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Em quem tudo começou, todos podemos recomeçar

Por Sergio Aparecido Alfonso

Colossenses 1. 16-22.


Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse, E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis,

Quando era criança, e ainda em parte da minha adolescência, uma das coisas que mais me animava era o momento de voltar para casa. Sobretudo, se tivesse passado por alguma decepção. Naquela época emitir fumaça ainda não era crime, e se o era, ninguém sabia. Morava em Guaíra, estado do Paraná - Brasil, num bairro que era um conjunto habitacional chamado BNH 3, na rua B, que era a do meio, onde, inclusive, as crianças das outras duas ruas vinham e se juntavam para brincar. As brincadeiras eram agitadas, competições acirradas, disputadas bem apertadas. Além de muitos outros afazeres, as donas de casa varriam as folhas das árvores que caiam na rua em frente às residências, juntavam em montinhos e depois ateavam fogo; isso sempre era por volta das dezessete horas, até um pouco mais tarde.
Ao entrar no bairro já era possível ver uma fumacinha subir das folhas queimando. Então, a sensação de segurança e bem estar me acalmava. Depois de um teste surpresa na escola, uma discussão com alguém no retorno das aulas, ou com matérias que não aprendi direito, enfim, depois de um dissabor, tudo o que eu queria era entrar na rua do meio. Nem rua A nem rua C, era a do meio, a B. Conforme percorria o caminho dentro do bairro, a alegria das crianças correndo, as mães chamando a atenção dos filhos por algum motivo, eram coisas que iam me dando tranquilidade. Meu desejo de trocar de roupa e me juntar aos demais aumentava a cada passo. Por fim, passava pela porta de casa, jogava a pasta escolar sobre a cama, trocava de roupa, ou às vezes ficava com a mesma, e pronto, ia para a rua. Logo estávamos juntos, meus irmãos, eu, meus amigos, e às vezes, amigos de outros bairros que vinham participar das brincadeiras que íamos organizar. 
E hoje, depois de algumas décadas de vida adulta, só mudou o endereço de casa e a forma de lidar com as situações. Mas eu continuo tendo decepções, desentendimentos, dissabores afins. Então o desejo de voltar para casa continua o mesmo. Após enfrentar os desafios do dia a dia, e passar por situações ora constrangedoras, ora desagradáveis, tudo que sinto por dentro é a antiga sensação: Ah, como é bom estar de volta em casa! 
Vez por outra, nós, adultos ou não, acabamos por arrumar inimizades nas nossas relações sociais. E parte desse querer estar de volta em casa, é para fugirmos das hostilidade do mundo e nos abrigarmos na segurança do nosso lar. As inimizades são aumentadas pela competição acirrada e pela disputa apertada, que já não são brincadeiras. Somos testados no trânsito, no trabalho, no convívio com as outras pessoas. Nos iramos, e provocamos ira. A inocência acabou, tudo o que resta são os jogos de poder, não importa a camada social em que se viva. A fumacinha que vemos subir a nossa frente podem ser os nervos do nosso oponente pegando fogo. Tem nada a ver com a boa sensação de aproximação do abrigo. 
A inveja do sucesso alheio, a cobiça pelo bem do próximo, o desejo pela pessoa de quem não se é cônjuge, a ostentação do que se possui. Tudo isso são coisas que se manifestam por causa da maldade do ser humano. E quando nasceu essa maldade? Em Gêneses 2. 16 e 17, Deus vedou claramente que o casal original não provasse do fruto do conhecimento do bem e do mal. A ideia não era mantê-los ignorantes em relação ao discernimento, mas sim, que eles fosse preservados de saber os efeitos dos atos e optar pela prática do mal quando quisessem atingir determinado objetivo nascendo assim, a malícia e a inimizade entre os seres humanos. Mas em Gênesis 3. 1 - 7, Adão e Eva fizeram exatamente o que lhes fora verbalmente proibido, comeram do fruto, ou seja, pecaram contra Deus. O resultado foi que a inimizade entre o homem e Deus nasceu ali.
Dos versos 8 - 12 de Gênesis 3, o Senhor Deus vem para se encontrar com o casal, mas eles se escondem. Denota-se aqui, que a vergonha causada pela desobediência, fez com que o homem e a mulher desprezassem a amizade com Deus. Em vez de pedir perdão pelo pecado cometido e se arrepender, abandonar a Deus foi a decisão tomada. Interpelados pelo Senhor, eles declaram o motivo da sua fuga: temor por causa da nudez e fuga. Como se Deus fosse um ser mal que fosse simplesmente puni-los. Uma injusta acusação. A maldade brotada no homem por causa de seu pecado, fez com que ele desconfiasse de Deus.
Numa segunda abordagem da parte de Deus, outra vez, longe de assumir o seu erro, o homem pôs a culpa outra vez em Deus de forma direta, e de forma indireta acusou a sua companheira também. E isso com apenas uma sentença: "A mulher que tu me deste" (Gênesis 3.12). A inimizade que era entre Deus e o homem, agora passou a ser também entre homem e mulher, dentro da família. Mas não  se resumiu a esse episódio. 
A inimizade produziu a maldade, e de certa forma se tornou hereditária, tipo: tal pai, tal filho. Em Gênesis 4. 1-9 vemos a história de Caim e Abel, irmãos, filhos de Adão e Eva. O trecho  bíblico em questão relata que Abel, o menor, buscou agradar a Deus, oferecendo sacrifício aceitável. Por outro lado, Caim, o maior, compareceu diante de Deus, mas pelo visto apenas para desencargo de consciência. Deus aceitou Abel e rejeitou Caim. Inconformado, Caim usando de emboscada, atraiu Abel e o matou. Caim tinha conhecimento do bem e do mal, e pesou, de forma premeditada, o resultado de mal contra Abel.
Depois desses fatos, a maldade e a inimizade entre os seres humanos só se multiplicou. Já em Gênesis 7, Deus enviou um dilúvio, salvando apenas Noé e sua família, dentre todos os seres humanos que habitavam a terra de então, pois, só eles, uma família de oito pessoas, foram achados justos. Ao verso 21 de Gênesis 8, Deus disse que o homem é mal desde a infância. E essa maldade é que causa guerras, cobiças, invejas, porfias, pecados cada vez mais aprimorados, de onde nasce a expressão "requintes de crueldade".
Assim, pessoas, famílias, comunidades, bairros, cidades, estados, etnias e países vão alimentando as desavenças, as contendas, brigas, intrigas e todo tipo de desentendimento. Se pararmos para pensar nos dias atuais, estamos separados por ideologias políticas, escolhas por time de futebol, preferências de estilo musical, gênero sexual, cor de pele e por religiões. Das atividades mais básicas, às essenciais, tudo é motivo para separação, para inimizade.
Quando tentamos impor nossas vontades aos outros, o desentendimento aflora. Reatar a amizade fica complicado. E quanto mais se tenta justificar as atitudes, mais a pessoa se apega aos seus motivos, o que torna a reconciliação impossível. Por isso hoje se prega a tolerância. O que interessa não é viver como iguais, mas realçar as diferenças e exigir, isso mesmo, exigir o respeito à essa diferença. Nada mais é natural, tudo é forçado.
Esses mesmos sentimentos levam as pessoas a nutrir também uma separação de Deus. Acredita-se ser possível se justificar diante das ofensas que dirigimos ao Senhor. Mas não dá. E por isso ficamos cada vez mais longe de Deus. Não tem como justificar nossos motivos diante do Senhor. Não justiça em nós perante Ele. É impossível entrar num pleito com Deus e ganhar. Não vamos conseguir reatar nossa amizade com o Senhor buscando isso através de justiça própria. 
Voltando ao caso de Adão e Eva, para tentar se tornar aceitáveis, eles fizeram para si uns aventais com folhas de figueira (Gênesis 3.7). Mas esse esforço próprio não surtiu efeito. Não serviu para driblar a percepção de Deus, e nem para dar segurança e tranquilidade ao casal. Então, Deus fez roupas de pele de animal para que o casal pudesse ter a vergonha da nudez coberta (Gênesis 3.21). O grande dilema estava aí. Para que a cobertura do fruto do pecado fosse satisfatória e o casal se tornasse de presença aceitável a Deus, era necessário que um animal morresse, e nesse caso, o derramamento de sangue é que traria remissão do pecado (Hebreus 9.22), por meio do qual, o pecado foi purificado.
Quanto a nós hoje, precisamos nos tornar aceitáveis a Deus. Por um fim na nossa inimizade com Ele, o que nos leva a ter o amor de Deus em nós, e por consequência, nos reconciliarmos com o nosso próximo. É essa a essência dos versos 20 e 21 de Colossenses 1. Por meio da morte de Jesus na cruz, fomos reconciliados com Deus, e também entre nós, que nos tratávamos como estranhos, com inimizades em função da nossa maldade mutuamente exercitada. A morte eterna perde seus efeitos sobre nós, porque nos rendemos a Deus, pedindo perdão por nossos pecados. Não confiando em nossa própria justiça, mas sim, na de Cristo. Jesus mesmo, por sua morte nos apresenta diante de Deus, santos, irrepreensíveis e inculpáveis (Col. 1.22). 
Ou seja, por causa do sacrifício feito por Jesus em nosso lugar, houve derramamento de sangue para nossa remissão, e agora Cristo nos apresenta diante de Deus, de quem antes desejávamos nos esconder. Mas por Cristo, que nos reconciliou entre nós, podemos viver em família, na mesma casa, a casa do Pai, de quem antes andávamos longe. Então volte para casa, no conjunto habitacional de Deus, onde todas as casa são iguais, e todos se juntam na mesma rua, com Jesus que a tudo fez e a todos reconduz (Col 1.16), porque todos a Ele pertencemos e podemos recomeçar.

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