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O Semeador e sua função; A terra e seu potencial



Por Sergio Aparecido Alfonso


1. Voltou Jesus a ensinar à beira-mar. E reuniu-se numerosa multidão a ele, de modo que entrou num barco, onde se assentou, afastando-se da praia. E todo o povo estava à beira-mar, na praia. 2. Assim, lhes ensinava muitas coisas por parábolas, no decorrer do seu doutrinamento. 3. Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. 4. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. 5. Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. 6. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. 7. Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto. 8. Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu, produzindo a trinta, a sessenta e a cem por um. 9. E acrescentou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. 10. Quando Jesus ficou só, os que estavam junto dele com os doze o interrogaram a respeito das parábolas. 11. Ele lhes respondeu: A vós outros vos é dado conhecer o mistério do reino de Deus; mas, aos de fora, tudo se ensina por meio de parábolas, 12. para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles. 13. Então, lhes perguntou: Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas? 14. O semeador semeia a palavra. 15. São estes os da beira do caminho, onde a palavra é semeada; e, enquanto a ouvem, logo vem Satanás e tira a palavra semeada neles. 16. Semelhantemente, são estes os semeados em solo rochoso, os quais, ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. 17. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam. 18. Os outros, os semeados entre os espinhos, são os que ouvem a palavra, 19. mas os cuidados do mundo, a fascinação da riqueza e as demais ambições, concorrendo, sufocam a palavra, ficando ela infrutífera. 20. Os que foram semeados em boa terra são aqueles que ouvem a palavra e a recebem, frutificando a trinta, a sessenta e a cem por um. (Marcos 4. 1-20).

Introdução

Jesus nos inspira com todas as suas ações. Suas atitudes são sempre executadas no sentido de dar exemplo. Sua regra pessoal era a de quando desse alguma ordem, bem antes, Ele mesmo fazia aquilo que requeria das pessoas. O nosso texto-base é mais uma demonstração disso. Jesus fala no texto acima sobre a figura do semeador. Claramente Ele se refere ao semeador como sendo o missionário, a pessoa que prega a palavra de Deus para quem não conhece ainda. Isso se confirma na explicação dada nos versos 14 – 20. Mas ao se observar o versículo 1, o que Jesus está fazendo é exatamente a atividade de semeadura por analogia nessa parábola. O texto diz que Ele novamente está a ensinar.
Cada momento que Jesus tinha, era uma oportunidade aproveitada. Além de dar o exemplo de semeador, o Mestre também apresentava algumas características que devem ser seguidas pelos seus discípulos em todos os tempos. Assim, nós, enquanto aqueles que devem seguir a ordem de ir, podemos aproveitar a oportunidade de aprendizado com o exemplo de Cristo. Precisamos abrir os nossos olhos, enfim, a nossa percepção, para captarmos as lições que Jesus nos oferece para hoje. E essas lições são encontradas nas suas palavras e ações.

Jesus, o semeador da boa semente

Os versículos 1 e 2 são ricos em informação sobre Jesus, nosso mestre e semeador. Esses dois versículos dizem que Jesus voltou a ensinar, ou seja, Ele ensinou em situações anteriores, e agora está ensinando de novo. Mas Ele não está ensinando coisas aleatórias. O verso 2 diz que Ele estava proferindo parábolas, falando de muitas coisas por meio de figuras e metáforas. E mais, ensinava essas parábolas “no decorrer do seu doutrinamento”. Ele usava as parábolas para dar condições de se edificar o conhecimento e a vida sobre instruções profundas.
Doutrina pode ser entendida como um conjunto de ideias fundamentais, da filosofia, religião, economia, política etc, que são transmitidas e ensinadas por meio de aulas ou escritos. Quando se fala em fundamental, se remete a rudimento, alicerce, base sobre a qual algo será edificado. Portanto, os ensinos de Jesus são ministrados a partir do ponto inicial, como se desenvolvidos num método, de modo que o ouvinte pudesse entendê-los por meio de sequência lógica. O ensino de Jesus tinha começo, meio e fim. Quem aprendesse com Ele saberia o porquê das coisas. Cada etapa do aprendizado era construída sobre o primórdio de cada assunto. Quer dizer, Jesus não apresentava a complexidade de uma lição, sem que a pessoa pudesse entender de onde cada parte do ensino se originava.

Jesus ia onde a multidão pudesse estar

O verso 1 ainda nos diz que as pessoas se ajuntava em multidão onde Ele estava. No tempo de Jesus havia muitos mestres. Mas eles tinham uma plateia seleta. Eram poucos alunos. Atos 22. 3 fala sobre um desses mestres, no caso, Gamaliel, cujo aluno era Paulo. O apóstolo tardio não era o único aluno de Gamaliel, mas era um dos poucos, um privilegiado, até porque, o ensino com esses mestres era pago, e caro. Mas Jesus ensinava de graça, e tantos quantos quisessem, em que pese sua escola não ser formal.
Sua sala de aula era em ambientes externos, sua classe de alunos não precisava apresentar credenciais de sucesso na seleção vestibular. Seu ensino era livre para todos. Adultos, jovens, adolescentes e crianças. Homem ou mulher, não importava, todos podiam frequentar as aulas do mestre Jesus. Sem acepção de pessoas. Aliás, durante uma das suas preleções um grupo de pessoas se aproximou Dele com as crianças que estavam presentes, pedindo que Ele as abençoasse. Os seus discípulos repreenderam os adultos que traziam as crianças, pois, segundo eles, as crianças perturbavam o Mestre. Mas Jesus os repreendeu de volta e disse que as crianças não deveriam ser impedidas de se achegarem a Ele, pois delas seria o reino dos céus (Mateus 19.13 e 14).

Jesus aproveitava as oportunidades

Nas narrações de Jesus à beira-mar, via de regra observa-se Ele estava voltando de alguma jornada de trabalho de pregação, ou se preparava para sair em uma nova jornada. O Mestre nunca estava desocupado. No entanto, sua agenda não se fechava para reuniões de última hora, para uma aula magna para os que o procuravam. Enquanto os preparativos de uma viagem eram feitos pelos seus auxiliares, os apóstolos, Ele fazia atendimentos, ensinava, aconselhava, curava, consolava, confortava, etc. a todas as pessoas que o buscavam. Ainda que as pessoas estivessem em número de multidões, em aglomerações incontáveis, Ele não se intimidava, mas ministrava com o mesmo ânimo e paciência que teria para falar com uma pessoa ou grupo pequeno.
Jesus tinha disponibilidade para a missão que o Pai lhe havia atribuído. Isso era natural em Jesus. Sua boa vontade não era uma ação política, não era uma forma de fazer média com as pessoas, não era apenas para preencher o tempo, nem era para completar horários vazios de sua agenda. Cada atitude tomada por Jesus era uma otimização da sua presença no período em que Ele teve que passar na terra. Ele não dispensava a multidão que o procurava sem antes satisfazer a sua sede e fome de Deus. O dono do tempo não tinha tempo a perder, nem fazia diferença entre as pessoas. Quem o procurasse, Ele atendia.
Ele usava todos os instrumentos a seu favor para promover o sucesso da obra que tinha para realizar. Ensinava por meio de parábolas, falava na linguagem que o povo podia entender, e usava como púlpito qualquer ferramenta que tinha à sua disposição. No caso em comento, Ele usou um barco para se distanciar um pouco da multidão, de modo que sua voz não fosse abafada pelo efeito acústico com a proximidade das pessoas que o estavam comprimindo na margem. Ele não privava ninguém de ouvir o seu ensino. Pelo contrário, sempre arrumava um jeito de fazer sua voz reverberar. Sua marca era a de certificar-se de que ninguém saísse sem ser alcançado pela sua pregação.

Não dificultava o acesso a si mesmo

É interessante ver como hoje em dia tem tanta gente famosa, que passou a vida buscando reconhecimento, e quando alcançou, se viu perturbada pela presença dos admiradores. Jesus, pelo contrário, preferia o anonimato. Era comum Ele pedir que a pessoa a quem Ele tinha acabado de curar, não contasse para ninguém. Certa vez, quando tentaram fazer Dele um rei, Ele simplesmente se retirou, e isolou-se num monte (João 6.15). Mas esse isolamento não era para fugir do povo, era para continuar perto desse mesmo povo, pois, um rei deste mundo não pode andar livremente entre a multidão, e esse afastamento permanente e isolamento em função do cargo nunca foi o que Ele buscou. E mais, quando Ele assumisse o seu verdadeiro reino, já não estaria mais conosco.
Há um provérbio popular que diz: “O pastor tem que ter cheiro de ovelha”. Para ter cheiro de ovelha o pastor precisa andar com elas. Por isso, Jesus não era dado a frequentar palácios, e isso tem nada a ver com discurso de conflito de classes sociais, mas tem a ver com preferir locais onde a multidão pudesse ter livre acesso Ele. Poucas vezes Jesus esteve em ambientes de frequência restrita. Via de regra estava em praça pública. Isso facilitava o acesso das pessoas de todas as classes.
Nos locais de frequência pública Ele teve encontros com nobres e pobres, sãos e doentes, festas e féretros, grandes e pequenos, religiosos e pagãos, sinceros e fingidos, fiéis e indiferentes, preocupados e displicentes, judeus e gentios, estrangeiros e nacionais, moderados e passionais, honestos e ladrões, enfim, todo tipo de gente. A ninguém fechou a porta, mas escancarou a vida para todos, bem como escancarou a vida de todos.
Jesus tinha cheiro de ovelha, porque Ele foi um pastor que andava com elas. Ele estava onde as ovelhas podiam estar. Não se confinava dentro das paredes de sua casa, nem nos círculos sacerdotais, não havia empecilhos entre Ele e as multidões. Não havia exigências da parte Dele, diferente de governantes que desde sempre seleciona para seus eventos, apenas os que os apoiam. Jesus facilitava o acesso até de seus opositores, momento em que Ele aproveitava para ensiná-los também.

Semeava o evangelho e ensinava a semear

Nesta passagem em comento, Jesus está falando para dois públicos diferentes. Ao mesmo tempo Ele ensinava desde a base, aos que precisavam ser evangelizados, bem como, aos que precisavam assumir a incumbência de evangelizar. Se de um lado Ele falava sobre a responsabilidade de pregar, não importa a quem, por outro lado, Ele também falava sobre as eventuais frustrações pelas quais o pregador passaria.
E não somente isso, mas Ele também deixava claro para seus ouvintes, a quem Ele estava evangelizando, que muitos não assumiriam compromisso com a palavra ouvida. Jesus nunca vendeu facilidade para os que iam assumir a obra evangelizadora, bem como, nunca se deixou enganar, e nem mesmo abria espaço para seus ouvintes se enganarem, pensando que o tapeariam. Desde sempre Ele mostrou para todos a sua imensa capacidade de perceber tudo à sua volta, de modo que ninguém, jamais poderia alegar que não entendeu corretamente o que Ele queria. Assim, nesta parábola o Senhor ensina a respeito do semeador, que é o pregador, da semente que é a palavra, e dos tipos de solo, que são as pessoas que receberão a semente.
Estando Jesus diante da multidão, Ele não perdeu tempo e pregou. A multidão ficou atenta e se aproximava mais e mais, a fim de ouvir o ensino do Mestre. E Ele então expôs para aquela gente a eficácia da pregação, a universalidade do evangelho, a verdade sendo dita a todos os ouvidos. O Senhor explanou com clareza os detalhes do evangelho para a multidão, e assim, a mensagem chegou a todos de forma inequívoca.
Por outro lado, os discípulos ouvindo o Mestre ensinar, podiam aprender a ser honestos, claros, objetivos, sinceros e diretos na missão da semeadura. Por meio de parábola Ele ensinava aos discípulos um método eficiente de levar a palavra da verdade, e por meio da mesma parábola Ele facilitava ao máximo o entendimento das suas pregações.

Falava do evangelho como doutrina

Mas o evangelho de Jesus não era algo a ser ensinado como mais uma mensagem, uma filosofia, uma compilação de palavras ao vento, ou uma palestra de autoajuda. O evangelho não era uma aula secular sobre problemas do cotidiano apenas. As pregações de Jesus não eram discursos sobre abstrações. Pelo contrário, longe de tratar sobre coisas isoladas, o Senhor falava sobre as questões da vida presente e seu relacionamento com as coisas atemporais. Jesus não agia como um palestrante motivacional, Ele não era um animador de auditório.
As palavras do Senhor não eram ditas em um momento para ser esquecidas ou desprezadas logo depois. Jesus não era mais um mestre a ensinar coisas que seriam logo em seguida suplantadas pela renovação de conhecimento, ou alguma evolução científica. Não. O ensino de Jesus era doutrina. Paradoxalmente, o ensino de Jesus era o fundamento, o alicerce que vem do topo, o seja, o fundamento originado no céu.
Como já definido anteriormente, doutrina é um conjunto de ideias pertencentes a um sistema político, econômico, filosófico, sociológico, científico, religioso, etc. Doutrina é o que há de base, de alicerce sobre o qual se edificará um conhecimento. É o ensino desde os rudimentos, passando por conceitos mais elaborados, até chegar a uma postulação estruturada a ser defendida como tese, e por fim, passar a ser tida como fundamental.
Mas não no sentido pejorativo pelo meio do qual o mundo se refere ao fundamentalismo, por exemplo, religioso. Mas fundamental no sentido de essencial, de fundamento sem o qual não se terá base para prosseguir nas demais etapas a serem percorridas. E em se tratando de Reino de Deus, que é para o qual Jesus veio para nos preparar, a Sua doutrina é o fundamento sobre o qual precisamos nos sustentar para termos condições de edificar a nossa vida, segundo a arquitetura de Deus. É o essencial de que precisamos, sem o qual, o edifício construído está fadado à ruína.

Ensinava a doutrinar

O Senhor reservava espaço no seu dia para passar tempo extra com seus discípulos, sobretudo, com os apóstolos. E nesses momentos Ele repisava as verdades ditas às multidões. Muitas vezes Ele aproveitava para tirar dúvidas e responder perguntas que os apóstolos eventualmente tivessem. Mas é interessante observar que o grupo de doze apóstolos não era o único que acompanhava a Jesus. Além deles, ainda vários outros seguidores, entre eles mulheres, algumas delas de classe social elevada.
Foi desses outros seguidores, por exemplo, que os apóstolos escolheram o substituto do Judas que havia traído Jesus. Atos dos Apóstolos, capítulo 1. 21 – 25, conta como o novo componente foi escolhido para integrar o grupo dos doze. Mas observe que dentre os candidatos, Pedro deu como requisito, que o escolhido deveria ser alguém que tivesse andado com eles desde o início do ministério quando Jesus foi batizado, até ao dia em que o Senhor foi elevado ao céu.
Na ocasião da escolha do referido substituto, os apóstolos que não eram mais doze, mas onze, e não estavam sós. O texto diz que eles estavam reunidos em assembleia, e que dos presentes, a assembleia apontou dois homens, dos quais um seria o escolhido. Esses homens eram José, o Justo, também chamado de Barsabás, e Matias. Depois de um ritual de escolha, que envolveu até um sorteio, Matias foi honrado com o privilégio de passar a ser contado entre os doze. Portanto, a classe Especial, por assim, dizer, de Jesus, contava com muita gente. As multidões recebiam o ensinamento do Mestre tanto quanto estivessem dispostas a ouvir. Mas havia um grupo que caminhava com Cristo o tempo todo, absorvendo dEle o máximo que pudessem. O número pode ser maior do que se pensa. Voltando a Atos 1.15, vamos verificar que se tratava de aproximadamente cento e vinte pessoas o número de seguidores mais próximos de Jesus, seguidores que o acompanhavam o regularmente.
E é exatamente a esse grupo que Jesus se dirigia com mais frequência. Às vezes, somente os doze se acercavam de Jesus para fazer peguntas em particular. Mas outras vezes, esse grupo mais numeroso estava presente para ouvir mais do Mestre, fazer perguntas, satisfazer dúvidas, ou simplesmente ouvir as respostas que Ele dava para os apóstolos. A esse círculo mais abrangente pertenciam Matias e José, o Justo. Ambos possuíam o mesmo conhecimento que os demais apóstolos tinham recebido de Jesus.
E esse conhecimento extra foi mais uma vez dado aos apóstolos, e também a esse grupo maior. Repare que no verso 10 do nosso texto-base, quando Jesus encerrou a sua prédica, ficou só, e com Ele os apóstolos, e além dos doze, havia outras pessoas. Na versão que estamos usando (Bíblia Almeida Revista e Atualizada – ARA), diz: Quando Jesus ficou só, os que estavam junto dEle com os doze o interrogaram a respeito das parábolas. Veja que quem o interroga são “os que estavam jundo dEle com os doze” e não os doze propriamente.
Portanto, todos aqueles que quisessem aprender mais, tinham a liberdade de chegar até Jesus. No versículo 10 em questão, os demais discípulos o interrogaram, e Ele os respondeu, satisfazendo suas dúvidas. No texto-base, do verso 11 em diante, Jesus deixa claro que eles faziam parte dos “de dentro”, a quem era dado a conhecer os mistérios de Deus, ao passo que para os de fora, tudo era dito por parábola. Daí, a partir do verso 14 o Senhor passa a explicar a parábola, dando o significado de cada elemento, quais sejam, o semeador, a semente, os tipos de solo, além da capacidade da parte fértil de produzir quantidades diferentes para cada porção de boa terra.
Enfim, nos evangelhos o leitor vai identificar vários encontros do Senhor com seus discípulos, que trazem a Ele as suas interpelações, perguntas, curiosidades, dúvidas e sede de conhecimento. Por outro lado, vamos ver Jesus contemplando cada pergunta, respondendo a tudo e matando toda sede de sabedoria de Deus que esses discípulos apresentavam. É por isso, que depois que Jesus é elevado ao céu, os discípulos ficam reunidos, são revestidos de poder (Atos 1.8), e depois falam de forma intrépida, como em Atos 2, e vários textos do mesmo livro.
Em certa ocasião, em Atos 4, os apóstolos são levados diante do Sinédrio para responderem sobre sua pregação. Porém, não se deram por intimidados, pelo contrário, foram muito bem na defesa da sua fé e do seu ensino. Mas, ainda que tidos por iletrados, acabaram despertando a admiração até mesmo do Sinédrio, que diante da desenvoltura, só restava às autoridades religiosas reconhecerem que os apóstolos estiveram com Jesus (Atos 4.13). Ou seja, captaram o ensino do Mestre, desde os rudimentos até a mais elaborada postulação, de modo que não foram envergonhados. Que bom seria se todos os mestres da palavra pudessem instruir os discípulos de modo que pudessem se sentir seguros para defender a sua fé.


O semeador tem dinamismo V. 3


Muitas pessoas são chamadas para algum tipo de atividade, mas nem todas têm disposição para enfrentar os desafios previsíveis para o alcance dos objetivos propostos na tarefa. Quando diante de alguma coisa trabalhosa, há pessoas que dão todo tipo de desculpa para não assumir um compromisso. Fazem lembrar o preguiçoso de Provérbios 22.13. “Diz o preguiçoso: Um leão está lá fora; serei morto no meio das ruas”. São encontradas as justificativas mais esdrúxulas para se livrar da responsabilidade. Até o incomum é aventado para se esquivar do serviço. No interior, costumamos dizer dessa pessoa: Fulano não quer nada com a dureza.
Mas o semeador da parábola de Jesus é bem diferente. Ele é vívido, forte, ativo. É cheio de vitalidade e energia. O semeador tem ânimo e disposição. É alguém que está a postos para o trabalho. Ele é uma pessoa a quem se pode confiar a tarefa da semeadura certo de que será realizada. É um trabalhador com quem se pode contar. Não dá justificativas calculadas, nem desculpas esfarrapadas. Não. Uma vez incumbido, ele segue para o cumprimento da ordem a fim de honrar aquele que o arregimentou, bem como, garantir que é alguém que pode ser chamado ao trabalho outras vezes. Assim, o seu contratante tem a tranquilidade de que não haverá prejuízo nem atrasos por causa da desídia do funcionário. Esse semeador é alguém que participa do sucesso e da produção dos resultados.

O semeador vai a campo

Ainda no verso 3, observa-se que o verbo sair está conjugado no tempo verbal pretérito perfeito, na forma simples: saiu. Significa dizer que essa ação está acaba, concluída, terminada. Ou seja, é algo que aconteceu sem sombra de dúvida. Portanto, não se está a perguntar se o semeador vai sair, nem se está dizendo “quando ele vai sair”, mas ele peremptoriamente saiu. O semeador se deslocou, se movimentou, ele foi.
Mas esse semeador não saiu sem rumo, sem saber o que fazer. O texto diz que ele saiu a semear. O semeador partiu com uma incumbência certa, uma atividade definida, um trabalho determinado, uma tarefa a cumprir. Aqui não se trata de falta de opção do semeador, mas de compromisso dele com quem o incumbiu. Uma vez conhecedor da sua missão ele seguiu rumo à perseguição do objetivo a ser atingido. A semente tinha que ser depositada na terra, e ele tinha diante de si a seriedade do seu chamado. No caso, como o Mestre Jesus identifica a semente com a palavra de Deus, o semeador tinha consciência da urgência e da abrangência de sua missão de levar a palavra de Deus a um território e povo.
Por isso, o semeador saiu resoluto, com ânimo, sem perda de tempo. Afinal, a semente, que é a palavra, não pode esperar. Há pressa, há urgência. Há um vasto campo a percorrer, uma semente sadia a semear, um dia que está por findar, um trabalho por fazer. Quanto mais rápido for o semeador, mais produtivo o trabalho será. Pois, a semeadura precisa ser feita na estação certa.

O semeador semeia sem abrigo e sem perspectiva

O semeador saiu a semear, disse Jesus. Ele se movimentou. Deixou o conforto de sua casa. Não ficou da varanda assistindo os acontecimentos, mas ele foi. O semeador não limitou sua área de atuação a um barracão, nem a um local fixo. Ele não estava em uma linha de produção depositando sementes em montes de terra que passavam à sua frente em uma esteira.
O semeador saiu a enfrentar o sol, o distanciamento de sua casa. Ele enfrentou a escassez de recursos, como água, por exemplo. Sem nenhuma possibilidade de conforto, sem banheiro, sem sombra, para descansar, sem refeitório para se alimentar. Exposto às intempéries da natureza, lá se foi. Só havia uma coisa em sua mente: lançar a semente espalhando por toda parte. Não pensou sobre quais sementes frutificariam nem quais se perderiam, mas seguiu confiante.

O semeador não improvisa

Outro detalhe importante é que o semeador saiu a semear. Ou seja, ele não foi pego de improviso, não estava desprevenido, mas estava bem preparado. O texto diz que ele saiu a semear. Ele não foi ao banco ver se tinha dinheiro para comprar sementes, nem foi ao armazém para comprá-las, ele não foi selecionar os grãos para plantio. Não. Ele saiu pronto para a tarefa. Sua casa estava arrumada, sua refeição havia sido preparada, seu alforje estava cheio, o campo foi escolhido. Não havia mais preparativos. Então ele partiu. Uma vez designado, o semeador partiu em direção ao seu trabalho, deixando claro que o Dono da terra podia ficar tranquilo com um trabalhador aplicado e confiável.
Algo curioso sobre a atividade de semeadura àquela época, é que o semeador usava um arco parecido com um semicírculo. Ele então punha suas sementes ali e fazia movimentos fortes para lançá-las. Ele era destro com esse instrumento, de modo que o trabalho era feito sem demora, e todo o campo era alcançado pelas sementes. O uso desse arco, além de agilizar o trabalho, servia para garantir que as sementes não se acumulariam em um local apenas. Mas também havia o risco, como no caso da parábola, de sementes caírem em locais não tão próprios para geminação.


O semeador lança a mesma semente em vários tipos de terrenos


Dos versos 14 – 20, o Senhor esclarece o significado da semente, do semeador, e de cada tipo de solo contido na parábola. Como sempre, Jesus é direto, e diz que a semente é a palavra e o semeador é o pregador. Até aí sem mistérios. Mas o que chama a atenção é que no mesmo campo são vários os tipos de solos que recebem a semente. A beira do caminho, o solo rochoso, uma parte do solo com espinhos e por fim, a parte fértil e boa para a germinação da semente. Conhecendo isso, vejamos as considerações sobre cada uma dessas partes do campo.

A beira do caminho

O Mestre diz em Mar. 4.4, que um pouco das sementes caiu à beira do caminho. E vieram as aves e comeram as sementes. Já no verso 15, ao dar e explicação da parábola, Ele diz que a beira do caminho são aqueles que recebem a palavra, mas vem Satanás e logo a arrebata. Satanás vem rapidamente antes que a palavra tenha a menor possibilidade de vida. Mas vamos pensar um pouco sobre a beira do caminho.
Em tempos passados não havia tantas ruas construídas, as pessoas costumavam a passar pelo meio das lavouras para cortar caminho. Então passava uma, duas, várias pessoas. Algumas sozinhas, outras em duplas, trios e até grupos. Na maioria das vezes passavam a pé, outras vezes numa montaria, noutras vezes passavam com carroças. Não raras vezes passavam carregando algum peso, fosse a pé, montadas ou em carroças. Mas o fato que é quanto mais vezes a passagem fosse repetida, mais socada a terra ficava, e isso tornava aquele local bastante endurecido, capaz até mesmo de em uma eventual chuva formar enxurrada, pois, dada a dureza do solo, a água não infiltrava.
É óbvio que em uma terra endurecida a semente tem pouca chance, mas ainda que pouca, há esperança. Se antes das aves chegarem, cair a chuva por alguns dias logo após ser lançada, a chance da semente aumenta. Do contrário, por ficar exposta, as aves vêm e a arrebatam. Observe que Jesus diz no verso 15 que é Satanás que arrebata as sementes que caíram à beira do caminho. Nesse caso, as pobres aves são o símbolo da rapidez e precisão de Satanás. Não que as aves sejam más, neste caso são apenas uma simbologia mesmo. Mas o que vem a ser isso, Satanás arrebata as sementes?
Primeiro, enfatizando que Jesus não está comparando as aves a Satanás, mas ensinando que uma pessoa de coração endurecido deixa a palavra que recebeu exposta, sob risco de ser perdida. Aliás, o risco de perda é bem maior do que o de proveito. Assim, como a terra da beira do caminho que fica endurecida pelo pisoteio das multidões, igualmente é o coração que recebe todo tipo de influência. Uma pessoa que busca todo tipo de doutrina, todo tipo de ensino, filosofias, modismos religiosos e afins.
Alguém que se considera “mente aberta” e aceita qualquer coisa como verdade não vai dar o devido espaço para a palavra de Deus, que vai passar a ser só mais um ensino, uma filosofia de vida. São aquelas pessoas que irrefletidamente dizem: “Todos os caminhos levam a Deus”. Quando não, insensatamente dizem: Não há Deus (Salmos 14.1 e 53.1). E não se enganem, Deus existe e só há um Caminho para se chegar a Ele: Jesus (João 14.6). A verdade é que quanto mais ouvido se dá às influências, mais endurecido fica o coração. Aí, a tendência é perder a palavra. A beira do caminho é aquela parte da terra que precisa ser arada, preparada, afofada. Toda a dureza e resistência precisam ser removidas para depois lançar a semente.

O solo rochoso

A outra parte da semente caiu em solo rochoso (v. 16). Não se trata de um solo com pedras soltas. Isso em quase nada influencia, pois, não é problema para germinar, mas sim para colher. As pedras soltas têm boa quantidade de solo, na maioria das vezes fértil, ao seu redor e que permite a semente penetrar e germinar, porque oferecem profundidade suficiente. Eu mesmo me lembro de uma vez que fui com meu pai fazer um serviço chamado “quebrar milho”. Consistia em recolher o milho com um balaio, tirando espiga por espiga das plantas que estavam numa parte do solo que havia muitas pedras grandes e a colheitadeira não podia fazer o trabalho, porque batendo nas pedras podia quebrar.
Mas se reparar bem no que Jesus disse, esse solo rochoso tem uma lage abaixo da superfície. O subsolo é substituído por essa lage, essa é a razão dEle dizer que as plantas “não têm raiz em si mesmas”, por isso nascem prometendo progresso, mas quando o sol as aquece, a temperatura chega na parte rochosa e queima a raiz da planta, matando-a antes dela começar a florescer.
Essa parte simboliza a pessoa que recebe a palavra com alegria. Chega a ser vibrante. Rapidamente está falando a respeito das coisas de Deus. Mas daí chega a zombaria, as piadinhas, a perseguição o preconceito e a discriminação e a pessoa então desiste de Jesus e sua palavra. O texto diz que ela se escandaliza. Escandalizar em grego quer dizer tropeçar. Tropeços nos fazem cair, e cair nesse caso é voltar ao que era antes de receber a semente do evangelho. A pessoa assim cai da graça. Rapidamente essa pessoa que parecia ser tão fervorosa, se torna ela mesma mais uma escarnecedora. Ela não quer perder a simpatia das outras pessoas, as opiniões alheias são muito importantes.
Figurativamente, a saída é usar o arado, a picareta, e/ou outros instrumentos. Um trabalho de desgaste da lage do subsolo precisa ser feito, de modo a conseguir profundidade propícia para a semente resistir. Ainda que a lage não venha a ser removida totalmente nos primeiros trabalhos, a semente terá espaço para crescer de modo que a dureza abaixo da superfície não seja mais problema, porque a terra fofa vai oferecer a profundidade necessária. E com o tempo, a lage vai sendo tão enfraquecida que as raízes da planta poderão penetrar e se infiltrar na lage.

O solo contaminado com espinhos

Jesus prosseguiu na explicação, e no verso 18 Ele disse que ainda a terceira parte caiu entre os espinhos. É possível que nesse caso os espinhos não estivem à vista, mas ainda fossem sementes. Os espinhos estavam lá mas eram imperceptíveis. E assim, como na parábola do trigo e do joio em Mt. 13. 24 – 30, a boa semente cresceu com a erva má, e tão logo se tornaram plantas adultas, o espinho sufocou a boa semente e essa ficou infrutífera. O Senhor disse que essa parte representa as pessoas que recebem a palavra, mas as fascinações e as ambições concorrem com o amor à palavra, e essa pessoa fica tímida diante do seu círculo social.
A pessoa que se enquadra nessa condição, é aquela que ouviu a palavra, recebeu bem, mas não se envolve na fase do florescimento. A pessoa assim ainda dá muito valor ao que o material pode lhe oferecer ou render, ou ao que as outras pessoas pensam, enquanto a obra de Deus fica para depois. É importante observar que Jesus disse que a planta foi sufocada e ficou infrutífera, Ele não disse que a semente foi arrebatada, nem que a planta secou e morreu. A semente germinou e a planta gerada sobreviveu.
É dizer que a pessoa gosta da palavra, mas seu interesse está voltado para outra área que não a espiritual. Ela tem a palavra na memória, mas não a tem no coração, porque sua prioridade está em outras questões. Ela ainda está preocupada com o que comer, o que vestir, casa ampla para morar (Mt. 6.25). Ela ainda ouve conversas inconvenientes e a opinião de outras pessoas sobre as coisas de Deus, e não a opinião do próprio Senhor sobre ela. Se faz necessário remover os espinhos que estão em volta dessa planta para que ela possa receber a luz do sol, bem como, desfrutar dos nutrientes da terra. É trabalhar para que a pessoa que se encaixa nessa definição deixe de se envolver com as coisas temporais que tiram o lugar do que é eterno.
Figurativamente, significa que essa pessoa precisa ser levada a dar valor ao que realmente importa, que é “Buscar o Reino de Deus e sua justiça” para que todas as outras coisas sejam acrescentadas” (Mt. 6.33). A palavra precisa ser não apenas inculcada, mas também vivida. O que alguém nessa situação precisa é de experiência. Pois, ela tem tudo no plano intelectual, mas nada no coração. Algo na inteligência, nada na vivência. Sabe algumas coisas sobre Deus, mas não sente quase nada Dele.

A boa terra

Por fim, o Senhor falou sobre a parte das sementes que caiu na boa terra. Finalmente o trabalho recompensa. O texto diz que um grupo de sementes produziu a trinta por um, outro grupo a sessenta e outro a cem por um (Vv. 8 e 20). É uma boa notícia em vista das decepções em relação ao restante da terra semeada. E é interessante que o mesmo tipo de semente e que tinha igual qualidade e foi lançada no campo todo. Mas até na parte fértil havia diferença de produção. O resultado, embora animador, não foi o mesmo para toda a extensão de boa terra. E o que pode ser tirado de lição sobre essas porções de boas terras?
Se olharmos para os frutos, podemos nos trair e nos contentar com o fato de que uma semente que se multiplica por trinta é melhor do que uma semente nada produz. Não que não seja melhor, mas não se encerra aí toda a verdade contida no significado das coisas. Portanto, se pensarmos um pouco mais, se irmos mais além, veremos que em se tratando de semente da mesma qualidade lançada ao solo fértil, podemos considerar o fato de que as frações do solo não possuem o mesmo adubo, não têm a mesma quantidade de nutrientes para recepcionar a semente e dar a mesma produção.
Apesar de o texto não explicitar esse pensamento, fica o convite para se pensar no potencial reprimido de cada fração de solo produtivo. Por que o Senhor menciona que uma parte das sementes produziu a trinta, outra a sessenta e outra a cem por um? Seria simplesmente para nos dizer qualquer coisa? Certamente que não. Se para o agricultor, quanto mais a terra produzir, mais lucrativa é, quanto mais importante é para Jesus que o potencial de cada pessoa seja colocado à sua disposição para o crescimento do seu Reino.
Não é para as pessoas ficarem satisfeitas com o que estão fazendo para Deus. Também não se trata de querer se apropriar dos dons espirituais de outra pessoa. Não, os dons são distribuídos pelo Espírito Santo para o que for útil (1º Cor. 12.7), de modo que nenhum dom é dado para satisfação própria, ou orgulho pela posse. A questão é que cada um deve empregar o dom que recebeu com responsabilidade, zelo, temor, com vistas a honrar do Reino de Deus, visando a edificação da igreja, aperfeiçoamento dos santos e desenvolvimento da obra e ministérios (Efésios 4.12).
É verdade que cada um deve fazer o que Deus determinou em tipo de tarefa. Além de não se ter a imprudência de enterrar os talentos para não ficar em débito com o Senhor e perder tudo como o servo relapso da parábola dos talentos, (Mat. 25.18, 25 e 29), é preciso fazer ainda muito mais. Conforme Paulo instruiu a Timóteo, seu filho na fé, devemos despertar o dom que há em nós para que sem temor, pelo contrário, testemunhando sem nos envergonhar do evangelho de Jesus, (2ºTim. 1.6 – 8), façamos conhecidos de todos: as obras, as maravilhas, a salvação e o poder de Deus. É para isso que recebemos a semente do evangelho, da palavra do Senhor.
Portanto, ninguém pode ficar satisfeito só porque deu algum fruto. Cada um deve buscar saber qual é o real alcance do seu dom, de modo que não haja prejuízo para o Reino de Deus em função da negligência para com a obra Dele. É necessário ter em mente que os dons são exercitados para o crescimento de todos, proveito da obra de Deus, mas nunca deve ser exercido para desencargo de consciência.

Semeia em toda a terra com a mesma confiança

Mais uma vez repetimos que o semeador saiu a semear. Ele não saiu escolhendo em qual canto do campo deveria ser lançada a semente. Sua missão era semear. Alcançar cada pedaço daquele chão, dar a mesma chance para cada espaço apresentar a sua vocação. Ele não estava focado em descobrir eventuais frustrações, mas no cumprimento de sua missão. O campo estava à sua frente, a semente em suas mãos. Nem a terra nem a sementes lhe pertenciam. Por isso, ateve-se ao seu trabalho, o qual ele fez em paz, com toda crença.
Por acaso seria isso algum descaso com o valor da semente ou da qualidade do campo e do solo? Não. Mas tratava-se da urgência para a semeadura. Lá se foi o semeador para o cumprimento do seu trabalho. Ele sabia que a germinação, o crescimento e a frutificação não dependiam do seu esforço, mas da graça de Deus. Portanto, longe de ser negligente, ele foi confiante na provisão de Deus. Até hoje é assim. Ao semeador cumpre plantar, apesar de todas as tecnologias disponíveis, sementes resistentes, defensivos agrícolas e tudo mais, o desenvolvimento da planta continua dependendo de Deus. Mesmo com todo o aparato desenvolvido pelo homem, ainda tem insetos e outras pragas que podem atacar a lavoura.
Não é à toa que existe seguro para a plantação. O risco de perda existe, porque o homem não pode controlar tudo o tempo todo. Por mais que tente, que se esforce, que se previna, jamais poderá deter todas as previsões. Vai continuar dependo do clima, sobre o qual Deus possui o governo. O semeador da parábola tem ciência disso. Não possuía tecnologia para se precaver, não podia controlar os resultados, não podia contar com nada além da ação de Deus. Só tinha que seguir firme no propósito da sua incumbência, usar todo o espaço agricultável possível, fazer o que lhe competia e deixar o resto com o Senhor da seara.

Retorna para ver os resultados


Na parábola, o texto informa que nos versículos 4 – 8 de Marcos 4, as sementes caíram em diferentes partes do campo, cada qual com sua particularidade. E depois, nos versos 15 – 20, o Senhor apresenta a explicação da parábola. Tanto no primeiro quanto no segundo conjunto de versículos, são mencionados os grupos de sementes e os locais onde elas caíram. Mas não só isso. Sobretudo, nos versos 15 – 20, é falado sobre a situação em que cada grupo de sementes se encontravam.
Recapitulando, uma parte caiu à beira do caminho e foi arrebatada pelas aves, outra parte caiu nos pedregais e morreu quando atingiu o máximo de profundidade naquele local que não era propícia para mantê-la viva. A terceira parte cresceu entre os espinhos e acabou sufocada, porque os espinhos a suplantaram, e por isso ela ficou infrutífera, apesar de viva. E por fim, a quarta parte produziu, ainda que de maneira disforme, mas produziu.
As constatações feitas pelo semeador, conforme acima descritas, deixam claro que ele não era negligente com seu trabalho. Cada resultado obtido foi fruto de observação. Para conseguir saber o destino de cada parte daquelas sementes, ele revisitou o campo semeado em cada fração de terra. Não foi uma mera passagem pelos espaços semeados. Houve investimento de tempo nessa revisitação. O semeador fez um trabalho de experimentação para descobrir o motivo de uma plantação apresentar-se tão disforme. E ele não esteve de volta ao campo apenas uma, mas várias vezes, a ponto de conseguir fazer um trabalho de reconhecimento de cada situação.
Por exemplo, para saber que as sementes que caíram à beira do caminho foram comidas pelas aves, ele parou para observar o movimento do local. O caminho era usado por pessoas, mas ele viu também que aves pousavam à beira do caminho. Só depois de notar essa movimentação de aves é que ele concluiu que elas levaram as sementes que ficaram na superfície. Essa observação foi na primeira revisita que ele fez ao campo todo, ocasião em que ele viu que havia as sementes que germinaram.
Mas ele também viu a parte das sementes que morreram porque secaram-se com o aquecimento do sol. Ou seja, conclui-se que ele passou novamente no campo. Na primeira vez ele viu que as sementes estavam brotando em todas os cantos daquele campo, exceto a beira do caminho, que como sabemos não tinha mais sementes. Na segunda passagem ele observa que havia plantas mortas. Na passagem anterior elas estavam vivas e crescentes, mas agora estavam secas e mortas. O verso 5 diz que essas plantas não encontraram profundidade, suas raízes não se fortaleceram e por isso morreram. E como o semeador soube que essas plantas não tinham profundidade e suas raízes não se desenvolveram? Porque ele fez uma escavação e investigou o solo, quando então descobriu que havia uma lage naquele local coberta por uma camada de terra pouco espessa para dar planta resistente. Foi aí que ele soube o motivo da morte daquelas plantas. Nesse segundo retorno pelo campo ele viu que as demais plantas estavam se desenvolvendo. Assim, foi necessário voltar em tempo oportuno para ver a produção.
A partir daqui, pensamos em uma nova visita ao campo, desta vez, no período de frutificação. Então, ele observou que parte do campo não apresentava frutos apesar de possuir plantas vivas. Quando foi examinar, viu que se tratava de uma porção das sementes que havia germinado e crescido junto com os espinhais. Mas os espinhos se desenvolveram mais rápido que a boa semente e sufocaram as plantas que deveriam dar fruto (v.7). Porém, ele constatou que as plantas boas, mesmo não produzindo estavam vivas. E qual seria o trabalho a fazer neste caso? Remover os obstáculos, no caso, os espinhais. Assim, as plantas poderiam ficar com os nutrientes para si, receber luz do sol suficiente para se desenvolver, e por fim, produzir.
Enquanto isso as outras áreas daquele campo apresentavam plantas com produção. O semeador, possivelmente na mesma revisita, logo após observar as plantas em meio aos espinhais, percebeu que uma porção de sementes caiu em boa terra, e essa teve uma produção satisfatória. Ele examinou as plantas e viu que cada uma produzia mais que as outras. Como diz o texto-base, umas produziram a trinta, outras a sessenta, e finalmente, uma parte produzia a cem por um.
O texto não diz se eram porções diferentes de boa terra, ou se as plantas estavam misturadas entre si, ou seja, na mesma parte da terra as plantas produziram em quantidades variadas, ou melhor, na mesma fração de terra, três produções. Mas é perfeitamente possível depreender que se tratava de espaços variados da boa terra, por que as sementes eram de mesma qualidade, não justificando, portanto, que umas dessem resultados quantitativos alterados em relação a outras. Pois, sendo o mesmo tipo de semente, teriam que produzir igual. Assim, a adubação poderia ser o problema. Seria o caso de fortalecer a boa terra de forma parelha para que não houvesse resultados díspares.


O relatório das perdas, frustrações e sucessos diferenciados


Como vimos no tópico anterior, o semeador revisitou o campo. Ele fez observações diligentes em cada situação apresentada na parábola. Apesar de não haver essa menção no texto bíblico, o Senhor não precisa pormenorizar, pois, essa deveria ser uma conclusão óbvia. O semeador não escolheu qual a parte do campo receberia sementes. Como citado anteriormente, o seu instrumento de semeadura tinha um formato de arco, uma espécie de semicírculo, com o qual o semeador lançava as sementes. O semeador viu onde cada porção de semente caiu. Por isso ele teve a precisão em cada análise que fez.
Como ele sabia exatamente onde as sementes caíram, foi nas suas revisitas, observações e exames que ele constatou a perda das sementes que caíram à beira do caminho. Ele soube que se tratava de aves, não por mera dedução, mas por ter investido tempo para entender a razão dessas sementes não terem germinado. De igual forma ele viu as plantas mortas, e por sua diligência e esforço, fez a análise do terreno e as escavações necessárias. E fez constar do seu relatório o que foi que deu errado para que plantas antes vistosas, ficaram secas. Eram promissoras, mas agora, sem vida.
Ao continuar sua análise, ele não se permitiu enganar pelas aparências, mas foi em cada canto da lavoura e verificou como cada planta viva se comportava. O fato de estarem verdes, não era suficiente. Ele viu de perto cada porção. Foi assim, que no relatório constou a existência de plantas vivas, mas sem produção, desnutridas e mal desenvolvidas. Que elas poderiam dar algum resultado, mas estavam miradas em relação às outras.
Por fim, em seu relatório ele identificou que o trabalho teve sucesso. Mas que o potencial das sementes não foi alcançado de forma equânime. Algumas sementes germinaram plantas que apresentaram boa produção, outra parte, um produto melhor, e a terceira porção, trouxe um resultado estrondoso. Se a semente era a mesma, e não havia os fatores espinhos, lages, e aves que as arrebatassem, qual seria o motivo de resultado tão variado? Ao que parece, a resposta é óbvia; as porções de terra não apresentavam o mesmo potencial para o desenvolvimento das plantas. O problema só poderia ser alguma deficiência de nutrientes.
Uma vez identificado o problema de cada pedaço daquela propriedade agrícola, as questões levantadas precisavam ser trabalhadas. É pouco razoável, para não dizer irracional, acreditar que o Senhor proferiria uma parábola com tantos detalhes, citando os problemas detectados, para deixar tudo do mesmo jeito. Mesmo sabendo que nem todos os espaços da terra dariam frutos, a terra dura precisava ser revirada, as rochas removidas ou aprofundadas, os espinhos retirados e queimados e o adubo na terra precisava ser redistribuído em toda a sua extensão.

Considerações


Como discípulos de Cristo, somos semeadores da semente do evangelho. Não podemos acreditar que semear dentro da igreja atende aos requisitos da semeadura. Aliás, na igreja se deve fazer o doutrinamento pela palavra. Ao passo que precisamos estar em movimento no campo missionário e sair a semear. Devemos lançar a boa semente sempre, sem medir a receptividade. A boa semente é o evangelho, que dever ser pregado sem acepção de pessoas, no terreno dos corações. Não se seleciona quem deve ou não, ouvir o evangelho.
Como semeadores da boa semente, não podemos agir de improviso, mas devemos ter nosso alforje cheio de sementes. Precisamos estar o tempo todo preparados para o desafio da semeadura. Para tanto, devemos ter sempre uma palavra de evangelismo e a atenção voltada para cada oportunidade que se apresentar. O alforje cheio e o manejo da semente deve ser a preocupação constante do semeador. O ânimo também deve ser permanente.
Depois de efetuada a semeadura, os campos semeados devem ser revisitados para se saber o resultado do trabalho. As eventuais frustrações devem ser identificadas com discernimento, objetivando trabalhar a terra, revirando se necessário, escavando se for preciso, removendo espinhos que atrapalham, e refazendo o trabalho de semear. Para isso, a revisita dever ser um cuidado permanente.
Pode ser que alguém discorde que se deve retornar, refazer o trabalho, insistir com cada público alcançado, “revirar a terra”, retrabalhar as situações. Mas quando Jesus menciona as perdas e sucessos das sementes, bem como, as características das porções de terras, não foi à toa, pois, as constatações foram feitas ao se retornar na terra semeada. E certamente Ele espera que algo possa ser feito para reverter cada situação da parábola. Ele não fazia discurso pelo discurso. Assim, o discipulado deve suceder a evangelização, sempre que possível, pelo próprio evangelizador. Não sendo possível, passe para outra pessoa, mas não se abandona o campo à própria sorte.
Na metáfora da parábola, só se sabe dos sucessos e fracassos quando se acompanha o desenvolvimento da semente lançada. Assim, esta parte se encerra com um desafio a você, semeador. Prepare-se, revisite, e refaça o trabalho se for necessário. Embora você não seja o responsável por fazer crescer uma planta, a tarefa de plantar e regar é dos discípulos, e Deus dará o crescimento (1º Cor. 3.7). Não negligencie, os frutos virão.

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