satanás arrebata as sementes?
Primeiro,
enfatizando que Jesus não está comparando as aves a Satanás, mas
ensinando que uma pessoa de coração endurecido deixa a palavra que
recebeu exposta, sob risco de ser perdida. Aliás, o risco de perda é
bem maior do que o de proveito. Assim, como a terra da beira do
caminho que fica endurecida pelo pisoteio das multidões, igualmente
é o coração que recebe todo tipo de influência. Uma pessoa que
busca todo tipo de doutrina, todo tipo de ensino, filosofias,
modismos religiosos e afins.
Alguém
que se considera “mente aberta” e aceita qualquer coisa como
verdade não vai dar o devido espaço para a palavra de Deus, que vai
passar a ser só mais um ensino, uma filosofia de vida.
São aquelas pessoas que irrefletidamente dizem:
“Todos os caminhos levam a Deus”. Quando
não, insensatamente dizem: Não há Deus (Salmos 14.1 e 53.1). E
não se enganem, Deus existe
e
só há um Caminho para se chegar a Ele:
Jesus (João 14.6). A verdade
é que quanto mais ouvido se
dá às influências, mais endurecido fica o coração. Aí, a
tendência é perder a palavra. A
beira do caminho é aquela parte da terra que precisa ser arada,
preparada, afofada. Toda a dureza e resistência precisam ser
removidas para depois lançar a semente.
O
solo rochoso
A
outra parte da semente caiu em solo rochoso (v. 16). Não se trata de
um solo com pedras soltas. Isso em quase nada influencia, pois,
não é problema para germinar, mas sim para colher.
As pedras soltas têm boa quantidade de solo, na
maioria das vezes fértil, ao
seu redor e que permite a semente penetrar e germinar, porque
oferecem
profundidade suficiente. Eu mesmo me lembro de uma vez que fui com
meu pai fazer um serviço chamado “quebrar milho”. Consistia em
recolher o milho com um balaio, tirando espiga por espiga das plantas
que estavam
numa
parte do solo que havia muitas
pedras grandes
e a colheitadeira não podia fazer o trabalho, porque batendo
nas pedras podia quebrar.
Mas
se reparar bem no que Jesus disse, esse solo rochoso tem uma lage
abaixo da superfície. O subsolo é substituído por essa lage, essa
é a razão dEle dizer que as
plantas “não têm raiz em si mesmas”, por
isso nascem prometendo progresso, mas quando o sol as aquece, a
temperatura chega na parte rochosa e queima a raiz
da planta, matando-a antes
dela
começar a florescer.
Essa
parte simboliza a pessoa que recebe a palavra com alegria. Chega a ser vibrante. Rapidamente está falando a respeito das coisas de
Deus. Mas daí chega a zombaria, as piadinhas, a perseguição o
preconceito e a discriminação e a pessoa então desiste de Jesus e
sua palavra. O texto diz que
ela se escandaliza. Escandalizar em grego quer dizer tropeçar.
Tropeços nos fazem cair, e cair nesse caso é voltar ao que era
antes
de receber a semente do evangelho. A
pessoa assim cai da graça. Rapidamente
essa pessoa que parecia ser tão fervorosa, se tornará
ela mesma mais uma escarnecedora.
Ela não quer perder
a simpatia das outras
pessoas, as opiniões alheias são muito importantes.
Figurativamente,
a saída é usar o arado, a
picareta, e/ou outros instrumentos. Um trabalho de desgaste da lage do
subsolo precisa ser feito, de modo a conseguir profundidade propícia
para a semente resistir. Ainda que a lage não venha a ser removida
totalmente nos primeiros trabalhos, a semente terá espaço para
crescer de modo que a dureza abaixo da superfície não seja mais
problema, porque a terra fofa
vai oferecer a profundidade necessária.
E com o tempo, a lage vai sendo tão enfraquecida que as raízes da
planta poderão penetrar e se
infiltrar na lage.
O
solo contaminado com espinhos
Jesus
prosseguiu na explicação, e no verso 18 Ele
disse que ainda a terceira parte caiu entre os espinhos. É
possível que nesse caso os espinhos não estivem à vista, mas ainda
fossem sementes. Os espinhos estavam lá mas eram imperceptíveis. E
assim, como na parábola do trigo e do joio em Mt. 13. 24 – 30, a
boa semente cresceu com a erva má, e
tão logo se tornaram plantas
adultas, o espinho sufocou a
boa semente e essa ficou infrutífera. O Senhor disse que essa
parte representa as pessoas que recebem a palavra, mas as fascinações
e as ambições concorrem com o
amor à palavra, e essa pessoa fica tímida diante do seu círculo
social.
A
pessoa que se enquadra nessa condição, é aquela que ouviu a
palavra, recebeu bem, mas não se envolve na
fase do florescimento. A
pessoa assim ainda dá muito valor ao que o material pode lhe
oferecer ou render, ou ao que
as outras pessoas pensam, enquanto
a obra de Deus fica para depois.
É importante observar que Jesus disse que a planta foi sufocada e
ficou infrutífera, Ele
não disse que a semente foi arrebatada, nem que a planta secou
e morreu. A semente germinou
e a planta gerada sobreviveu.
É
dizer que a pessoa gosta da palavra, mas seu interesse está voltado
para outra área que não a espiritual. Ela
tem a palavra na memória, mas não a
tem no coração, porque
sua prioridade está em outras questões.
Ela ainda está preocupada
com o que comer, o que vestir, casa ampla para morar (Mt. 6.25). Ela ainda ouve conversas inconvenientes e a
opinião de outras pessoas sobre as coisas de Deus, e não a opinião
do próprio Senhor sobre ela.
Se faz necessário
remover os espinhos que estão em volta dessa planta para
que ela possa receber a luz do sol, bem como, desfrutar dos nutrientes da terra. É trabalhar para que a pessoa que se encaixa nessa definição deixe de se envolver com as coisas temporais que tiram o lugar do que é eterno.
Figurativamente,
significa que essa pessoa precisa ser
levada
a dar valor ao que realmente importa, que é “Buscar
o Reino de Deus e sua justiça” para
que todas as outras coisas sejam acrescentadas”
(Mt. 6.33). A
palavra precisa ser não
apenas inculcada, mas também
vivida. O que alguém nessa situação precisa é de experiência.
Pois, ela tem tudo no plano intelectual, mas nada no coração. Algo
na inteligência, nada na vivência. Sabe algumas coisas sobre Deus,
mas não sente quase nada Dele.
A
boa terra
Por
fim, o Senhor falou sobre a parte das
sementes que
caiu na boa terra.
Finalmente o
trabalho recompensa. O texto
diz que um grupo de sementes produziu a trinta por um, outro grupo a
sessenta e outro a cem por um (Vv.
8 e 20). É
uma boa notícia em vista das
decepções em relação ao restante da terra semeada. E
é interessante que o mesmo
tipo de semente e que tinha
igual
qualidade e foi lançada no campo todo. Mas
até na parte
fértil havia diferença de produção. O resultado, embora animador,
não foi o mesmo para toda a
extensão de boa terra. E
o que pode ser tirado de lição sobre essas porções de boas terras?
Se
olharmos para os frutos, podemos nos trair e nos
contentar com o fato de que
uma semente que se multiplica por trinta é melhor do que uma semente
nada produz. Não que não
seja melhor, mas não se encerra aí toda a verdade contida no
significado das coisas. Portanto,
se pensarmos um pouco mais, se irmos mais além, veremos que em se
tratando de semente da mesma qualidade lançada ao solo fértil,
podemos considerar o fato de que
as frações do solo não
possuem o mesmo adubo, não têm a mesma quantidade de nutrientes
para recepcionar a semente e dar a mesma produção.
Apesar
de o texto não explicitar esse pensamento, fica o convite para se
pensar no potencial reprimido de cada fração de solo produtivo. Por
que o Senhor menciona que uma parte das sementes produziu a
trinta, outra a
sessenta e outra a
cem por um? Seria
simplesmente para nos dizer qualquer coisa? Certamente que não. Se
para o agricultor, quanto mais a terra produzir, mais lucrativa é,
quanto mais importante é para Jesus que o potencial de cada pessoa
seja colocado à sua disposição para o crescimento do seu Reino.
Não
é para as pessoas ficarem
satisfeitas
com o que estão
fazendo para Deus. Também
não se trata de querer se
apropriar dos dons espirituais
de outra pessoa. Não, os
dons são distribuídos pelo Espírito Santo para o que for útil (1º
Cor. 12.7), de modo que nenhum dom é dado para satisfação própria,
ou orgulho pela posse. A
questão é que cada um deve empregar o dom que recebeu com
responsabilidade, zelo, temor, com vistas a honrar do Reino de Deus,
visando a edificação da igreja, aperfeiçoamento dos santos e
desenvolvimento da obra e ministérios (Efésios 4.12).
É
verdade que cada um deve
fazer o que Deus determinou em tipo de tarefa. Além
de não se ter a imprudência de enterrar os talentos para não ficar
em débito com o Senhor e perder tudo como
o servo relapso da parábola dos talentos,
(Mat. 25.18, 25 e 29), é preciso fazer ainda
muito mais. Conforme
Paulo instruiu a Timóteo, seu filho na fé, devemos despertar o dom
que há em nós para que sem temor, pelo contrário, testemunhando
sem nos
envergonhar do evangelho de
Jesus, (2ºTim. 1.6 – 8),
façamos conhecidos de todos: as obras, as maravilhas, a salvação e
o poder de Deus. É para isso
que recebemos a semente do evangelho, da palavra do Senhor.
Portanto,
ninguém pode ficar satisfeito só porque deu algum fruto. Cada um
deve buscar saber qual é o real alcance do seu dom, de modo que não
haja prejuízo para o Reino de Deus em função da negligência para
com a obra Dele. É necessário ter em mente que os dons são
exercitados para o crescimento de todos, proveito da obra de Deus,
mas nunca deve ser exercido para desencargo de consciência.
Semeia
em toda a terra com a mesma confiança
Mais
uma vez repetimos que o semeador saiu a semear. Ele não saiu
escolhendo em qual canto do campo deveria ser lançada a semente. Sua
missão era semear. Alcançar cada pedaço daquele chão, dar a mesma
chance para cada espaço apresentar a sua vocação. Ele não estava
focado em descobrir eventuais frustrações, mas no cumprimento de
sua missão. O campo estava à sua frente, a semente em suas mãos.
Nem a terra nem a sementes lhe pertenciam. Por isso, ateve-se ao seu
trabalho, o qual ele fez em paz, com toda crença.
Por
acaso seria isso algum descaso com o valor da semente ou da qualidade
do campo e do solo? Não. Mas tratava-se da urgência para a
semeadura. Lá se foi o semeador para o cumprimento do seu trabalho.
Ele sabia que a germinação, o crescimento e a frutificação não
dependiam do seu esforço, mas da graça de Deus. Portanto, longe de
ser negligente, ele foi confiante na provisão de Deus. Até hoje é
assim. Ao semeador cumpre plantar, apesar de todas as tecnologias
disponíveis, sementes resistentes, defensivos agrícolas e tudo
mais, o desenvolvimento da planta continua dependendo de Deus. Mesmo
com todo o aparato desenvolvido pelo homem, ainda tem insetos e
outras pragas que podem atacar a lavoura.
Não
é à toa que existe seguro para a plantação. O risco de perda
existe, porque o homem não pode controlar tudo o tempo todo. Por
mais que tente, que se esforce, que se previna, jamais poderá deter
todas as previsões. Vai continuar dependo do clima, sobre o qual
Deus possui o governo. O semeador da parábola tem ciência disso.
Não possuía tecnologia para se precaver, não podia controlar os
resultados, não podia contar com nada além da ação de Deus. Só
tinha que seguir firme no propósito da sua incumbência, usar todo o
espaço agricultável possível, fazer o que lhe competia e deixar o
resto com o Senhor da seara.
Retorna
para ver os resultados
Na
parábola, o texto informa que nos versículos 4 – 8 de Marcos 4,
as sementes caíram em diferentes partes do campo, cada qual com sua
particularidade. E depois, nos versos 15 – 20, o Senhor apresenta a
explicação da parábola. Tanto no primeiro quanto no segundo
conjunto de versículos, são mencionados os grupos de sementes e os
locais onde elas caíram. Mas não só isso. Sobretudo, nos versos 15
– 20, é falado sobre a situação em que cada grupo de sementes se
encontravam.
Recapitulando,
uma parte caiu à beira do caminho e foi arrebatada pelas aves, outra
parte caiu nos pedregais e morreu quando atingiu o máximo de
profundidade naquele local que não era propícia para mantê-la
viva. A terceira parte cresceu entre os espinhos e acabou sufocada,
porque os espinhos a suplantaram, e por isso ela ficou infrutífera,
apesar de viva. E por fim, a quarta parte produziu, ainda que de maneira
disforme, mas produziu.
As
constatações feitas pelo semeador, conforme acima descritas, deixam
claro que ele não era negligente com seu trabalho. Cada resultado
obtido foi fruto de observação. Para conseguir saber o destino de
cada parte daquelas sementes, ele revisitou o campo semeado em cada
fração de terra. Não foi uma mera passagem pelos espaços
semeados. Houve investimento de tempo nessa revisitação. O semeador
fez um trabalho de experimentação para descobrir o motivo de uma
plantação apresentar-se tão disforme. E ele não esteve de volta
ao campo apenas uma, mas várias vezes, a ponto de conseguir fazer um
trabalho de reconhecimento de cada situação.
Por
exemplo, para saber que as sementes que caíram à beira do caminho
foram comidas pelas aves, ele parou para observar o movimento do
local. O caminho era usado por pessoas, mas ele viu também que aves
pousavam à beira do caminho. Só depois de notar essa movimentação
de aves é que ele concluiu que elas levaram as sementes que ficaram
na superfície. Essa observação foi na primeira revisita que ele
fez ao campo todo, ocasião em que ele viu que havia as sementes que
germinaram.
Mas
ele também viu a parte das sementes que morreram porque secaram-se
com o aquecimento do sol. Ou seja, conclui-se que ele passou
novamente no campo. Na primeira vez ele viu que as sementes estavam
brotando em todas os cantos daquele campo, exceto a beira do caminho,
que como sabemos não tinha mais sementes. Na segunda passagem ele
observa que havia plantas mortas. Na passagem anterior elas estavam
vivas e crescentes, mas agora estavam secas e mortas. O verso 5 diz
que essas plantas não encontraram profundidade, suas raízes não se
fortaleceram e por isso morreram. E como o semeador soube que essas
plantas não tinham profundidade e suas raízes não se
desenvolveram? Porque ele fez uma escavação e investigou o solo,
quando então descobriu que havia uma lage naquele local coberta por
uma camada de terra pouco espessa para dar planta resistente. Foi aí
que ele soube o motivo da morte daquelas plantas. Nesse segundo
retorno pelo campo ele viu que as demais plantas estavam se
desenvolvendo. Assim, foi necessário voltar em tempo oportuno para
ver a produção.
A
partir daqui, pensamos em uma nova visita ao campo, desta vez, no
período de frutificação. Então, ele observou que parte do campo
não apresentava frutos apesar de possuir plantas vivas. Quando foi
examinar, viu que se tratava de uma porção das sementes que havia
germinado e crescido junto com os espinhais. Mas os espinhos se
desenvolveram mais rápido que a boa semente e sufocaram as plantas
que deveriam dar fruto (v.7). Porém, ele constatou que as plantas
boas, mesmo não produzindo estavam vivas. E qual seria o trabalho a
fazer neste caso? Remover os obstáculos, no caso, os espinhais.
Assim, as plantas poderiam ficar com os nutrientes para si, receber
luz do sol suficiente para se desenvolver, e por fim, produzir.
Enquanto
isso as outras áreas daquele campo apresentavam plantas com
produção. O semeador, possivelmente na mesma revisita, logo após
observar as plantas em meio aos espinhais, percebeu que uma porção
de sementes caiu em boa terra, e essa teve uma produção
satisfatória. Ele examinou as plantas e viu que cada uma produzia
mais que as outras. Como diz o texto-base, umas produziram a trinta,
outras a sessenta, e finalmente, uma parte produzia a cem por um.
O
texto não diz se eram porções diferentes de boa terra, ou se as
plantas estavam misturadas entre si, ou seja, na mesma parte da terra
as plantas produziram em quantidades variadas, ou melhor, na mesma
fração de terra, três produções. Mas é perfeitamente possível
depreender que se tratava de espaços variados da boa terra, por que
as sementes eram de mesma qualidade, não justificando, portanto, que
umas dessem resultados quantitativos alterados em relação a outras.
Pois, sendo o mesmo tipo de semente, teriam que produzir igual.
Assim, a adubação poderia ser o problema. Seria o caso de
fortalecer a boa terra de forma parelha para que não houvesse
resultados díspares.
O relatório das perdas, frustrações e sucessos diferenciados
Como
vimos no tópico anterior, o semeador revisitou o campo. Ele fez
observações diligentes em cada situação apresentada na parábola.
Apesar de não haver essa menção no texto bíblico, o Senhor não
precisa pormenorizar, pois, essa deveria ser uma conclusão óbvia. O
semeador não escolheu qual
a parte do campo receberia sementes. Como citado
anteriormente, o seu instrumento de semeadura tinha um formato de
arco, uma espécie de semicírculo, com o qual o semeador lançava as
sementes. O semeador viu onde cada porção de semente caiu. Por isso
ele teve a precisão em cada análise que fez.
Como
ele sabia exatamente onde as sementes caíram, foi
nas suas revisitas, observações e exames que ele constatou a perda
das sementes que caíram à beira do caminho. Ele soube que se
tratava de aves, não por mera dedução, mas por ter investido tempo
para entender
a razão dessas sementes não terem germinado. De
igual forma ele viu as plantas mortas, e por sua diligência e
esforço, fez a análise do terreno e as escavações necessárias. E
fez constar do seu relatório o que foi que deu errado para que
plantas antes vistosas, ficaram secas. Eram promissoras, mas
agora, sem vida.
Ao
continuar sua análise, ele não se permitiu enganar pelas
aparências, mas foi em cada canto da lavoura e verificou como cada
planta viva se comportava. O fato de estarem verdes, não era
suficiente. Ele viu de perto cada porção. Foi assim, que no
relatório constou a existência de plantas vivas, mas sem produção,
desnutridas e mal
desenvolvidas. Que
elas poderiam
dar algum resultado, mas estavam miradas
em relação às outras.
Por
fim, em seu relatório ele identificou que o trabalho teve sucesso.
Mas que o potencial das sementes não foi alcançado de forma
equânime. Algumas sementes germinaram plantas que apresentaram boa
produção, outra parte, um produto melhor, e a terceira porção,
trouxe um resultado estrondoso. Se a semente era a mesma, e não
havia os fatores espinhos, lages, e aves que as arrebatassem, qual
seria o motivo de resultado tão variado? Ao que parece, a resposta é
óbvia; as porções de terra não apresentavam o mesmo potencial
para o desenvolvimento das plantas. O
problema só poderia ser alguma deficiência de
nutrientes.
Uma
vez identificado o problema de
cada pedaço daquela
propriedade agrícola, as
questões levantadas
precisavam
ser trabalhadas.
É pouco razoável, para não
dizer irracional, acreditar que o Senhor proferiria uma parábola com
tantos detalhes, citando os problemas detectados, para deixar tudo do
mesmo jeito. Mesmo sabendo que nem todos os espaços da terra dariam
frutos, a terra dura precisava ser revirada, as rochas removidas ou
aprofundadas, os espinhos retirados e queimados e o adubo na terra
precisava ser redistribuído em toda a sua extensão.
Considerações
Como
discípulos de Cristo, somos semeadores da semente do evangelho. Não
podemos acreditar que semear dentro da igreja atende aos requisitos
da semeadura. Aliás, na igreja se deve fazer o doutrinamento pela
palavra. Ao passo que precisamos estar em movimento no campo
missionário e sair a semear. Devemos lançar a boa semente sempre,
sem medir a receptividade. A boa semente é o evangelho, que dever
ser pregado sem acepção de pessoas, no terreno dos corações. Não
se seleciona quem deve ou não, ouvir o evangelho.
Como
semeadores da boa semente, não podemos agir de improviso, mas
devemos ter nosso alforje cheio de sementes. Precisamos estar o tempo
todo preparados para o desafio da semeadura. Para tanto, devemos ter
sempre uma palavra de evangelismo e a atenção voltada para cada
oportunidade que se apresentar. O alforje cheio e o manejo da semente
deve ser a preocupação constante do semeador. O ânimo também deve
ser permanente.
Depois
de efetuada a semeadura, os campos semeados devem ser revisitados
para se saber o resultado do trabalho. As eventuais frustrações devem
ser identificadas com discernimento, objetivando trabalhar a terra,
revirando se necessário, escavando se for preciso, removendo
espinhos que atrapalham, e refazendo o trabalho de semear. Para isso, a revisita dever ser um cuidado permanente.
Pode
ser que alguém discorde que se deve retornar, refazer o trabalho,
insistir com cada público alcançado, “revirar a terra”,
retrabalhar as situações. Mas quando Jesus menciona as perdas e
sucessos das sementes, bem como, as características das porções de
terras, não foi à toa, pois, as constatações foram feitas ao se
retornar na terra semeada. E certamente Ele espera que algo possa ser
feito para reverter cada situação da parábola. Ele não fazia
discurso pelo discurso. Assim, o discipulado deve suceder a
evangelização, sempre que possível, pelo próprio evangelizador.
Não sendo possível, passe para outra pessoa, mas não se abandona o
campo à própria sorte.
Na
metáfora da parábola, só se sabe dos sucessos e fracassos quando
se acompanha o desenvolvimento da semente lançada. Assim, esta parte
se encerra com um desafio a você, semeador. Prepare-se, revisite, e
refaça o trabalho se for necessário. Embora você não seja o
responsável por fazer crescer uma planta, a tarefa de plantar e
regar é dos discípulos, e Deus dará o crescimento (1º Cor. 3.7). Não negligencie, os frutos virão.
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