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A última chance?

Por Sergio Aparecido Alfonso

E propôs-lhes uma parábola, dizendo: A herdade de um homem rico tinha produzido com abundância; E arrazoava ele entre si, dizendo: Que farei? Não tenho onde recolher os meus frutos. E disse: Farei isto: Derrubarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades e os meus bens; E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus. (Lucas 12.16-21).

Tem uma coisa reservada ao mistério: Quando acaba meu tempo aqui nesta vida? Algumas pessoas não se fazem essa pergunta, e por isso gastam a sua vida correndo atrás da estruturação da carreira profissional; cursos profissionalizantes, curso superior, especialização, mestrado doutorado, cursos técnicos, de aperfeiçoamento e por aí vai. Outras pessoas preferem viajar para o máximo de lugares possível; conhecer tudo o que puder: culturas diferentes, comidas exóticas, climas diversos. Há quem esteja correndo atrás da tão sonhada independência financeira. E ainda, quem busca o lazer, os esportes, as aventuras, as diversões em geral. Interessante que muitas dessas pessoas protelam a formação de família, e se são casadas, deixam para ter filhos depois de ter conquistado tudo o que se propôs. Mas o que mais chama a atenção é o fato de que a busca por Deus não faz parte dos planos de grande parte delas. 
Se alguém que se aplica ao conhecimento, à profissão, à aplicação financeira, ao lazer, ou simplesmente ao ócio, disser que não está preparado para ter família e filhos, tudo bem, é compreensível. A justificativa é boa. Dizem eles que não podem cometer uma irresponsabilidade para com outras vidas. Se estiverem sendo sinceros, não teria problema. É lícito sentir e demonstrar altruísmo quando se trata de algo tão sério. Vivemos numa época em que não se pode fazer as coisas por reflexo, ou apenas assumir um compromisso para agradar a opinião de alguém. Tudo está muito difícil e instável, as coisas não se "ajeitam" mais com o tempo. Mas muitas vezes o argumento retro é uma falácia que se propaga para tentar esconder uma vida de egoísmo, narcisismo, enfim, uma vida que só tem lugar para o eu, onde o outro é um intruso. 
Porém, ainda que queiram esquivar-se de compromissos com outros seres humanos; que aleguem que não podem corresponder à dependência que uma família teria de si, fica uma pergunta: O que leva uma pessoa protelar o seu relacionamento com Deus? É verdade que nossos dependentes (ou às vezes nem tão dependentes) podem passar por provações e/ou privações ao nosso lado, ou sofrer com nosso estresse de um dia ou outro. É comum que chegue um momento que em função da carga de responsabilidades, todo mundo acaba se esgotando, vindo a descarregar suas frustrações em quem não merece. Pode ocorrer.
Mas com Deus é diferente. Além de Ele não depender de nós para nada, pelo contrário, nós dependemos dele para tudo, Ele ainda é a nossa válvula de escape. É para Deus, em oração, que devemos contar tudo: Nossas dores, nossas frustrações, nossas desavenças, nossas decepções em geral. É para o Senhor que podemos abrir o nosso coração, e às vezes, até gritar diante das dificuldades. Ele vai nos ouvir atentamente, vai nos aliviar do nosso fardo (Mateus 11.28). Então, para que deixar Deus para depois?
O homem da parábola de Jesus, no nosso texto-base, era uma pessoa preocupada em ajuntar recursos. Talvez ele fosse alguém acostumado a bater recordes de produção, e já tivesse destruído os silos várias vezes. Mas nesta ocasião, ele teve uma safra muito grande. O verso 16 diz que a herdade, ou seja, a terra que pertencia ao homem, produziu em abundância. Abundância é sobra, excelência, excedente, acúmulo, entre outros sinônimos. Ou seja, esse homem teve uma colheita estrondosa, que ultrapassou os limites da capacidade dos seus silos, como o próprio texto diz (v.18), e por isso ele tinha muito a acumular para seu bem-estar.
Sendo certo é que o produtor conquistou a sua independência financeira, ele finalmente sossega. Mas ele não está pensando na aposentadoria. Ao verso 19 ele diz que tem muitos bens, para muitos anos. Sua colheita vai durar por muitos anos, mas depreende-se que ele pretende voltar e juntar mais. Por hora, ele diz para a sua alma: descansa, come, bebe e folga. Ele quis dizer que agora ia desfrutar, se dedicar ao ócio por um tempo, e viver da sua fartura. Não consta que ele fosse repartir com alguém. Mas ele tem alguns problemas atemporais não resolvidos. Ao verso 20, Jesus disse que Deus chamou aquele homem de louco; que a alma dele seria pedida, e o que foi colhido ele nem sabia para quem ficaria, o certo é que ele não desfrutaria. 
Jesus disse ao verso 21, que o fim daquele homem era o de quem buscava a riqueza material, mas se esquecia de cuidar da vida espiritual. O homem não pensou na sua eternidade. Ele fala consigo sobre o quanto tem, mas nada de agradecimento a Deus, nenhuma dedicação, sem lembranças do Criador. Então vamos aos problemas que estão nos versos 20 e 21: Louco - Essa é uma designação usada na bíblia para se referir à pessoa falta de entendimento a respeito de Deus. No caso, o homem levou a sua vida como alguém de pouca capacidade mental para compreensão da implicações espirituais, por isso ele ignorou Deus. Ele está perfeitamente enquadrado no Salmo 14, verso 1, Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não há ninguém que faça o bem. Uma vida perdida pra o egoísmo e para a vaidade é uma loucura. O fazendeiro gastou a sua existência sem tomar conhecimento de quem era Deus. Além disso, o dono de terras recolhe sua colheita no celeiro e em seguida pronuncia descanso, folga, e fartura. Mas no seu discurso só tem lugar si. Não há menção em fazer o bem a ninguém mais, nem mesmo de dedicar o dízimo de sua colheita.
Mas, o tempo acabou. Hoje - O Senhor disse que no mesmo dia que fez o seu discurso triunfal, o homem morreria. É o que significa pedirão a tua alma. Esse produtor rural que passou seus dias guardando coisas para seu próprio deleite, recebeu a sentença da qual o Senhor não voltaria atrás. Chegou o fim, sem prorrogação. Não há a quem recorrer depois que Deus decreta o fim. Pedirão a tua alma - Deus não disse: hoje venho buscar a tua alma; mas disse que terceiros pedirão a alma daquele homem. Pode imaginar o que isso significa? Se assuste mesmo, porque se trata do diabo e seus anjos caídos. Podemos concluir que o destino daquele agricultor era a perdição eterna, também chamada de inferno. Jesus comparou esse homem com aqueles que são materialmente ricos, mas espiritualmente pobres (v.21). Estava em débito com Deus e sem tempo e recursos para pagar. Aliás, é o tipo de dívida impagável, que só pode ser quitada com o perdão de Deus.
Tem muita gente como o homem da parábola acima. Talvez um magistrado, um membro do ministério público, quem sabe um parlamentar de prestígio, um presidente. Pode ser um alto funcionário do poder executivo, ou um executivo de uma grande empresa. Talvez um trabalhador comum mesmo, que vive desfrutando do que consegue a cada semana, mas cercado de amigos que gostam das suas brincadeiras, da sua hospitalidade. Não importa a posição, profissão ou papel social que a pessoa tenha ou ocupe; o seu prestígio, a sua popularidade, seus bens, seu capital, seu alto salário, seja lá o que for. Nada do que se julgue importante deve tomar o tempo e o lugar de Deus. Jesus disse em Mateus 6.33, Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não importa se você é rico ou pobre, com grande capital de influência, ou um comandado; se é famoso ou anônimo, culto ou iletrado. Tanto faz quem você é ou onde está na pirâmide social. O que importa é onde Jesus está na escala de prioridade em tua vida.
Em Hebreus 3.7, 8 o autor diz que o próprio Espírito de Deus alerta da seguinte forma: Portanto, como diz o Espírito Santo: Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação, no dia da tentação no deserto. Esses versos se remetem ao dia em que os israelitas rejeitaram a terra que o Senhor Deus deu a eles. Por isso, eles foram rejeitado por Deus e todos os que tinham de 20 anos para cima, porque se rebelaram contra Deus, o rejeitando, morreram no deserto e não entraram em Canaã, a terra prometida para seu descanso. Que triste será para aquele que tendo tempo de buscar a Deus, as coisas do Senhor, a sua obra, as benção quem vêm dEle, prefere deixá-lo para depois, até que depois vira nunca mais. 
Se hoje, Deus te perguntasse: o que tens guardado, para quem será, o que você responderia? Talvez você dissesse: Só tenho uma esposa e um filho, tudo o que tenho, caso me aconteça algo, será deles. Quem sabe você tem nada material para deixar, e por isso conclua, não tenho preocupação com briga por bens quando eu morrer. Se você é como aquele homem que passou a vida entesourando para si, mas não sendo rico para com Deus, esqueça as coisas materiais. Não é disso que estamos falando. Algumas questões a se considerar são: O que você tem feito, o que você lutou para ser, para onde irá, para o céu, ou para o lago de fogo que nunca apaga? A pessoa na qual você se tornou, e a forma como tens levado a tua vida espiritual, despertam o interesse de Deus, ou daqueles outros que pedirão a tua alma? E caso alguém peça a tua alma, o Senhor a dará, ou a negará porque a tua alma já está reservada para Deus? 

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