Dia
desses estávamos – minha esposa e eu – na igreja, e era dia de
celebração da Ceia do Senhor. De repente uma coisa nos chamou a
atenção e causou estranheza, sobretudo pelo fato de estarmos num
templo da Primeira Igreja Batista. É que a denominação é
conhecida por velar pela correta interpretação da Bíblia,
principalmente por simplificar as coisas e vigiar para a não
contaminação por meio da heresia.
Pois
bem, aos fatos. No momento de distribuir os elementos da Ceia o
pastor mandou que chamassem para o templo as crianças de até sete
anos que estavam em ambiente adequado, com linguajar adequado para
realização de culto para a idade. Ele queria que elas participassem
do evento, e assim foi.
Mandou
que fossem distribuídas uvas in natura para as
crianças, a fim de que elas também tomassem de forma simbólica o
memorial. E é aqui que reside o problema. A Ceia trata de alguns
aspectos para os quais a consciência é imprescindível para
habilitar a pessoa a participar do ato recebendo o pão e o suco de
uva (substituto do vinho).
Terminado
o culto, fomos para casa. No outro dia, ainda estávamos atônitos
com os acontecimentos, e minha esposa me pediu que escrevesse algo
sobre a Ceia do Senhor, seu significado, sua função e quem de fato
pode participar. Fazendo uma leitura do material que tenho em casa,
busquei algumas fontes para escrever uma pequena nota. E é
exatamente o que expresso neste texto com alguns acréscimos e
alterações em relação à nota original. E nestas rápidas palavras não se pretende esgotar o
assunto. Até porque seria necessário um livro de no mínimo 100
páginas para tratar do tema. Pretende-se aqui, expor de forma bem
objetiva esse assunto tão delicado e ao mesmo tempo distorcido.
As
igrejas evangélicas celebram a Ceia do Senhor com base no texto de
1º Cor. 11. 23 – 34, e, se voltarmos um pouquinho, veremos que em
1º Cor 10.16 a Ceia é chamada de comunhão. Por isso, é de costume
que ao servi-la adverte-se que somente os que estão em comunhão com
Deus e com sua igreja é que podem participar. Também por óbvio, a
pessoa deve estar presente na igreja. Pois, se bem observarmos o
versículo 20 de 1º Cor 11 diz que as pessoas se reuniam para a
celebração da ceia, em que pese nessa ocasião Paulo advertiu os
coríntios devido a falta de comunhão verdadeira. Significa dizer
que independentemente da denominação, o partícipe será aceito na
mesa se estiver batizado, em pleno exercício de membresia na sua
igreja, disciplinarmente correto, fraternalmente de bem com todos e
mormente com a consciência limpa diante de Deus. Em função disso,
não tem fundamento nem necessidade de se levar a Ceia para alguém
que está no hospital internado ou em casa em período de
convalescença. Ceia é um evento da igreja enquanto corpo reunido.
A
prática evangélica é que somente podem atender os quesitos acima
as pessoas que possuem capacidade de consciência. Claro, não se
deve confundir habilitar-se para a Ceia com ser salvo. Em que pese,
aquele que não está salvo, se participar do memorial o fará com
danos pessoais, as pessoas que não possuem faculdade mental plena,
certamente serão salvas – ao menos creio nisso. As pessoas por sua
vez, se não possuírem plenitude mental não cometem seus erros de
forma consciente. Por esse motivo nas igrejas evangélicas, eu
prefiro protestante, as crianças não são batizadas, já que não
possuem tal consciência. Não precisam de batismo para sepultar o
seu eu, pois, elas ainda não estão contaminadas com o próprio ego.
E é por questão de ego que as pessoas cometem pecados. Em relação
a Ceia, com base no Comentário Bíblico Expositivo de Warren Wiersbe
apresenta-se a seguinte explanação:
A
Ceia tem em primeiro lugar o objetivo de nos levar ao
passado “… fazei isto em memória de mim”. (vv.
23 – 26 a). Serve, portanto, para nos fazer recordar da morte
de Jesus. Enquanto nós preferimos cicatrizar a dor da perda de um
ente querido, Cristo prefere que sua morte seja lembrada a fim de que
não percamos de vista o motivo. Devemos sempre ter em mente que ele
morreu por nós para nos salvar. Que eramos perdidos, e fomos
achados, que por nós mesmos a nossa situação não teria solução.
Que mesmo em meio a um ato de traição de um de seus seguidores mais
próximos, Jesus manteve o cumprimento de sua missão. Em memória de
Jesus vai muito além de se lembrar de um amado que se foi e agora o
mantemos em uma fotografia ou em um monumento. Memorizar Jesus é se
lembrar de sua Vida, Obra e Graça.
A
Ceia também nos remete ao futuro (v 26 b – “...até
que ele venha”.) Essa passagem serve para manter viva a nossa
esperança de um dia nos encontrarmos com ele. O mesmo Jesus que deu
sua vida por nós, é o que voltará para buscar os que o agradam,
recebendo o seu sacrifício salvífico. É Aquele que por meio de seu
ato nos deu a abertura de Sua casa e família, das quais passamos a
fazer parte ao aceitar que é por meio de Seu sacrifício que obtemos
salvação. A celebração da Ceia é o estímulo que temos para não
desistir. Celebramos até que ele venha. Assim se um esmorecer o
outro o ajuda. É no momento da celebração que nos lembramos do
amor fraternal e da nossa futura vida eterna na prática.
A
ceia também nos mantém no presente, à vista disso, (vv.
27, 28) no momento da celebração somos orientados a nos julgar a
nos mesmos. Ou seja, a nossa vida atualmente diz muito sobre o
respeito que temos pelo ato sacrificial de Jesus. O menor erro deve
ser corrigido antes de seguir em frente na participação da
comunhão. É o momento que temos para pensar em nossa
conduta, nossos atos, nossos pensamentos. A oportunidade de
honrar a Deus de verdade com o verdadeiro testemunho é agora, já.
Para isso, nada que macule a nossa vida pode ser deixado para depois.
Por
fim, (v 29) a Ceia nos leva a olhar para os lados. É certo que não
devemos julgar os nossos semelhantes visto que cada um dará conta de
si mesmo. Porém, olhar para os lados não se resume ao não
julgamento de terceiros, mas, observar a consequência das coisas
feitas sem discernimento que vão gerar condenação. Discernimento é
prerrogativa de quem possui capacidade cognitiva, ou seja, faculdades
mentais plenas, de modo a julgar as coisas ao menos de forma
maniqueísta, isto é, cima/baixo; esquerda/direita; bom/mau; bem/mal
e sobretudo certo/errado.
Para
a Convenção Batista Brasileira – CBB, além da pessoa precisar ser batizada pra tomar a ceia,o evento tem todo um
cerimonial de reflexão conforme segue a citação:
A
ceia do Senhor é uma cerimônia da igreja reunida, comemorativa e
proclamadora da morte do Senhor Jesus Cristo, simbolizada por meio
dos elementos utilizados: O pão e o vinho. Nesse memorial o pão
representa seu corpo dado por nós no Calvário e o vinho simboliza o
seu sangue derramado. A ceia do Senhor deve ser celebrada pelas
igrejas até a volta de Cristo e sua celebração pressupõe o
batismo bíblico e o cuidadoso exame íntimo dos participantes.
Se
participamos da Ceia sem entendermos minimamente o significado do
corpo de Cristo simbolizado pelo pão, não vamos nos dar conta da
seriedade do momento. Não vamos entender a morte do Cordeiro por nós
que precisamos de perdão dos nossos pecados. A banalização
calcifica a consciência que é a responsável por nos levar a
refletir sobre nossas condições e se for necessário pedir perdão
por nossas ações, gestos, palavras e atitudes. Crianças não
possuem tal cognição, portanto servir ceia para crianças, ainda
que seja de faz de conta sem que ela seja sensibilizada do seu significado e função, pelo menos para os batistas é nada menos que profanação. Ceia é um momento solene, reverente, respeitoso, reflexivo e de contrição; não é momento de diversão, do verbo divertir, do latim divertire que é desviar-se do que realmente importa, pois, como diz Wiersbe, a Ceia do Senhor não é um monumento em
torno do qual caminhamos. Mas, é o corpo do Salvador Vivo.
WIERSBE,
Warrem W. Comentário Bíblico Expositivo, volume 5, Novo Testamento
1. 1º Cor. 11. 1ª ed. Geográfica. Santo André. 2007.
BATISTAS.
Convenção Batista Brasileira – CBB; Declaração Doutrinária
Batista – O Batismo e a Ceia do Senhor. Disponível em
http://www.batistas.com/index.php?option=com_content&view=article&id=15&Itemid=15&limitstart=6.
Acesso em 16 de dez. 2015.
CRÉDITOS
FOTO: http://domboscoangola.org/db/content/pao-e-vinho-0. Acesso
em 13 de jan. 2016.
Como diz a palavra há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem agindo dessa forma nós digo isso pois na igreja tem esse costume estamos criando futuros enfermos espirituais pois as crianças podem crescer não dando a real importância ao ato da Ceia do Senhor achando que não passa de um ato onde reúne-se para se alimentar(a carne)e não o espirito.
ResponderExcluirIsso é verdade. Às vezes observo que o principal objetivo das pessoas ao participar da ceia e dizer aos demais: não sou excluído. A pergunta é: está realmente incluído ou apenas participa da ceia agora para satisfazer um ego?
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