Texto-base
João 20. 19 – 29.
Introdução
O
nome de Tomé aparece 12 vezes na bíblia. Todas elas, no Novo
Testamento, e sempre que este nome aparece, se refere à mesma
pessoa. Tomé é aquele personagem bíblico que todos conhecem. Até
mesmo quem nunca leu a bíblia já ouviu falar dele. Infelizmente ele
não é conhecido por feitos épicos, por grandes manifestações de
poder nem por alguma iniciativa brilhante.
Tomé
é o símbolo de pessoas que precisam de algo concreto e papável para crer. O costume popular diz que quem tem dificuldade para crer,
é uma pessoa com a fé do apóstolo Tomé: É ver para crer. A
alegada dúvida do apóstolo, ou falta de fé, já foi falada até em
música. Mas será que quando nos referirmos a Tomé, vamos enxergar
só dúvida? O apóstolo não tem nada a nos ensinar sobre crer em
Jesus? É justo lembrarmos do apóstolo apenas como alguém que
caminha pela vista? Vamos refletir um pouco sobre suas participações
na bíblia e tentar nos despir de determinados conceitos, ou preconceitos.
A
primeira vez que Tomé aparece nos relatos bíblicos, seu nome está
sendo citado no rol de 12
escolhidos por
Jesus. Ele é chamado pelo Mestre pessoalmente. Esse chamado está em
Mateus 10.3, Marcos 3.18 e Lucas 6.15. O
seleto grupo ao qual Tomé integrou era de apóstolos, cognato
português da palavra grega, apostolos,
e em hebraico shaliah. Para
ambos, a tradução é enviado, delegado,
comissionado, embaixador, entre
outras. Trata-se de alguém enviado para uma missão. Segundo LOPES
(2014), essa palavra já era usada em tempos antigos antes da
aplicação feita por Jesus. Nos
escritos gregos, por exemplo, designava alguém que partia em
expedição marítima.
Mas
em relação ao poder de Deus, Tomé o enviado junto aos doze não era neófito, nem tão
descrente assim. Ele era um dos comissionados de Jesus, e no verso 1 de
Mateus 10, Jesus deu “autoridade
para
expelir
espíritos imundos e para curar toda sorte de doenças e
enfermidades”. Ou
seja, ele foi escolhido para experimentar e
manifestar o
poder de Deus. Os
versos 14 e 15 de Marcos 3 têm a mesma essência, autoridade e poder
para Tomé e os demais. Em Lucas 6.12, o texto diz que Jesus passou a
noite em oração para nos versos seguintes escolher os 12 apóstolos
dentre os seus discípulos. Então,
Tomé foi escolhido apóstolo de Jesus como fruto de oração do
Mestre.
Os
apóstolos, entre eles, Tomé, obviamente, andavam com Jesus. Tudo o
que acontecia eles observavam, todas
as palavras dirigidas a Jesus eles ouviam. Entre
outros episódios, em João 10. 22-42, durante a Festa da Dedicação,
Jesus foi novamente ameaçado. Isso ocorreu no templo, quando o
Mestre caminhava pelo alpendre de Salomão. Seus
discípulos o acompanhavam nesse
evento, e logicamente presenciaram as ameaças, que desta vez foram
graves, conforme se observa no verso 31 quando os judeus pegaram em
pedras para o atacar. No verso 39, outra vez tentaram prender Jesus,
mas ele se desvencilhou deles. A tudo isso, Tomé e os demais
presenciaram e prestaram atenção.
Passados
esses acontecimentos, Jesus e os apóstolos estavam fora da cidade,
mas não muito longe do povoado de Betânia, onde viviam Lázaro e
suas irmãs, amigos de Jesus. No capítulo 11 de João é narrada a
situação de Lázaro, que enfermo, beirava a morte. Avisado, Jesus
se propôs a ir até a aldeia, em que pese se demorasse para seguir
ao local. Ao
verso 8, os discípulos lembram ao Senhor que os judeus tentaram
apedrejá-lo. Só
para constar, Lázaro morreu e Jesus o ressuscitou quatro dias
depois.
Mas,
como
Jesus
estava
irredutível
e
ia para a aldeia de Betânia,
Tomé, ao verso 16, conclama os discípulos para
acompanharem o Mestre, mesmo
sob risco.
De forma aparentemente pessimista ele prevê a morte de todos, mas em
tom de devoção e lealdade, ele declara que todos deveriam
acompanhar o Senhor Jesus. Assim, mesmo com visão fatalista, ele
demonstra coragem e fidelidade ao seu Mestre e
de forma decidida é o mais resoluto entre eles para seguir com Jesus
para Betânia, ainda
que enfrentassem a morte.
Que
Tomé apresentou comportamento de pessoa incrédula, isso não se
pode negar. Não só ele confessa isso, ao dizer em João 20.25 que
precisaria tocar nas feridas para crer que Jesus havia ressuscitado,
como no verso 27 o Senhor o repreende dizendo que ele deveria ser
crente e não incrédulo. Mas podemos considerar ao menos três
passagens que mostram outras pessoas demonstrando incredulidade
também. Neste mesmo capítulo 20, versos 1 e 2, mostram que Maria
Madalena foi ao sepulcro e o encontrou aberto, e em seguida foi ao
encontro dos discípulos e contou as novas.
O
interessante é que eles não se dão por satisfeitos com a notícia.
O comportamento deles não foi o de fazer uma grande festa por causa
da notícia de que o túmulo estava aberto. Mas deveriam ter
festejado, era sinal de que o Mestre ressuscitou. Ele mesmo havia
dito que morreria mas ressurgiria ao terceiro dia, e aquele era
precisamente o tempo certo. Mas o texto diz que dois dos discípulos
saíram correndo até o local para constatar. Um chegou primeiro que
o outro. Eram João e Pedro. Pedro é citado nominalmente e o outro
discípulo era “aquele a quem Jesus amava” (verso 2) que
tradicionalmente é João.
João
chegou primeiro, olhou para dentro do sepulcro, viu os lençóis, mas
não entrou. Depois chegou Pedro, entrou e observou a cena.
Importante observar que Pedro entrou, e só então depois João
entrou e acreditou. O verso 8 diz, à parte final, que o “outro”
discípulo também entrou, e viu, e creu. Portanto,
João e Pedro também precisaram ver para crer. Se não viram Jesus,
ao menos precisaram buscar pistas.
Outro
exemplo de incredulidade é Maria Madalena. Apesar de dar a notícia
do sepulcro aberto para
os apóstolos, ela retorna e
continua aos prantos à entrada do túmulo. Nos
versos 12 e 13, ela viu os anjos enviados ao sepulcro, conversou com
eles, mas não teve os olhos da fé abertos. Nos versos 14 e 15, ela
vê e fala com Jesus, ouve uma pergunta do Senhor e até confunde
Jesus com o jardineiro, mas não o reconhece. Ela chega a pedir-lhe
onde Ele
teria depositado o corpo de Cristo. Por fim, ao verso 16 Ele a chama
pelo nome, quando ela então se refere a ele como Mestre, para no
verso 17, ser declarado que ela o reconheceu. Esse
é nosso segundo exemplo de
incredulidade.
O
terceiro relato de olhos da fé obstruídos é
dos dois discípulos a caminho de Emaús (Lucas 24.13-35). Eles
seguem desolados comentando a respeito dos acontecimentos sobre a morte de
Cristo, até que são alcançados por Jesus. Ele demonstra interesse
e é até censurado por eles porque “ignorava”
os últimos acontecimentos (v.18). Ele pede para que eles façam
exposição dos acontecimentos, eles assim falam sobre a morte do
Senhor e dos testemunhos da ressurreição, mas ressaltam que os
discípulos que foram ao sepulcro para conferir, não o viram (v.24).
Em seguida, Jesus faz uma exposição das profecias a seu respeito, à luz das Escrituras.
Depois
dessa conversa, ao chegar na aldeia, o Senhor faz menção de seguir
em frente, mas é convidado a se hospedar com eles, tendo em vista o
horário avançado (v.29), Ele aceita. Eles deram a Jesus a honra de
orar e partir o pão, e conforme ele procedeu, os seus olhos se
abriram (v.31). Eles ainda falam sobre a chama que se acendia em seus
corações enquanto o Mestre expunha as Escrituras. Mas eles foram
mais um exemplo de pessoas que acompanharam Tomé na sua
incredulidade, porque caminharam com Jesus, falaram com ele e ouviram ele falar, mas não o reconheceram. Os olhos da fé estavam fechados. Se os exemplos acima não fossem suficientes ainda temos o texto de Marcos 16.9-14, que narra a incredulidade dos discípulos diante de dois episódios da mensagem de ressurreição de Jesus. No verso 10 eles ainda choravam a morte do seu Mestre, no verso 11, Maria Madalena conta que Jesus ressuscitou, mas eles não creram. No 12 Jesus aparece aos discípulos que iam para Emaus, eles retornam e contam para os demais sobre a aparição do Jesus ressuscitado, mas no verso 13 consta que nem assim eles acreditaram. Foi preciso, conforme o verso 14, Jesus aparecer pessoalmente para eles, ressuscitado, para que eles acreditassem.
IV.
Finalmente Tomé crê
Como
pudemos ver acima, Tomé foi um apóstolo fruto de oração. Recebeu
autoridade para expulsar demônios, curar enfermos e pregar o
evangelho. Em que pese toda essa honra, quando Jesus ressurgiu
e
se manifestou aos discípulos, Tomé não estava naquele culto da
vitória e por isso não viu Jesus ressurreto. Essa
ausência custou-lhe o privilégio de acreditar de imediato na
ressurreição do Mestre. Perdeu o culto, faltou a fé. Mas como
vimos nos casos anteriores,
ele não estava só na sua incredulidade.
Dos quatro relatos que constam acima, num deles, os discípulos ouviram
a notícia do túmulo aberto,
mas
precisaram ir até o local encontrar
as vestes arrumadas, para
só depois disso acreditarem. E
nos outros três relatos, Maria Madalena e os discípulos do caminho
de Emaús, viram e conversaram com Jesus, mas não o reconheceram.
Foi preciso Jesus fazer alguma declaração de prova de vida para que
os olhos da fé se abrissem para eles. Depois Maria Madalena e os discípulos que iam para Emaus contam, mas nem assim acreditaram, precisando Jesus se apresentar aos discípulos.
Mas de todos, Tomé
foi o único que fez uma declaração pública de condições para
crer no Jesus ressurreto. No verso 25 de João 20 ele recebe a notícia de que o
Senhor havia ressuscitado, no mesmo versículo ele diz que só
acreditaria depois de ver as marcas dos cravos e em seguida tocar nas
marcas, além de tocar também na ferida da costela. Depois dessa
manifestação foram 8 longos dias, até que Jesus os surpreende com
nova aparição (v.26). Jesus os cumprimenta com a paz e em seguida,
no
verso 27
se dirige a Tomé e diz para o apóstolo tocar as suas marcas. Nesse
mesmo versículo o
Senhor repreende Tomé para que ele deixe a sua incredulidade e passe
a crer.
No
verso 28 Tomé diz: Senhor meu e Deus meu! Ou seja, instantaneamente
o apóstolo acredita em Jesus. Já no verso 29, Jesus diz: Porque
me viste, Tomé, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.
Antes de considerarmos acerca de Tomé, vamos à primeira observação
neste verso 29 que é sobre os que não viram e creram. Essas são as
pessoas que ouviram o relato da ressurreição de Jesus e acreditaram
sem ter visto o Mestre pessoalmente. Serve tanto para os que naquela
época ouviram e creram, como para nós, que estamos no futuro dessa
declaração de Jesus. Mesmo sem ter visto o Mestre em “carne e
osso”, nós acreditamos na sua ressurreição de entre os mortos, porque temos os relatos bíblicos como testemunhos.
Mas
considerando os versos 28 e 29 no que diz respeito a Tomé, chama a
atenção o fato de que ele havia colocado algumas condições para
acreditar em Jesus. Uma delas era olhar
nas chagas, e a segunda, tocar nessas chagas. Mas a presença de
Jesus foi suficiente para ele crer. Quando Jesus entrou naquela casa,
cumprimentou
a todos, e em seguida se dirigiu a Tomé, imediatamente a fé do
apóstolo nasceu. Jesus aceitando as condições postas por Tomé,
sugere a ele que faça como havia desejado. Mas, o fato de ter visto
o Mestre e ouvido a sua voz, já satisfez todas as demais
curiosidades.
Tomé
não precisou de uma declaração nem das constatações adicionais estabelecidas por ele mesmo. Se observarmos Maria
Madalena, os discípulos que correram para o sepulcro e os discípulos
que iam para Emaús, bem como os que receberam os relatos, nenhum acreditou de imediato no que viram e ouviram.
Lembrando que Maria Madalena e os discípulos do caminho de Emaús
viram e ouviram o Senhor, mas precisaram de uma declaração de prova
de vida. Já Tomé, ao ver Jesus e ouvir sua voz, acreditou. Aliás,
eis um testemunho forte da ressurreição do Mestre. Tomé que
declarou públicamente não acreditar sem fazer a prova, passou a acreditar
os se encontrar com Jesus. Se Tomé acreditou, então é verdade. Alguém que impôs as condições que esse apóstolo impôs e veio a acreditar, serve de testemunha inconteste. Jesus ressuscitou, aleluia!
A
declaração de Tomé após ver e ouvir Jesus é algo forte: Senhor
meu e Deus meu! Observe que Jesus pergunta: Porque me viste, creste,
Tomé? Não é uma pergunta de dúvida, mas uma constatação. Se
parafrasearmos a fala será: Tomé, você acreditou
porque
você me viu.
Esta fala de Jesus é uma certificação de que realmente Tomé
acreditou que o Mestre havia ressuscitado. É como se o Senhor
estivesse dizendo: Tomé, Eu acredito na tua declaração, Eu sei que
você está sendo sincero ao me reconhecer como o que esteve com vocês, ou seja, teu Senhor.
Tomé
viu Jesus, e mais, ouviu a sua voz. O apóstolo, apesar
de esperar oito dias pela nova manifestação de Jesus, ele
se tornou a concretização da sentença dita por Jesus a respeito
das ovelhas e o pastor em João 10.4 “Depois de fazer sair todas as
que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe
reconhecem a voz”. O
apóstolo Tomé identificou Jesus, o seu pastor, no visual e o
reconheceu pela voz, e ao chamá-lo de Senhor e Deus, o seguiu.
Conclusão
Se você tem alguma dúvida de vez em quando, não se penalize por isso, mas faça como os apóstolos e discípulos de Jesus. Tomé, por exemplo, o símbolo da incredulidade, deu a volta por cima na descrença. Ele
se descuidou e não estava presente quando Jesus se manifestou aos
discípulos logo após ressurgir dos mortos. Foram
oito dias de espera para ver Jesus, tempo suficiente para a
incredulidade aumentar. Chegou a colocar condições para crer em
Jesus. Mas abriu mão de tudo ao ver e ouvir o seu Mestre. E
acreditou no Senhor de forma tão veemente, que o próprio Jesus
testemunhou da sua fé.
Que
possamos seguir o exemplo de Tomé. Quando ouvirmos a voz do Senhor,
possamos acreditar e declarar: Senhor meu e Deus meu! Que tenhamos
uma fé tal, que convença Jesus da nossa sinceridade. Quando
fizermos uma confissão ele possa nos dizer: Eu acredito em você.
Quando fizermos uma petição, ele diga: Eu sei que você realmente
necessita. Quando O
louvarmos e O
adoramos, ele diga: Eu recebo teu culto, teu louvor e tua adoração,
porque sei que é verdadeiro. Amém!
Referência
Bibliográfica
LOPES,
Augustus Nicodemus. Apóstolos: A verdade bíblica sobre o
apostolado. São Paulo. Fiel. 2014.
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