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A confissão traz alívio

Por Sergio Aparecido Alfonso

Salmo 32. 1-5.

Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade e em cujo espírito não há engano. Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim, o meu humor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri, dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões e tu perdoaste a maldade do meu pecado.

Este é o primeiro dos salmos constantes do grupo chamado de "salmos de penitência". Trata-se de salmos que falam de confissão de pecados, admissão de culpa e manifestação de arrependimento em forma de acato aos conselhos, alertas e repreensões. Demonstrações externas de penitência são feitas por meio de  jejuns, orações, suplicas e pedidos de perdão, por exemplo.
Aqui, Davi estava narrando o período em que ele tentou esconder seus pecados. Ele ficou em casa enquanto seus comandados estavam em guerra. Ele nunca tinha feito isso antes. Nessa ocasião, ocioso que estava, saiu a passear pela varanda de sua casa, quando de repente viu uma jovem e bela senhora banhando-se no terraço de sua casa. Este foi o episódio que envolveu adultério, falsidade e homicídio. A bela mulher que tomava banho, possivelmente ao luar, era Bate-Seba, esposa de Urias, um oficial do exército israelita. 
Esse jovem honrava seu rei, guerreando bravamente contra os inimigos de Israel. O curioso é que Urias não era natural de Israel, ele era heteu, ou hitita. Sua nação era Hete, um dos filhos de Canaã, e seu povo vivia ao norte de Israel e fazia parte de um território que foi dominado pelos israelitas. Apesar de ser pertencente a um povo dominado, o heteu Urias servia a Israel de maneira bastante comprometida, a ponto de de alcançar um posto de oficial no exército. Destacou-se entre seus dominadores, mas não rebelou-se. Seu nome Urias significa Deus é a minha luz. Assim, que tem um nome desses, nasce para brilhar, e a traição nunca poderá ofuscar a sua luz.
Na sua lealdade, Urias esforçava-se para que as divisas de Israel fossem mantidas, e até expandidas. Mas Davi, a quem todos conhecemos, rei de Israel, ficou em casa e distraiu-se com a aparência de Bate-Seba, esposa do jovem oficial estrangeiro. Foi então que o monarca manda chamar a mulher para o palácio, e então, adultera com ela. Passados alguns dias, ela percebe que está grávida e manda avisar ao rei. Este por sua vez, passa a agir com malícia e falsidade para fugir de sua responsabilidade e de seu pecado. 
Eis que para se livrar da vergonha a que submeteu seu país  e seu próximo, um estrangeiro, cuja mulher cobiçou e possuiu, ele manda chamar o seu jovem guerreiro. Quando Urias chega, a maldade e falsidade de Davi já estavam exacerbadas. Suas tramas estavam sendo maquinadas desavergonhadamente. O rei manda o seu oficial entrar, faz perguntas sobre o campo de batalha, as posições dos exércitos, como os israelitas estão se saindo e por aí vai. Por fim, sua brilhante ideia é colocada em prática. E qual é essa ideia? Livrar-se do peso de um adultério que se tornaria público tão logo nascesse a criança, fruto dessa traição conjugal. Ele orienta Urias e ir-se para sua casa e deitar-se com sua esposa. Pensava ele que com isso, poderia forjar a versão de que Urias teria engravidado a esposa, e daí Davi estaria livre de assumir publicamente que pecou. 
Porém, o rei se despede de Urias, mas esse jovem não vai para casa. Ele fica com os servidores do palácio. Quando Davi toma conhecimento, pergunta ao jovem qual seria o motivo de não ir dormir com sua mulher amada. A resposta de Urias foi a de que não seria justo ir para casa, dormir consolar-se com a esposa, enquanto seus companheiros batalhavam no campo. Apesar de ser um grande guerreiro, passa certo medo de Urias pela cabeça de Davi. Por isso, ele trama a morte do oficial. Ele escreve uma carta, sela a missiva e manda para seu general Joabe, pelas mãos da vítima. Na carta estava escrito que Urias deveria ser colocado na parte mais fraca do fronte de batalha, o que foi feito. O resultado disso é que Urias morreu guerreando por Israel e por seu rei traidor.
Difícil imaginar tamanha covardia. Mas Davi pôs seu plano em prática e funcionou. Com isso, ficou à vontade para tomar a viúva nos braços. O rei foi rasteiro com quem lhe foi leal. Após receber a notícia da morte de Urias, Davi nem para ter peso na consciência. Sua palavra foi: "Animem a Joabe, pois, numa batalha podem ocorrer baixas mesmo".  mandou trazer Bate-Seba para o palácio e finalmente a tomou por esposa. A partir daí, passou a viver atormentado. Por alguns meses ele encobriu seu pecado, até que o Senhor Deus enviou seu profeta Natã para fazer Davi encarar suas maldades. 
Antes de ser confrontado, Davi passou por situações ruins, frutos de seu pecado. O verso 3 diz que enquanto ele se manteve calado, silenciando-se sobre seus pecados e maldades, os seu ossos envelheceram pelo seu bramido diário. Davi passou a ter problemas de saúde nos ossos, talvez dores, quem sabe crises reumáticas, por causa de seu pecado. Dores fortes a ponto de gritar, de rugir como uma fera. A mão do Senhor, nas palavras dele, Davi, pesavam sobre o rei, todos os dias. Davi não teve vida tranquila por causa desse adultério. Não bastou ter recolhido a viúva em casa. Tudo começou mal nesse relacionamento, porque iniciou de forma errada. 
A alma de Davi foi afetada. O texto diz que seu humor se tornou como terra estorricada pela falta de chuva. Era como se ele fosse um território assolado pela seca severa de um deserto, com vida escassa. Tudo isso não só por causa de tomar a mulher do próximo, mas também pelo homicídio premeditado contra Urias. A alma e a consciência de Davi agora estavam perturbados. Então surge Natã e aponta o pecado do rei. Natã conta a parábola de um homem pobre que tem apenas uma ovelha e um rico que tem várias e se apossa da única ovelha do homem pobre para fazer um almoço para o amigo que lhe visitava. Davi enfurecido, determina que o homem rico deve morrer pela injustiça praticada. O profeta o coloca frente à frente com o espelho da consciência. Então, o rei percebe que quem está morrendo é ele em função de suas dores e falta de humor, consciência pesada.
Ao deparar-se consigo mesmo, não lhe resta outra coisa a fazer, senão, confessar os seu pecados. O salmista Davi fala de cada pecado com Deus. Ele confessa um a um, ou seja, assume o seus erros de forma detalhada e pede perdão a Deus. A ordem de acontecimentos narrado pelo rei é que ele confessou os pecados e as maldades, e Deus o perdoou. Apesar da confissão e do arrependimento terem ocorridos só no verso 5, os dois primeiros versos são de louvor a Deus, tanto pelo perdão dos pecados como pelo fato de Deus não imputar maldade nos bem-aventurados. Imputar é um termo de contabilidade, que significa, registrar nos assentamentos, acrescentar nas contas de alguém, debitar nessa conta.
O salmista fica feliz por não ter mais uma conta cheia de dívidas, e louva ao Senhor pela sua misericórdia. Agora, o rei Davi se insere entre aqueles a quem Deus não encontra com coração maldoso, nem espírito enganoso, ou seja, todas as maquinações do mal feitas por Davi se tornaram coisas do passado. Ele as confessou e deixou uma a uma, e se livrou do peso da culpa. Sua alma ficou leve, sua vida melhorou, ele teve ânimo renovado e passou a viver mais intensamente para o Senhor. Antes de se confessar, o rei Davi não pode viver o perdão e o alívio de Deus. Pelo contrário, enquanto era falso e inconfesso, levava uma vida de dor e sofrimento. Mas por fim, recupera a sua vida e a coragem de confessar os pecados, recuperando junto a confiança de Deus nele. Que sejamos como a segunda fase do rei Davi. Tenhamos a coragem de fugir da omissão em relação aos nosso pecados. Somente dessa forma vamos encontrar perdão e alívio para nossas almas. E quem sabe, um status de homens e mulheres segundo o coração de Deus. 



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