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Bem-vindo à família

Por Sergio Aparecido Alfonso

Gálatas 4.1-7


Digo, pois, que, todo o tempo em que o herdeiro é menino, em nada difere do servo, ainda que seja senhor de tudo. Mas está debaixo de tutores e curadores até ao tempo determinado pelo pai. Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos de mundo, mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também, herdeiro de Deus por Cristo. (Gálatas 4.1-7).


Um menino, todos sabemos, é uma criança. Apesar de Paulo não mencionar a idade, ele diz que o herdeiro que ainda é menino, precisa ser conduzido por tutores, ou seja, por uma pessoa contratada, via de regra, especializada na arte de acompanhar e educar crianças de berço privilegiado. Se precisa de tutor, é certo que a criança ainda não tem seu próprio governo. Então, um empregado contratado para cuidar dessa criança será incumbido de prepará-la para as responsabilidades que virão com o tempo. O papel do tutor é transmitir o que o pai espera que o filho conheça, saiba e aprenda. E no bojo de atribuições do tutor, vem implícita a autoridade para aplicar a disciplina, de forma que a criança tenha modos, os modos da casa do pai. A criança também é conduzida por um curador, que é uma pessoa encarregada de administrar os seus bens. Ou seja, mesmo dono, o herdeiro quando ainda criança não pode dispor do que possui.


O menino – O termo usado por Paulo neste texto para menino, vem do grego 1nèpios que significa uma criança, um bebê, uma criança que inda não fala. E no sentido figurado é uma pessoa ingênua, imatura, simples, ou apenas, infantil. Trata-se, portanto, de uma pessoa sem malícia, mas também, uma pessoa sem instrução, sem conhecimento. No caso do menino, de acordo com o termo usado por Paulo, o tutor vai precisar ser uma babá para bem cuidar do seu tutorado. No sistema romano, os pais ricos entregavam seus filhos aos cuidados de um tutor, que era um servo treinado para a tutoria. Observe que se de um lado o servo se sujeitava às ordens do seu senhor, por outro lado, o filho do senhor daquele servo era sujeito às ordens daquele mesmo servo. É por isso que Paulo vai dizer no verso 1 que o herdeiro quando ainda menino, em nada se diferencia de um servo, pois, apesar de estar perto de tudo o que o pai tem, ele ainda não participa do desfrute e da administração dos bens, e mais, ele não tem poder de decisão, decidem por ele. Apenas recebe a porção diária para viver, vestir e se desenvolver. Por mais que ele tivesse atingido certa idade, a tutoria só encerraria quando o pai decidisse. E o pai não o declarava pronto antes do tempo que estabelecia.


Nós, meninos e servos espirituais – No verso 3, Paulo diz que houve um tempo em que nós também éramos meninos, e reduzidos à servidão. Já fomos doulos que quer dizer servo, tratando-se de uma pessoa assalariada, ou mesmo um escravo. A verdade que é precisávamos de resgate. Quando éramos escravos estávamos submetidos a atividades involuntárias, por isso Jesus nos remiu. E está correto o apóstolo nos chamar de meninos e dizer que já fomos reduzidos à escravidão, porque um e outro se assemelham. Mas a figura usada por Paulo se foca mais na criança. Ele disse que estávamos debaixo dos rudimentos do mundo. Precisávamos também de um tutor para nos conduzir e nos treinar, enfim, nos preparar para a herança (Gálatas 3.24,25). O nosso tutor, ou aio era a lei. E a lei não podia nos dar uma herança, pois ela não lhe pertencia. O tutor apenas conduziu-nos para a herança que já existia. Quando Paulo fala sobre os rudimentos do mundo, se refere ao fato de que a lei nos ensinou o beabá, nos ensinou a comer a papinha, nos preparando para um futuro de alimento sólido, mas também de plenitude de vida e responsabilidade. Começamos desde o alicerce, da base.

Jesus, o servo sofredor – Isaías 53 narra o sofrimento de Jesus, o Cristo, ou seja, o Ungido, o Messias, sobre quem foi depositada todas as nossas dores, as nossas transgressões e culpa. Ele foi desprezado, tomou as nossas enfermidades, foi aflito, ferido de Deus e oprimido, moído por causa das nossas iniquidades, foi afligido (Isaías 53, 3-7 e ss.). No verso 4 de Gálatas 4, Paulo diz que “na plenitude dos tempos Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. Apesar do nascimento virginal, Jesus não veio ao mundo como num estalar de dedos ou um toque de varinha mágica. Deus usou o meio que nós conhecemos, qual seja, uma mulher engravida para dar à luz, portanto, Jesus nasceu de mulher. E em Lucas 16.16, Jesus disse que a lei e os profetas duraram até João. Isso quer dizer, que não só Jesus, mas também João, nasceu sob a lei. Mas João, o precursor de Jesus iniciou o seu ministério antes. Ele era o anjo envidado ante a face de Jesus (Mc 1.1-4). Não se sabe muito sobre a infância e a adolescência do dois, mas o fato é que João em pleno exercício de seu ministério, teve que batizar Jesus em cumprimento ao que a lei preceituava (Mc1.9). Desde sempre Jesus cumpriu o que a lei mandava, inclusive, ele morreu na cruz, para cumprimento da lei.

Jesus nos remiu – E nesse ato de morrer na cruz, ao verso 5, Paulo diz que Cristo nos remiu, isso quer dizer que Jesus nos obteve; nos conseguiu, mas também nos resgatou; nos libertou. Isso tudo, para que pudéssemos receber a adoção por filhos. Mas observe que Paulo disse que isso ocorreu na plenitude dos tempos. Ou seja, quando o tempo em que o Pai achou que o serviço do aio, do tutor já tinha sido suficiente. O tempo foi cumprido para todos os efeitos. Mas Deus fez algo a mais. Além de decretar que o tempo havia chegado, ele nos tirou da servidão e nos colocou na família como seus filhos. Na plenitude dos tempos passamos a ser herdeiros não por sucessão natural, mas por obra e graça de Deus, adotados para ter um nome.

Recebemos o Espírito de Cristo – Espírito vem do grego penuma que quer dizer sopro, golpe de vento, ar em movimento, brisa. Mas também quer dizer fôlego de vida e o próprio Espírito Santo. Recebemos mais além da vida, nos tornamos habitação do Espírito Santo (1ºCo 6.19), e ao mesmo tempo, recebemos o Consolador (João 14.16; João 15.26). Em João 14.16, o Consolador que é o Espírito Santo vem para ficar conosco para sempre. Jamais nos abandona. Em João 15.26, Jesus disse que o Consolador testificará dEle. Se de um lado o Espírito Santo nunca nos deixará, inclusive nos dará consolo nos momentos de dor e tristeza, por outro lado, Ele vai nos dar testemunho a respeito de Jesus quando a dúvida vier nos abater ou tentar tirar a nossa paz e alegria da Salvação. A vantagem de ser filho de Deus é ter o Consolador nos momentos difíceis e o nosso Encorajador a prosseguir na fé. Aba, Pai, Assim Jesus clama para Deus. E ele nos tornou filhos por adoção, nós também podemos chegar a Deus chamando-o de Aba, ou seja, Papai, Paizinho. E quem é pai? O gerador do filho, pessoa por quem o filho nutre ou deveria nutrir respeito, reverência, obediência. Mas também é a pessoa que transmite ao filho a segurança, a confiança, o carinho, o afeto e o cuidado em todos os sentidos. Assim nos provê o Aba de todo afeto e intimidade de que precisamos para sentir a segurança e a percepção de pertencimento à famíla.

Somos filhos com todos os privilégios e direitos – No versículo 7, Paulo diz que nós somos filhos e herdeiros. Isso quer dizer que estamos totalmente integrados à família de Deus. Não somos filhos de segunda linha, não fomos adotados para dar status social ao nosso adotante para que ele fique bem no seu círculo social. Deus não cumpriu uma mera formalidade. Não fomos inseridos numa família social que recebe subvenção do governo para cobrir a ausência, provisoriamente, da família natural da criança ou adolescente, e passado um tempo deixa de ter o compromisso que tinha assumido. Um filho de 2família social é assim. Fica em torno de dois anos com uma família acolhedora e depois é enviado para outra casa, objetivando-se com essa migração evitar o apego afetivo; sem contar que os filhos sociais fazem jus ao que a ajuda permite, mas não são participantes nos bens da família acolhedora. Mas por nossa condição como filhos de Deus não, nós não vamos ficar perambulando. Fomos remidos para ser filhos para sempre. E com a adoção vieram todos os direitos que um filho tem. Somos donos de uma morada no céu, temos um patrimônio eterno que é a vida eterna. E mais importante, não há risco de sermos reenviados para outro lugar para não haver risco de envolvimento afetivo ou perder o desfrute do que há de bom na casa do Pai. Nada disso. Deus nos adotou para nos dar muito amor, infindável e irrepreensível amor, e tudo o mais que Ele tem ele também nos deu.



Conclusão

Houve um tempo em que andávamos como meninos. Não desfrutávamos dos tesouros do Pai, porque ainda estávamos sob a condução de um aio, de um tutor, e nessa condição recebíamos o suficiente para viver. Também já fomos reduzidos à escravidão. Em ambas as situações não havia espaço para a nossa vontade e nossos direitos. Tínhamos que fazer o que nosso o nosso tutor ou o nosso curador mandavam. Tendo tudo ao nosso alcance de nada podíamos usufruir. Mas um dia, Deus, na sua infinita misericórdia, decidiu que o tempo já se havia cumprido, a plenitude dos tempos havia sido atingida. Tudo era propício para que pudéssemos ser remidos, deixar a servidão e a comparação com meninos, crianças, que são pessoas relativamente incapazes e passarmos a viver como herdeiros de tudo o que Deus Pai possui. Para tanto, o Senhor Deus enviou seu filho para que pudéssemos ser resgatados e por fim, adotados. Também recebemos o Espírito do Filho de Deus, Espírito que nos habita, está sempre presente, nos consola e nos encoraja. Desde então, tudo o que o Pai tem é nosso. Não precisamos nos preocupar com mudanças e instabilidades. Não temos mais carências afetivas, muito menos ainda, que conviver com qualquer tipo de dúvida em relação ao amor de Deus, pois, temos um Consolador que testifica de Jesus e seu amor por nós.



1Bíblia de Estudo Palavras-Chave, pg. 310.

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