Quero compartilhar com vocês algo que tenho aprendido na Faculdade Teológica Sul Americana de Londrina. Desde já, informo que se houver interesse, este trabalho pode ser usado pelos leitores em seus próprios trabalhos. Boa leitura e que Deus os abençoe!
A
Missão, Originada em Deus, atribuída à Igreja e Praticada no Mundo
Introdução
Para
que se possa fazer um trabalho de missões próspero e preciso, é
necessário compreender a dinâmica do mundo atual com sua
relatividade moral e ética e demais características. Saber, por
exemplo, que esse mundo se debate em conflitos sociais e combate às
injustiças, mas é desorientado sobre o significado do que vem a ser
a paz social, pois cria mais conflitos do que os que pretende sanar.
Acelera o pensamento defendendo padrões diferenciados de
comportamento, insistindo que a verdade que vale num local ou num
determinado grupo de pessoas não pode ser tida como verdade para
todos.
O
mundo produz conhecimento e pensamento abundantes, mas está à
deriva, confuso em suas proposições e vazio de significado. Gerou
uma sociedade que para resolver seu vazio, se apodera das ferramentas
de relação social, tais como: cultura, arte, política, educação,
jornalismo, economia entre outras, para difundir suas ideologias,
distorcer valores, contestar conceitos, quebrar princípios, a fim de
moldar a consciência coletiva, objetivando difundir a relativização
da verdade de modo a não levantar polêmicas, e assim, alimentar o
seu hedonismo, ou seja, sua busca incessante e insaciável pelo
prazer a todo custo. O relativismo a que nos referimos criou uma
geração que contesta a existência de Deus, o evangelho, a
religião, a ética e a moral cristãs, etc., para assim, livrar-se
do peso da culpa por seus atos, mas não consegue produzir nada nem
alguém que tome o lugar do que é contestado para lhes trazer alento
em suas angústias. Assim, suas perturbações e preocupações, suas
dúvidas e perguntas ficam sem respostas.
Para
contrapor esse mundo, entendemos que é em Deus, no evangelho, na
religião, na ética e moral cristãs, exatamente nesta ordem, que o
mundo terá as respostas que procura. E na busca da fundamentação
da nossa defesa, ao compor o presente trabalho foram escolhidos e
resenhados quatro artigos. O primeiro é “Paradigmas para
entendimento e prática de uma missiologia integral que resulta numa
evangelização contextual e transformadora” por Gedeon José
Lidório Junior, em que ele discorre sobre a secularização, o
hedonismo, a apropriação dos meios de comunicação para propagar
distorções, mas também aponta a necessidade de a igreja ser “sal
para a terra”, se inserir nesse mundo e promover as transformações
de que a sociedade precisa.
O
segundo artigo é “A Igreja e sua Missão no Plantio de Igrejas”
por Ronaldo A. Lidório, onde o autor fala sobre o plantio de
igrejas, tratando da necessidade de uma evangelização
contextualizada que vise a expansão do Reino de Deus não limitado a
um território, mas compreendendo o necessário alcance mundial, toda
terra, e universal, todo homem, enfim, uma igreja cônscia de sua
missão de plantio.
No
terceiro artigo, discorrendo sobre a Pós-Modernidade, Reginaldo José
dos Santos Junior se ocupa de sensibilizar as igrejas para uma
evangelização que leve em conta o tempo presente entendendo a
sociedade como é hoje, não o que se gostaria que ela fosse ou já
foi. E por fim, Timóteo Carriker no artigo Teologia da Missão trata
o homem como um ser vivo dentro de um corpo, com suas características
sociais, culturais e partir daí discorrer sobre estruturas e
estratégias para a tarefa de fazer missões.
Depois
de delimitar essas situações, passamos a considerar as divergências
e posteriormente as convergências entre os autores, para enfim,
fomentar nossas considerações e fundamentar nossas conclusões. Eia
pois.
Divergência
Isto
posto, passamos à situação de aparente divergência entre os
autores nos respectivos artigos. Assim, encontramos em “A Igreja e
sua Missão no Plantio de Igrejas” por Ronaldo A Lidório, e
“Teologia da Missão” por Tmóteo Carriker o que entendemos ser
uma posição divergente, mas não necessariamente divorciadas de
ideias, pois, as duas posições refletem cautela para uma obra tão
importante quando se trata de missão. Começamos então por Timóteo
Carriker nas páginas 4 e 5 (correspondentes às páginas 75 e 76 da
MISSIONEWS Revista de Missiologia Online) de seu artigo Teologia da
Missão que dá mostras de defender uma estrutura de organização e
planejamento mais rígida da tarefa de missões da igreja. Para uma
localização mais precisa, na página 4, nos seus dizeres:
Seja como for, creio que a
denominação deve assumir sua tarefa missionária estruturalmente,
procurando manter em sadia tensão os seus órgãos em nível do
Supremo Concílio (as diversas divisões duma estrutura missionária
unificada) e expressões estruturais mais localizadas e sob medidas
(projetos e organizações de sínodos, presbitérios e igrejas
locais). Não seria, de maneira alguma uma tarefa fácil, mas também
não impossível.
Ronaldo
Lidório por sua vez, pensa que:
No desafio ao envio missionário,
devemos evitar o institucionalismo. É o outro lado da moeda. A
igreja tomando decisões e definindo metas, estratégias e
prioridades a despeito da visão daqueles que foram chamados.
Precisamos crer que Deus colocará, de maneira clara, nestes corações
os desejos certos e a motivação que vem do alto. É preciso ouvir,
e com atenção, o que Deus fala aos chamados em sua igreja local.
Enquanto
Timóteo Carriker defende um posicionamento mais burocratizado na
tarefa de planejamento de missões em nível denominacional, passando
por suas mais diversas organizações e divisões internas, vindo até
mesmo a mencionar o termo fiscal, Ronaldo Lidório marca posição
numa participação da igreja, porém, que não haja ingerência
sobre o trabalho do missionário. Timóteo parece defender uma
atuação verticalizada da denominação na missão da igreja,
Ronaldo Lidório por sua vez defende algo mais próximo da
horizontalização com poder de decisão mais próximo possível da
linha da frente missionária. Para Carriker é necessário haver uma
espécie de controle, enquanto que para Ronaldo Lidório a
institucionalização deve ser evitada.
Convergências
No
que se refere às convergências entre os autores, começamos por
destacar o fato de que a missão é antes de tudo de Deus. Neste
aspecto concordam em todos os termos os autores Timóteo Carrier e
Ronaldo Lidório, os quais de forma pontual se manifestam na primeira
e segunda páginas do artigo “Teologia da Missão” e primeira
página, de forma mais clara e de forma descritiva no todo do artigo
“A Igreja e sua Missão no Plantio de Igreja” das autorias
respectivas. Ambos lembram que a igreja deve ter em mente que o
objetivo do plantio de igreja é para conhecimento e expansão do
reino de Deus e não da denominação. Os dois autores concordam que
a missão é de Deus e a tarefa de pregar é da igreja. Também
entendem que a igreja não pode viver ao redor de si mesma como foi
com Israel que se orgulhava de sua eleição. Para os autores, em
mais um ponto de convergência, a igreja em sua missão precisa
plantar novas igrejas para promover a inclusão de mais pessoas no
reino de Deus e não mais pensar no exclusivismo de um povo em
detrimento da salvação de um mundo de valores corrompidos que a
cerca.
Já
Gedeon José Lidório Junior e Reginaldo José dos Santos Junior nos
respectivos artigos “Paradigmas para entendimento e prática de uma
missiologia integral que resulta numa evangelização contextual e
transformadora” e “Reflexões Sobre Evangelização na Pós
Modernidade” trazem a lume a necessidade de ser a evangelização
contextualizada. Para tanto, ambos percebem um mundo onde valores são
relativos, prazeres são mais importantes e os recursos de
manifestação social incluindo educacionais são usados de forma
maléfica e distorcida, onde valores são fragilizados e absolutos
são desintegrados.
Para
Reginaldo José dos Santos essa contextualização é melhor
percebida quando o discurso é coerente com a prática, bem como a
pregação deve atingir a pessoa como um todo. Portanto, o evangelho
deve atingir não apenas o racional, mas também o emocional da
pessoa, o que pelo desenvolvimento de seu artigo depreende-se chegar
à completude do ser. Para Gedeon Lidório, a contextualização é
melhor alcançada quando os discípulos se portam como o sal para a
terra. Isso obviamente influencia na transformação da sociedade,
quando o cristão se percebe não apenas como agente preservador, mas
também estimulante da reprodução e para isso está intra
mundo.
Gedeon
preocupa-se em que o evangelho não apenas trate da sua primeira
parte funcional, a salvação, mas que também se ocupe da
transformação das situações. Uma frase que resume e corrobora que
os autores estão de acordo é que “Os cristãos são o quinto
evangelho, na prática mais lido” que os outros quatro. A questão
é: o que é lido em nós”! (Reginaldo José dos Santos Junior,
Reflexões Sobre Evangelização na Pós-Modernidade). Por outro
lado, igualmente contundente, e com fala semelhante Gedeon Lidório
afirma:
Tendo então a criação como um
todo o objetivo de glorificar o nome de Deus, é necessário pensar
na função da igreja em salgar a terra de maneira mais inclusiva do
que existe hoje, talvez até mesmo numa digressão, estabelecer novos
conceitos pelos quais fortalecer a fé e despertar ações a caminho
de uma vida cristã mais autentica, holística e em consonância com
o plano e propósito de Deus para a própria criação.
Em
outros dois pontos os autores concordam, e ainda que não sejam
explícitos, são ao menos tácitos. Primeiro, é que precisamos ser
discípulos que possuam autenticidade, acautelando-nos da
espiritualidade ora utópica, ora hipócrita, por vezes arrogante e
orgulhosa, carente de preparo para entrar num mundo com percepção
diferenciada e que está mais preocupado em observar exemplos do que
ouvir sermões falados. Segundo, o preparo e engajamento dos
obreiros, bem como o preparo de estruturas que suportem os
missionários com estratégias e treinamentos, visando a necessidade
de compromisso entre missionário e igreja, em atitude de
reciprocidade e cumplicidade.
Considerações
Pessoais
A
chamada pós-modernidade alterou a percepção de mundo, trouxe
conflito entre a racionalidade e o próprio raciocínio. Se o
pensamento se abriu com esse advento, também deixou sem conclusão
as confabulações da sociedade. Tudo é relativo! É o que se diz.
Por isso mesmo a dificuldade em produzir respostas para as questões
que se avolumam. E talvez por isso a sociedade vive uma forma
exacerbada de hedonismo, cuja satisfação de prazer desconsidera até
os parâmetros do que chamamos vergonha. Se nada se conclui,
conclui-se que tudo é permitido. Por isso o mundo carece de Deus, e
essa carência não é apenas sentimental, é também uma carência
de sua presença de justiça, alegria, presença apaziguadora,
pacificadora, transformadora de situações, sobretudo, uma carência
de salvação e partir daí, de significado. Para isso, o Deus
criador dos céus e da terra e das pessoas que habitam esta terra,
desde os primórdios, pessoalmente tomou uma atitude para que esse
conjunto de carências em relação a Ele fosse preenchido. Trata-se
de Missão. Importante lembrar que uma vez que o objetivo de fazer
missões é satisfazer a carência do mundo em relação a Deus e que
foi Ele mesmo quem tomou uma atitude nesse sentido, logo, Ele é a
origem de missões e também é o principal e mais interessado agente
no cumprimento dessa tarefa, sendo a igreja sua preposta na terra.
Assim,
temos que a missão se apresenta em duas faces, sendo a Missão de
Deus e a Missão da Igreja, onde se constata, portanto, o desejo de
Deus de se tornar conhecido do mundo, bem como salvá-lo com a
participação da igreja. Então, a missão é de Deus porque
originária no relacionamento da Trindade, e a tarefa de executar a
missão é da igreja que na dependência de Deus se torna sua
parceira na obra missionária, porque é por meio do seu povo,
protótipo do seu Reino que outras pessoas conhecerão este Reino
também. É na felicidade de seu povo que outros povos encontrarão
felicidade e encontrarão o próprio Deus. Esta é a sua vontade.
Mas
a parceria entre Deus e a igreja não se resume à pregação do
evangelho e a partida dos cristãos do local alcançado logo em
seguida para evangelizar outro lugar sem se envolver com as pessoas.
É preciso ficar, lutar junto, ajudar no crescimento espiritual e enfrentamento das dificuldades em suas mais variadas naturezas. É necessário que haja um discipulado transformador, promovendo o
ajuntamento de uma nova comunidade e por fim o plantio de uma igreja
que estará encarregada de dar prosseguimento ao trabalho gerando
nova igreja que seja consciente de que é Igreja de Deus, dando
continuidade ao ciclo. Essa consciência nos preserva da atitude de
autossuficiência e independência em relação a Deus e também da
ideia de exclusivismo. Assim também nos dá a convicção de que
devemos continuar firmes na obra missionária, formando igrejas que
apareçam, que sejam percebidas.
Por
outro lado, saber que é Igreja de Deus nos dá a certeza do sucesso
na tarefa de missões e plantio de novas igrejas porque uma vez
entendida a parceria com Deus, logo, está subordinada à vontade
Dele e comprometida com a expansão do seu Reino e não das divisas
da denominação. Assim, plantar igreja é nada mais que, usando a
metáfora da colheita, estabelecer o silo onde os frutos recolhidos
serão reunidos, e não só isso, mas que esses frutos recolhidos
pertencem a Deus e quanto nós, somos somente seus trabalhadores que
temos a tarefa de não deixar que os frutos se percam, seja por não
colher, ou colher e deixar a céu aberto.
Por
isso, uma igreja não realiza missões e nem planta outras igrejas só
porque é igreja. Mas planta igrejas porque é igreja de Deus e
porque é formada por pessoas agregadas às respectivas comunidades e
por meio destas pessoas se movimenta em direção à sociedade que a
circunda. Eis a tarefa de uma instituição que se realiza por meio
de pessoas. Mas a pessoa sobre cujos ombros recaem a tarefa direta de
fazer missões não pode ser qualquer pessoa. É necessária uma
rigorosa observação antes de enviar alguém para o campo
missionário. É preciso portanto, que o membro da igreja que afirma
ter um chamado seja alguém que tenha o reconhecimento da sua
comunidade, isto implica bom testemunho na família, desprendimento
na igreja onde congrega e benção na própria igreja.
Outras
observações precisam ser feitas, entre elas, precisa ter alcançado
testemunho não só de que tem aptidão para o trabalho, mas
principalmente que possui espiritualidade, esta sim, a principal.
Também precisa ser evangelista no seu próprio bairro, na sua
localidade, além é claro, possuir caráter e ser consciente da
necessidade de preparo missionário e não apenas se fiar no seu
conhecimento empírico. O referido preparo implica num embasamento
teológico ao menos em nível fundamental, para que o enviado possa
saber minimamente se comportar no local de envio, onde deve através
de seu testemunho, incluindo o de que está capacitado,
compatibilizar seus esforços com o padrão de atuação de Deus. É
através do preparo missionário que se aprende a dinâmica do Reino
e sua atuação no mundo, bem como, princípios bíblicos aplicados à
orientação da obra missionária e também orientadores da conduta,
moral e ética cristãs.
Por
isso mesmo a igreja deve considerar a estrutura missionária mais
apropriada. A responsabilidade última sobre a obra missionária e
sobre o próprio missionário é da igreja. Portanto, apesar do fato
de se evitar o institucionalismo, ou seja, definir metas e
estratégias e ainda, tomar decisões, desconsiderando a visão do
missionário, a igreja precisa ter métodos de treinamento, estrutura
de apoio, avaliação de resultados e aprimoramentos periódicos e
vigilância sobre o procedimento do obreiro enviado. O missionário
precisa ter humildade suficiente para reconhecer que precisa ser
capacitado e vez por outra, aprimorado. Além disso, ele precisa se
reconhecer subordinado à igreja que o envia, e esta, reconhecer que
o chamado é do missionário, e por isso mesmo, deve entre outras
ações, sustentá-lo no campo e ter com ele cumplicidade.
Ademais,
precisa haver uma ligação entre missionário e igreja, numa via de
mão dupla onde a igreja apoia, reconhece, dá autoridade para o
trabalho e assume suas responsabilidades inclusive sociais, mas do
outro vértice, o missionário precisa entender que ele não é
independente da igreja, tem que prestar contas do que faz, que a
igreja precisa ser participada das decisões e dos grupos com quem
está se associando, enfim, uma relação de confiança e honestidade
entre ambos. Afinal algo que não pode sair da mente do missionário
é que ele está filiado a uma igreja e essa igreja pertence a Deus e
por isso, ambos, missionário e igreja estão subordinados a uma
Autoridade maior, e a saúde dessa relação influencia na recepção
e credibilidade que a comunidade externa dará ao trabalho de
evangelismo.
Pois
bem, até aqui descobrimos que a missão é de Deus, e que por isso o
sucesso não se deve ao mérito nem esforço do missionário, nem à
capacidade de gestão de recursos humanos da igreja, mas sim, à ação
do próprio Deus que uma vez conhecido do mundo passa a agir nele.
Também conhecemos da responsabilidade da igreja em preparar uma
estrutura de ação missionária que inclui treinamento, métodos e
apoio, entre outros, ao missionário. Assim também, consideramos a
necessidade de reconhecimento do missionário de que precisa se
preparar para exercitar o seu chamado e prestar satisfação à
igreja que o envia. Mencionamos ainda que igreja e missionário devem
desenvolver um relacionamento de reciprocidade. Tendo considerado as
questões anteriormente expostas, resta ainda dimensionar para que
mundo pregar, e que mensagem levar.
É
fato que o mundo mudou e continua a mudar rapidamente. Hoje temos
discussão de ideias imposição de ideologias distorções de
valores, e diríamos até orfandade de princípios. A sociedade é
imediatista, e ao mesmo tempo em que prega justiça e igualdade
social, é dada aos seus próprios prazeres. Querendo ser altruísta
se revela egoísta, porque cria castas e disputas. A verdade
absoluta
não tem mais valor, pelo contrário, há muito que a verdade foi
adaptada ao arbítrio pessoal. A destruição de conceitos e
relativização dos valores é a tônica regente da moral hodierna. A
libertinagem grassa a sociedade, mas ela não é permitida a todo
mundo. Cada tribo com suas regras ou melhor, com sua falta de regra,
mas essa vida desregrada não vale para os de outra tribo.
Assim
ao mesmo tempo em que o mundo se posta mais liberal, nunca teve tanta
gente fiscalizando a vida alheia como na atualidade. É por isso que
não se admite falha da parte de alguém que prega o evangelho. A
resposta da sociedade é: Se você falou que é assim, então cumpra
o que disse. Essa pessoa que cobra o pregador para que viva o que
prega, vive uma vida onde ninguém
é de ninguém.
Mas isso é assim porque ela decidiu viver sem regras. Exatamente por
isso, ela vive a sua não regra, mas do pregador se espera vida
ilibada porque ele prega que moralmente se deve portar, e não
poderia ser diferente. Logo, pregar a palavra é antes de tudo um
compromisso com Deus, e depois um penhor assumido para com a
sociedade. Dispensável dizer que o crédito do pregador depende da
honradez nos dois compromissos. Se falhar com um, falhou com o outro.
Cumpra o chamado de pregar, e viva o que pregou. Lembrando as
palavras de Cora Coralina “Feliz é aquele ensina o que aprendeu,
mas muito mais feliz é aquele que aprende o que ensinou”.
Não
há mais a inocência da aceitação pura e simples da figura do
profeta
com
sua fala incontestável. O mundo não é mais o mesmo, e nunca
voltará a ser. O saudosismo não ajuda na propagação do evangelho.
E mais do que nunca as mesmas pessoas que relativizam a verdade
esperam dos pregadores um padrão moral que seja coerente com o que
se prega. Os olhos parecem mais atentos que os ouvidos. A
relativização pode valer, porém, apenas para as pessoas de fora da
igreja, mas quando se trata da mensagem do reino, a vida do pregador
tem que guardar uma relação de absoluto com o que ele fala. Aí
sim, existe o absoluto. E é por isso que os cristãos como um todo
devem se inserir nesse mundo, sem dispensar a cautela, desfazendo-se
da arrogância dos detentores da verdade. Mesmo sabendo que são
portadores da palavra da verdade.
Jesus
é o norte de todo o cristão, ele mesmo se insere no mundo através
da encarnação usando de gestos, ações, palavras e atitudes que
deram o sucesso na sua jornada. O Mestre não vivia no comodismo de
falar do Reino de Deus e sua justiça, e depois de jogar palavras ao
vento ir a retirar-se para o ascetismo. Ele também nunca se impôs,
pelo contrário, depois de pregar levava as pessoas pensarem de
per si
como no caso das perguntas que ele fazia. Entre elas citamos duas.
Uma em Marcos
12.24 “E Jesus disse-lhes: Porventura, não errais vós em razão
de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus”? Nesta passagem
Jesus
certamente leva os saduceus a repensar suas convicções sobre a
reencarnação em que criam e a vida no céu que desconheciam, e
desfazer-se de sua pretensa dominação da verdade. A outra pergunta
que Jesus fez e põe seus opositores a pensar está em João 5.44,
“Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros e,
contudo, não procurais a glória que vem do Deus único”? Depois
de ter realizado uma cura no sábado e ser questionado pelos fariseus
que não entendiam a sua missão, Jesus dá uma longa explicação
sobre sua vida e obra na terra, e por fim, faz essa pergunta onde os
fariseus são conduzidos a uma reflexão. Enquanto eles se orgulhavam
do seu apego às regras, Jesus mostra que se satisfazia em realizar a
obra e glorificar a Deus na vida das pessoas. Se por acaso foram
infrutíferos em seus pensamentos, isso já não deve ser debitado na
conta de Jesus.
Notório
também, que Jesus nunca pediu para que seus discípulos fizessem
mais do que Ele mesmo pudesse fazer. É por isso que ele diz: Vós
sois o sal da terra (Mateus 5.13). O que ele pede aqui é que os
discípulos não sejam meros elementos de tempero, mas que sejam
inseridos, onde for necessário, como Ele se inseriu. E a melhor
forma de se fazer isso é ser sal para a terra, seja com a função
de dar sabor, de preservação ou com a função de fertilizante para
o que se suava o sal naquela época tendo aqui a conotação de
promover capacidade de multiplicação. E aqui a ideia é de
multiplicar-se o Reino na vida das pessoas, bem como os salvos
frutificando em novos salvos, os justos em outros justos, os santos
em outros santos
É
por isso que em parágrafos anteriores nos referimos à necessidade
de o cristão se inserir no mundo. Essa inserção não é para haver
uma conformação com os valores e princípios mundanos, mas para
mostrar que o Deus que se prega é o Deus que se vive. Que o Deus
moral e justo, mas também compassivo e longânime é real, e ele
mesmo propicia os meios para que sua palavra pregada seja cumprida
sob todos os pontos de vista e abordagem. Para isso, é preciso que a
igreja seja tão eloquente no silêncio quanto o é no farfalhar das
páginas da bíblia na igreja ou no som dos microfones das praças. É
preciso que a mensagem continue a falar depois de proferida.
Assim,
defendemos que não se trata de propagar uma mensagem qualquer. Mas
de uma mensagem que faça a diferença na vida das pessoas. A prédica
precisa ser de proximidade, isto é, contextualizada, e mais ainda,
precisa ser de alcance integral, ou seja, que atue no todo do ser.
Para isso ela precisa ser reconhecida pelas pessoas no tempo, no
espaço e com a velocidade que a linguagem e a comunicação se
movimentam. Se a erudição perde espaço numa comunidade carente,
pode ser crucial numa comunidade melhor estruturada. E por falar em
comunicação, devemos levar em consideração as variações
linguísticas, principalmente as peculiaridades regionais e linguagem
de um grupo. Cada tribo tem sua linguagem própria e cada lugar tem
suas tem sua forma de expressão verbal. Ademais, no exemplo de Jesus
não constam só palavras, pois, como já dissemos há gestos, ações
e atitudes, ou seja, se for preciso fazer algo, demonstre que fará,
isto é gesto, queira fazer, isto é atitude, e faça, isto é ação.
Complementar
a isso, a mensagem precisa considerar as carência das comunidades,
ou sua capacidade de resolução de problemas. Por exemplo, as ações
sociais ao lado do discurso religioso são mais produtivas que
palavras abundantemente amáveis, mas vazias de prática. Na outra
ponta da teia social concreta, numa comunidade mais estruturada a
mobilização da sua capacidade produtiva leva seus membros a fazer
algo em prol de outro grupo que talvez não tivessem interesse ou não
soubessem de sua necessidade. Porém, uma vez realizando algo
significante na vida de terceiros pode levá-los a se perceber com
uma vida que recebe novo sentido, outro significado. Esta é uma das
formas de se resolver conflitualidades, por exemplo. E o missionário
tem essa prerrogativa, a de tutorar as pessoas a se conhecerem e se
reconhecerem. Umas amparando outras sendo amparadas, mas ambas
trocando experiências nas interações porque movidas pelo mesmo
Amor.
Pois
bem, citamos os exemplos de espaços e pessoas acima apenas para
ilustrar uma forma de contextualização. Mas sabemos que existem
muitas outras formas de alcançar o homem todo e todos os homens.
Para tanto, basta que a igreja entenda a integralidade e a origem
Divinal da missão de Deus. Muito é preciso ser feito, e muito pode
ser feito através de missões.
Para
finalizar essas considerações, lançamos mãos de dois textos
bíblicos. O primeiro, é o Salmo 24. “Ao senhor pertence a terra e
tudo o que nela contém, o mundo e os que nele habitam”. Este texto
deixa claro que Deus não apenas continua preocupado com sua criação,
porque pela leitura percebemos que Ele não abandonou o planeta, mas
que também não desistiu do homem, uma vez que todos os seres vivos
deste mundo continuam pertencendo a Deus incluindo o ser humano de
quem Ele não abriu mão. Isto é mais do que motivo para que a
igreja pregue o evangelho integral e contextual. E outro texto que
corrobora com a essa integralidade está em Mateus 24.12 “E, por se
multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos”. Ou
seja, por se multiplicar a injustiça o homem não acredita mais no
homem. O desamor provoca o afastamento entre as classes, os
confrontos ideológicos, os homicídios, furtos, roubos, e injustiças
sociais afins. Pode ser que o fato de que o mundo ainda é do
interesse de Deus, bem como a salvação dos seus habitantes importar
para Deus não seja suficiente para a igreja cumprir com a
evangelização. Neste caso, a compreensão de que uma geração
injusta e desamada precisa de um tutor que conheça o caminho do Amor
para conduzi-la, convença a igreja de sua missão; Se não por se
importar com o próximo, ao menos por instinto de preservação.
Afinal, se a injustiça cria a agressividade e os criminosos, todos
podem se tornar vítimas um dia. É claro que essa frase é pesada,
por isso a oração é para que a igreja por meio de seus membros se
engaje na missão por amor a Deus, não por medo de eventuais
algozes.
Conclusão
Chegamos
ao fim deste trabalho conscientes de que a pós-modernidade está aí
com todo o pensamento inconcluso que trouxe. Também estamos
assistindo a uma busca exagerada por prazer sem levar em conta o
mínimo parâmetro moral. E o que a igreja faz diante disso tudo?
Nada além de continuar levando a mensagem de salvação e
transformação da sociedade, ou seja, fazer missões. Saber que a
missão é de Deus, e da igreja também, assim, uma precisa ser
cumprida e a outra, cumprir. Então a igreja deve abandonar o
ascetismo e a saudade do mundo inocente e retomar o rumo de sua
existência cumprindo sua tarefa. Para alcançar isso tem que manter
sua conduta ilibada, zelando pelo caráter de seus membros e
obreiros.
Tendo
em vista isso, o que um ministério promissor e promotor da diferença
na sociedade precisa ter para realizar sua missão é foco na
preparação de seus obreiros, que desperte a consciência de que o
homem é um ser integral, e as pessoas possuem necessidades
específicas de acordo com seus ambientes e culturas. O obreiro deve
ser devidamente testado em seu chamado, e após enviado continuar seu
vínculo com a igreja que o enviou. A igreja deve apoiar o seu
obreiro e dar suporte em suas ações fomentando e assistindo em suas
dificuldades. Finalizamos acreditando que a pesquisa realizada nos
artigos estudados acende o alerta, mas auxilia também para que a
igreja e os membros, futuros obreiros e missionários sabedores de
que Deus ainda quer salvar um mundo que não sabe discernir a mão
direita da esquerda (Jonas 4.11) precisam assumir seu papel na
evangelização com mais misericórdia e senso de urgência. Precisa
assumir a parceria com Deus não só de direito, mas de fato
principalmente.
Bibliografia
1.
A Igreja e sua Missão no Plantio de Igrejas.
http://missionews.com.br/downloads/Artigo%20-%20A%20Igreja%20e%20sua%20Missao%20de%20Plantio%20de%20Igrejas%20-%20Ronaldo%20a%20Lidorio.pdf
2.
Paradigmas para entendimento e prática de uma missiologia integral
que resulta numa evangelização contextual e transformadora.
http://www.missionews.com.br/downloads/Artigo%20-%20Paradigmas%20para%20entendimento%20e%20pr%C3%A1tica%20de%20uma%20missiologia%20integral%20-%20Gedeon%20J%20Lid%C3%B3rio%20Jr.pdf
3.
Teologia da Missão.
http://missionews.com.br/downloads/Artigo%20-%20Teologia%20da%20Missao%20-%20Timoteo%20Carriker.pdf
4.
Reflexões sobre Evangelização na Pós-Modernidade.
http://www.revistatheos.com.br/Artigos/Artigo_04_04.pdf.
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