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A Antidemocracia no Estado Democrático de Direito


Por Sérgio Aparecido Alfonso 

Para falar sobre algumas atitudes inexplicáveis que estão sendo tomadas em repúdio à manifestação do dia 26 de maio de 2019, que trata de uma pauta bastante republicana, nada melhor do que começar com uma expressão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal – STF. “Tempos estranhos”, disse o Ministro do STF, no mês de abril quando aquela corte censurou uma reportagem da revista eletrônica CRUSOÉ. A revista trouxe na capa uma denúncia sobre delações revelando que o presidente do tribunal, ministro Dias Toffoli, teria se beneficiado de um esquema de propina. Na oportunidade, o ministro Alexandre de Moraes, presidente de um inquérito aberto e conduzido pelo próprio STF, determinou que a revista tirasse do ar a matéria em questão.
Desde então, o que vemos no Brasil são tempos estranhos para a democracia. O presidente Jair Messias Bolsonaro fez sua campanha eleitoral afirmando que não negociaria cargos nem daria dinheiro em troca de apoio do Congresso Nacional. Ao que parece, os candidatos ao parlamento não levaram a sério as promessas do presidente. Uma ala do Congresso chamada Centrão, que reúne pequenos e médios partidos – cuja ideologia não é muito definida, pende para o lado que dá mais – fez suas campanhas prometendo cargos, não importando quem fosse eleito presidente. Ocorre que ganhou quem disse que não daria cargos. E esse eleito se mantém firme no propósito.
Acostumados com o chamado toma-lá-dá-cá de tempos idos, mas não tão remotos, agora se sentem desprestigiados pelo Governo Federal. Vendo que não conseguem “dobrar” o presidente, partem para a chantagem e ameaças. Já se fala até em impeachment do presidente. Ocorre que não se pode impedi-lo sem que ele tenha cometido crime. Outra saída aventada pelos chantagistas é o que estão chamando de ‘Parlamentarismo Branco”, que consiste em isolar o presidente, não acatar as suas pautas, e o Congresso votar as próprias pautas. Nesse sentido, o presidente se tornaria um mero contínuo que publica os atos do Congresso.
Ao que parece, o tal parlamentarismo branco já está em vigor. Prova disso é que pautas importantes enviadas pelo governo para o parlamento simplesmente não tramitam. Para que os projetos de interesse do governo possam seguir os trâmites, os parlamentares continuam esperando o presidente fazer o que eles chamam de articulação, que nada mais é que liberação de recursos financeiros, e aceitação de indicação de cargos. Os parlamentares ainda não se deram conta de que as coisas mudaram, e o que vale é que: Os cargos do executivo federal são de livre nomeação e exoneração do presidente da república. Assim como o presidente não indica assessores para os parlamentares.
Alguns parlamentares não assumindo que querem cargos, dizem que o presidente não os recebe, não conversa, enfim, não se relaciona com o congresso. Bem, se há entre os congressistas alguém sofrendo de carência afetiva, procure um profissional de psicologia, ou arrume uma namorada, se for casado, fique mais tempo com a esposa. Mas o presidente não pode suprir essas carências, pois, ele tem o destino de uma nação para dirigir. Porém, a reclamação de que o presidente não recebe o parlamento não é verdade. Até porque, antes de ir para o Nordeste, o presidente se reuniu com a bancada da região.
Mas, os parlamentares não desistem. Continuam a chantagear. Dia desses o presidente do Senado esteve reunido com 15 senadores que se perguntavam o que vão fazer com o Bolsonaro, o presidente. E assim caminham as coisas em Brasília. Agora, o presidente está refém do congresso, porque pediu um crédito suplementar de 250 bilhões para honrar dívidas, pagar pessoal e beneficiários da previdência e do programa Bolsa Família. Sem essa suplementação, ou o governo dá calote, ou dá pedalada fiscal, o prato cheio para o impeachment. 
Percebendo os riscos, bem como sabendo da opinião da quase unanimidade dos economistas do país, de que é preciso fazer as reformas para que o Brasil volte a ser destino de investimentos, a população resolveu fazer uma manifestação em todo país no dia 26 de maio de 2019. A pauta da manifestação é muito clara. Reúne Reforma da Previdência, MP 870 da Reforma Administrativa, com manutenção do COAF no Ministério da Justiça e Aprovação do Pacote Anticrime do Ministro Sérgio Moro. Apesar de legítima a pauta, a manifestação sofre resistência de todos os setores do “sistema”, do status quo. A imprensa que tanto clama por liberdade de informar e se expressar, setores do STF, muitos parlamentares, alguns governadores, e claro, a oposição, entre outros.
Tempos estranhos, a expressão de Marco Aurélio Mello foi repetida por ele para se referir à manifestação. Sem sentido, assim define Bebiano, ministro demitido por Bolsonaro no primeiro mês de mandato. Inútil, assim Dória, governador de São Paulo se referiu à manifestação. E muitos outros políticos se manifestaram contrários ao ato marcado para o dia 26, que aliás, é hoje, pois, enquanto escrevia a meia noite cruzou. Mas o que mais chamou a atenção em relação à reprovação da manifestação foi a declaração do deputado do Democratas, Kim Kataguiri.
O parlamentar em questão se mostrou reticente desde o início, apesar do nome do partido. Por último, disse que não é contra as manifestações, mas acha que essa de 26 de maio pode ser contra producente. Deixa ver se entendi: As atribuições do parlamentar estão definidas na Constituição Federal, dos artigos 48 – 52, e mais, atender aos anseios da população. Os parlamentares, sobretudo os deputados – já que senadores representam os respectivos estados – representam o povo, portanto, devem atender à vontade da população. Vontades possíveis, claro. Logo, não cabe a um deputado pedir que o povo não vá às ruas manifestar as suas pautas.
Como dito, muitos políticos se posicionaram contra os atos de domingo 26, “alertando” para os efeitos contrários. Um parlamentar que faz tal afirmação está com má intenção. Sendo ele um representante do povo, e que deve atender aos anseios deste povo, tem ele numa manifestação a oportunidade de conhecer as inquietações mais imediatas desse povo. Ao pedir para esse mesmo povo não ir às ruas, significa que este parlamentar não quer ouvir a população, não quer saber de suas aspirações, e portanto, quer agir por conta própria, sem prestar satisfação a ninguém.
Espero que assim como os congressistas adeptos da barganha mudem de opinião e trabalhem pelo Brasil, igualmente, os parlamentares que tentam desencorajar a população, prestem atenção ao que ela quer e sirvam ao cidadão naquilo que ele precisa. Não há nada mais antidemocrático do que uma imprensa que reclama da falta de liberdade ajudar a desestimular as liberdade. Um ministro do STF, guardião da constituição, que preceitua a liberdade de expressão, a livre manifestação, e atos democráticos, criticar a democracia popular. De igual maneira, nada mais autoritário e ditatorial do que deputado - democraticamente eleito até por uma legenda denominada Democratas - para representar o povo e sua vontade, censurar esse povo e impedi-lo de manifestar a sua vontade,  além de querer acorrentar um presidente também eleito democraticamente. Vivemos “tempos estranhos” que geraram instituições estranhas, democratas estranhos, que estranham a democracia.

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