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O cristão é livre por Cristo

 Por Sergio Aparecido Alfonso

O cristão é livre por Cristo

Gálatas 5.1-15


De que adiantaria construir uma linda, completa e segura casa para morar, mas manter uma tenda no quintal e viver dentro dela com toda a sua vulnerabilidade? Enquanto não tinha moradia, o dono da casa hipotética vivia provisoriamente em tendas. Uma vez construído, o edifício em questão é agora a casa definitiva, contando com conforto e segurança para oferecer. Portanto, não faz sentido continuar a socorrer-se da moradia precária quando se tem casa pronta e abrigo seguro onde se refugiar.

O apóstolo Paulo nos diz, nos versos 1, 2 de Gálatas 5, que a liberdade que Cristo nos deu é algo do qual não podemos abrir mão, nem mesmo ter qualquer coisa ao lado dela para a validar, ou a essa coisa recorrer. Assim como no caso da casa que se torna inútil para quem a tem e não a usa, de igual forma, quem recorre aos preceitos legais para sentir-se seguro em relação à manutenção da salvação torna o sacrifício de Cristo sem validade no curso da vida cristã. Como já mencionado em outros estudos, aos versos 24 a 29 de Gálatas 3, Paulo observa que a lei foi um condutor provisório até que Cristo chegasse para ser o nosso penhor eterno. A lei era o aio, ou o tutor que nos conduzia como as crianças que precisam de um guardador e educador. Mas em Cristo é que fomos justificados, por meio da fé e passamos a ser filhos. Fomo adotados em Cristo. A partir da graça redentora de Jesus, nos tornamos herdeiros com ele das promessas feitas a Abraão, e agora somos parte das famílias que foram abençoadas no patriarca (Gênesis 12.3), famílias essas, espalhadas sobre toda a face da terra, formando uma única família, a família de Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor.

“E de novo protesto a todo homem que deixa se circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei”. O verso 3 de Gálatas 5 traz essa palavra forte, protesto. E Paulo diz que protesta de novo, porque ao longo da carta aos Gálatas e nos demais escritos, o apóstolo vem dando testemunho sobre a insuficiência da lei em contraste com a eficácia da graça de Cristo. Essa palavra protesto em grego é martyromai, muito parecida com martys, que quer dizer “testemunha”, ou seja, alguém que tem compromisso com a verdade. O protesto a que Paulo se refere é uma declaração solene, feita por alguém que tal como a testemunha, com mão direita levantada, a faz sob o juramento de dizer a verdade, sem mentiras e sem omissões. Portanto, o apóstolo comprometido com a verdade, não esconde daqueles que guardam a lei em alguns quesitos, no caso em tela, a circuncisão, que ao fazê-lo com um dos preceitos, guardar ao menos uma das exigências da lei, na verdade a pessoa está comprometida com a lei por completo. E aí está a complicação: Quem pode cumprir a lei na sua totalidade, entre os requisitos, derramar o próprio sangue para a remissão dos seus pecados? Lembre-se, “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hebreus 9.22). Mas o derramamento não pode ser de um sangue comum. Tem que ser de um inocente no lugar do sangue de pessoa culpada. Portanto, se alguém acha necessário cumprir a lei para proveito religioso, e, sobretudo, espiritual, precisa estar apto a pagar com a própria vida pelos próprios pecados. A questão é: Quem entre os homens pode ser inocente, sem mancha, sem mácula, como a lei exigia dos sacrificantes na apresentação do seu cordeirinho, para se sacrificar por si mesmo? Ninguém. E se por acaso existisse alguém apto, logo, Cristo perdeu o tempo com essa pessoa; não morreu por ela, pois ela é autossuficiente.

Para ambas as partes, legalistas e confiantes na graça, nos versos 4-6, Paulo traz algumas observações importantes. A triste notícia para quem pensa ter alguma virtude ao guardar a lei, é que mesmo sendo cristão, apóstolo Paulo diz que esse tal está “separado de Cristo” e que essa pessoa “caiu da graça”. Na fronteira entra a confiança em Cristo e na autoconfiança do mérito próprio tem um abismo. É um erro crasso acreditar em atos acessórios para manter a salvação. É cair da graça. Cair da graça não tem o significado de perder a salvação, mas de tornar a vida mais pesada do que ela é. É usar Cristo para fugir da ira vindoura, mas depois se tornar um soberbo que pensa ser alguma coisa em favor de si mesmo. Lembre-se que Paulo chama os Gálatas de irmãos, portanto, ele fala com cristãos. Por isso, não convém ao cristão buscar acréscimos para “ajudar” o salvo a ser justificado. Aliás, a lei tem o objetivo de apontar os erros do transgressor. Quem é pecador precisa de graça e perdão. A lei serve para punir o pecador, não para salvá-lo ou justificá-lo.

Por outro lado, quem está na graça, em seu favor tem a fé, por meio da qual mantém viva a esperança da justiça. Mas não é o fato de não se render à lei que o não circuncidado alcança a salvação. Não é orgulho ser dispensado de cumprir a lei para fins espirituais. Porque a mera dispensa em si não é nada. O apóstolo diz que nem circuncisão nem incircuncisão são coisa alguma, e completa dizendo que é a fé que opera por amor. Assim, sem fé, o incircunciso é apenas um pecador fora da lei, condenado como outro qualquer. Mas com fé, o incircunciso é um pecador arrependido que acredita na graça, sabedor de que pela lei estava condenado a viver longe de Cristo, ao passo que crente na graça, se aproxima do Salvador.

É bastante ilustrativo o conteúdo dos versos 7-9. Usando uma atividade que gostava muito, o atletismo, Paulo faz uma analogia sobre o que soou como fracasso dos Gálatas. Como dito anteriormente, ele está falando com cristãos, portanto, pessoas salvas. Mas essas pessoas percorriam seu destino muito bem, até que começaram a dar ouvidos para os judaizantes. Ele disse no verso 7: “corríeis bem”. Como alguém que conhecia a regra dos esportes gregos, ele sabia que somente os cidadãos gregos com pleno direito poderiam competir nos eventos de atletismo. E ele usa essa regra para se referir aos cristãos gálatas. Eles eram cristão de pleno direito, não cristãos de segunda linha. Eles estavam aptos à caminhada com Cristo, sob a graça, porque eram convertidos. Mas se deixaram levar pelas exigências legais. No verso 8, Paulo deixa claro que foi Cristo quem chamou os gálatas, e que não procedia dEle a exigência legal à qual se submetiam. No verso 9 ele usa a palavra de Jesus em que uma pequena porção de fermento leveda toda a massa. Em essência, o apóstolo disse que se os gálatas cedessem num único requisito legal, toda a sua fé na graça estaria comprometida. E eles perderiam, não a salvação, mas a alegria advinda dela.

Paulo lembra aos seus leitores, que ele é perseguido exatamente porque não prega a circuncisão (v.11). Mas antes, o apóstolo reforça no verso 10, a sua confiança nos destinatários de sua carta, que eles não sucumbirão aos assédios dos judaizantes por muito tempo a ponto de substituírem a graça pela lei. E mais, ele alerta para o fato de que os falsos ensinadores cairão na condenação das próprias palavras. E a razão é muito simples, pois ninguém pode ser capaz de cumprir tantas exigências estabelecidas na lei. A mesma lei que eles verbalizavam em suas exigências, um dia deporia contra eles, porque eles cumpriram alguns, mas falharam noutros preceitos. No verso 12, Paulo demonstra toda a sua irritação com os judaizantes que estavam exigindo a circuncisão. Ciente dos riscos que isso trazia, ele chega a desejar que quando os legalistas fizessem a cirurgia de circuncisão num deles mesmos errassem a mão. O termo usado por Paulo é mutilação, que no sentido original é associado à castração. Quem sabe com um acidente de tal gravidade eles se aquietassem por um tempo.

Por fim, Paulo faz uma recomendação aos gálatas nos versos 13-15, que se tratassem em amor. E é O amor de Deus pela humanidade que o moveu a dar seu Filho para a nossa salvação, operando a graça redentora. A lei não é capaz de produzir o amor. Como cumpridores de lei, o amor poderia se esfriar naquela comunidade. O amor de Deus fez o cristão livre, mas essa liberdade deve ser usada de modo a não banalizar o amor de Deus. A licenciosidade não pode tomar lugar entre os crentes. Pelo contrário, a pecaminosidade nada tem a ver com o viver na graça. Do outro lado, além de causar uma falsa segurança, o cumprimento da lei enche o legalista de soberba e espírito de cobrança. Então, a brandura para tratar os pecados do irmão deixa de existir, vindo apenas o pensamento julgador. Não há amor que resiste a isso.

E ainda, se eles se agredissem, e o apóstolo usa os termos mordeis e devorais, eles acabariam por se extinguir como igreja, quando o amor nascido na graça fosse substituído pela lei, e a licenciosidade confundida com liberdade em Cristo tomassem conta. O extremismo da lei, e o erro de interpretação quanto à graça são armas na mão do inimigo da alma dos cristãos. Assim, o verso 14 tem uma citação das palavras de Jesus contidas em Mateus 22.39, que diz: ...amarás o teu próximo com a ti mesmo. O amor a Deus e ao próximo são evidências de vidas transformadas, coisas que a lei não pode fazer.


Bibliografia


BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRAS-CHAVE. 4ª Ed. Rio de Janeiro. CPAD. 2015.


MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo. 1ª Ed. Barueri. Sociedade Bíblica do Brasil. 2010.


ROS, Alexander. Comentário Bíblico de Gálatas. Vol. 2. 1ª Ed. São Paulo. Vida Nova. 1990.


WIERSBE, Warrem W. COMENTÁRIO BÍBLICO EXPOSITIVO. Vol. 5. 1ª Ed. Santo André. 2012.

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