Por Sergio Aparecido Alfonso
Texto-base salmo 73 (Destaque para o verso 25: "A quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti".)
Às vezes dá vontade de desistir. É o que passava com Asafe, o autor deste salmo, que também era cantor na época de Davi. Ele começa louvando a Deus por sua bondade para com os limpos de coração e para com Israel como um todo no verso 1. Na sequência ele fala a respeito de si, e da sua quase desistência de continuar com Deus (v.2). Ele explica essa sua quase queda a partir do verso 3, onde ele diz que teve inveja dos "néscios", ao ver a prosperidade dos ímpios. O néscios, no caso, era uma referência às pessoas faltas de conhecimento. Não necessariamente as que tinham problema mental, mas as que não investiam tempo no conhecimento de Deus, ou seja, pessoas que ignoravam a Deus por menosprezo. Quanto aos ímpios, a referência é àqueles que se comportam com total desleixo em relação às coisas de Deus. O ímpio é aquele que não tem piedade, muito menos relacionado à misericórdia como hoje comumente se pensa, mas muito mais ligado à pessoa que abandonou as coisas de Deus, que não dá a mínima importância para o Senhor.
Enquanto isso, dos versos 4 - 14, Asafe está à beira da depressão ao comparar a boa situação de quem leva uma vida sem Deus, sem respeito por ele e sua obra, com a vida daqueles que estão sempre se sujeitando ao Senhor. Os olhos de Asafe estavam enxergando apenas isso, a prosperidade do ímpio e o sofrimento do justo. Havia nele uma barreira que o estava impedindo de ir além em sua visão. Ele observa que apesar da arrogância, da soberba, os ímpios não passam por dificuldades. Eles não sofrem o peso do trabalho, não sentem as aflições que os demais sentem. A vida do ímpio é calma, tranquila e segue sempre bem. Ao menos é o que Asafe percebe. Ele também observa que os ímpios blasfemam, tramam o mal, a opressão, falam contra Deus, espalham a desavença, desafiam a Deus em sua onisciência, e ainda assim são prósperos. A sua riqueza aumenta a cada dia, ao passo que o salmista se vê afligido a cada, dia e seu castigo o incomoda a cada manhã.
Mas então, dos versos 16 - 21 ele começa um doloroso caminho rumo à compreensão verdadeira dos fatos. Ele diz que entra no santuário do Senhor, onde então ele entende o final do ímpios. Ou seja, quando ele abandonou as suas próprias concepções e passou a meditar pela sabedoria que vem de Deus, foi que então ele começou a perceber as coisas como elas realmente são. Então ele conclui que o futuro dos ímpios é a ruína. O mal que os espera é como um chão escorregadio, não tem como se manter em pé em tais condições e a queda é certa. Eles serão assolados, os seus sonhos se tornarão em pesadelos, a sua segurança se desfará. A aparência dos ímpios será desprezada por Deus, ou seja, o prestígio que a impiedade traz, é nada para o Senhor, enfim, não tem valor.
Já nos versos 22 - 28, enquanto ignorava a ação de Deus e o destino dos ímpios, Asafe, em suas próprias palavras, era como se ele fosse um doente, alguém afligido pela enfermidade, agindo na desesperança. Procedia de forma irracional, como se fosse um animal. Então, ele proclama que está de contínuo com Deus, e reconhece que é Deus quem o sustenta. Do Senhor ele recebe a direção, e em glória verá a Deus. Asafe também reconhece que ele só tem a Deus, que só buscará a Deus, que apesar de seu desânimo e fraqueza, Deus será a sua fortaleza e sua porção, querendo dizer, a sua porção diária, o seu alimento e suprimento de suas necessidades de cada dia. E por fim, Asafe vê que o futuro dos ímpios é de destruição, ao passo que promete que vai se aproximar de Deus, confiar no Senhor e anunciar as obras do Altíssimo.
Muitas vezes estamos como Asafe, vemos os ímpios em plena ascensão ao nosso lado. Eles ignoram a Deus e sua justiça, agem como se Deus não existisse e mesmo assim, tudo vai bem, principalmente no Brasil, país prodigioso em injustiça forense. Por exemplo, esta semana de 23 - 27 de setembro de 2019 foi mais ou menos assim. O Supremo Tribunal Federal - STF, deu uma vitória notável para aqueles que vivem da "profissão da corrupção" no Brasil. Anularam sentenças, inovando no direito para abrir precedentes para beneficiar determinados criminosos futuramente. E nós, os demais cidadãos, assistimos a isso impotentes. Isso mesmo, nada podemos fazer. Foi a mais alta corte de justiça que existe no país que decidiu beneficiar os criminosos, dizendo que roubar dinheiro público é um crime que compensa.
Quanto a nós, só nos resta pagar impostos para que os agentes públicos se apossem do erário e saiam ilesos. Enquanto isso, nós ficamos sem os serviços que os tributos deveriam financiar, pagamos, ainda, o salário dos ministros do STF. Esses por sua vez agem contra nós, desprezam a justiça de Deus, e decidem pensando apenas em agradar os seus. Na preparação de seus votos, maquinam o mal, maliciam a opressão e o abuso da autoridade da magistratura suprema. Quando nos deparamos com isso, ficamos como Asafe. Quase nos desviamos, ficamos prestes a escorregar, porque parece que o mal triunfa e tripudia sobre nós. Resta saber se encontraremos força para recobrar o juízo e fazermos como o salmista que buscou ao Senhor, depositou nele a confiança, entendeu que o fim que está reservado aos ímpios virá de Deus. E também que precisamos nos aproximar de Deus e que nós seremos sustentados pelo Altíssimo e ainda anunciaremos as suas grandes obras, quais sejam, a sua justiça triunfante sobre o mal. Como se vê, motivos para orar pelo Brasil não nos faltam. Sei que há cidadãos leitores de outras nações que diante das circunstâncias, também têm motivos para confiar só em Deus. Talvez a nossa confiança em Deus é que parece, de vez em quando, se esvair, aqui, ou no exterior. Oremos para chegar ao entendimento de Deus diante do panorama que enfrentamos.
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