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Espere o cronômetro de Deus

Por Sergio Aparecido Alfonso

Texto-base Eclesiastes 3.1

Tudo tem o seu tempo determinado, é há tempo para todo o propósito debaixo do céu;

O autor do livro de Eclesiastes é Salomão. Eclesiastes vem do grego Ekklesiastes, orador de uma assembléia. Assembléia por sua vez, vem do termo grego Ekklésia, palavra que no cognato português é igreja. No curso do livro de eclesiastes, o autor se denomina "pregador", que vem o termo hebraico Qõhelech. Portanto, está correto o uso do termo pregador pelo autor. E o livro, enfim, foi escrito por Salomão para falar com a assembléia dos israelitas. Ou seja, Salomão não estava escrevendo um livro de autoajuda nem um compêndio de sabedoria humana, nem mesmo estava numa conversa informal, mas, na verdade, Salomão estava  pregando para seu povo. E nesse capítulo 3, o autor se conscientiza de que Deus está no controle de tudo, e que não adianta tentar alterar o relógio do Senhor Jeová, que é onipresente, onipotente e onisciente. Deus está em todos os lugares, pode todas as coisas, sabe e está ciente de todas as coisas. Significa dizer que o Senhor está ao teu lado, ele é capaz de fazer aquilo de que você necessita e está sabendo que você precisa de algo. 
A problemática é que não basta saber dos atributos imutáveis de Deus no que concerne a sua onisciência, onipotência, e onipresença. Nem sempre isso tranquiliza as pessoas. Às vezes se tem a impressão de que Deus não está sabendo do que se passa, que ele não está presente ao lado dos que dele necessitam, e que talvez Ele não ajudará. Então, as pessoas começam a traçar suas estratégias para chegar à solução dos problemas. Isso acontece sempre que o indivíduo se deixa vencer pela falta de paciência e pela pressa. As multidões querem tudo para já, o imediatismo é exacerbado. Esperar nem pensar. O método de Deus parece não ter lugar. O jeito dEle é lento, o discurso da impaciência diz que as coisas não acontecem. Na verdade é exatamente a pressa que atrapalha tudo.
Diante de uma situação que parece insanável, ou que a solução parece não existir, você já pensou em parar e ouvir a Deus? Realmente não é algo fácil de se fazer. Mas parar e ouvir o Senhor é algo que começa antes do parar para escutar a voz dEle. Porque para ouvir uma resposta de solução, precisa antes haver uma parada para apresentar um problema. O salmista Davi, no salmo 40, verso 1, diz assim: Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor". Davi tinha uma demanda, e ele a apresentou ao Senhor. A partir daí, ele esperou que Deus desse a resposta. 
O texto diz que Davi esperou com paciência, porque ele não apenas falou ao Senhor sobre algo, mas ele falou com insistência, ou seja, ele não desistiu na primeira constatação de silêncio, ele prosseguiu com seu pedido, pacientemente. Na sequência, o salmista diz que o Senhor se inclinou para ele. Isso não quer dizer que Deus tivesse alguma reverência para com Davi, mas sim, que o Senhor parou para direcionar o seu ouvido para uma petição. O Senhor foi tocado pelo clamor do peticionante, Ele foi propício, oportuno. Por fim, o verso encerra dizendo que Deus ouviu o clamor de Davi. Ouvir não significa só deixar que uma voz entre aos ouvidos, mas escutar com atenção, a ponto de atender a um pedido. Foi isso que Deus fez. Porém, é importante frisar que Davi recebeu a solução de seu problema, porque não confiou em suas estratégias, mas buscou a solução vinda da parte de Deus. Davi esperou as coisas acontecerem no seu tempo, ele não se rebelou contra o cronômetro do Senhor.
Mas nem sempre as pessoas querem esperar com paciência pelo Senhor. Quem é impaciente deve pedir a Deus a fé suficiente para esperar o tempo dEle. Caso contrário, tentar dar uma "ajudinha" para Jeová, pode ser desastroso pelo resto da vida. Essa impaciência já assaltou alguém muito importante para o desenvolvimento da fé. É o caso do patriarca Abraão, por exemplo, no capítulo 12 de Gênesis, versos de 1-3. No texto em tela, Deus chama Abraão a se retirar do meio de sua parentela e ir para uma terra que seria designada com o tempo.  lá, Abraão seria uma grande nação e seria uma benção para toda a terra, além de ser fonte de benção e de maldição, ao gosto dos que com ele se relacionassem. Quem o abençoasse seria abençoado, quem o amaldiçoasse seria amaldiçoado. Mas repare que no verso 2 foi prometido que o patriarca seria uma grande nação, apesar de ser avançado em idade, e sua esposa ser estéril e também já idosa. Em Gênesis 15.4 e 5, o Senhor diz que Abraão teria um herdeiro de quem procederia uma inumerável multidão. 
Mas acontece que Sara não teve paciência para esperar o nascimento de um filho próprio. No capítulo 16 de Gênesis, versos 1-4, Sara teve um plano para ajudar a Deus. Deu sua serva Hagar para deitar-se com o patriarca e assim, ter filhos através de sua criada. Abraão também não teve paciência, pois, cedeu ao pedido de Sara. O fato é que nasceu o filho do patriarca com Hagar. Mas nasceram juntos os problemas. Ainda grávida, Hagar desprezou sua senhora em função da esterilidade de Sara. Depois que o filho nasceu, Abraão deu a ele o nome de Ismael que quer dizer "Deus ouve". Por fim, nasceu Isaac "Riso" (Gênesis 21. 1 e 2). Mas o problema já havia sido criado. Ismael zombava e agredia a Isaac, e isso irritava Sara, que pediu para o marido mandar embora da aldeia, juntamente com Hagar, mãe de Ismael. O resultado é que até hoje há conflitos entre os descendentes de Ismael e os descentes de Isaac.
Ao atropelar o tempo de Deus, Abraão e Sara criaram um problema que se estende por milênios entre descendentes de dois irmãos por parte de pai, por parte de Abraão. Os descendentes de Isaac são os israelenses, ou israelitas, e os descendentes de Ismael são os árabes. O conflito entre essas duas descendências rapidamente extrapolou as dimensões étnicas e alcançou os aspectos religiosos. Tudo porque, por volta de um mil, oitocentos e noventa e seis anos antes de Cristo, um casal de idosos, mesmo tendo contato auditivo com Deus, recebendo uma promessa pessoalmente feita pelo Senhor, achou que deveria dar uma ajuda para Deus cumprir os seus desígnios. Então, é preciso tem em mente, e firme no coração, que há um tempo determinado para tudo, e um tempo para cada propósito debaixo do céu (Eclesiastes 3.1).
Entenda, em primeiro lugar, de acordo com o verso 1 de Eclesiastes 3, há um propósito para tudo debaixo do céu. Nada é por acaso, mas tudo faz parte de um plano de Deus. Se as coisas parecem demoradas, não se apresse, procure conhecer os desígnios do Senhor. Em segundo lugar, há um motivo para ele não acelerar as coisas. Só é possível saber o propósito de uma eventual demora, se com paciência, esperar-se a inclinação dos ouvidos de Deus para ouvir o clamor daquele que tem a demanda (Salmo 40.1). Não é sempre que a resposta chega rápido. Por isso, conhecer a vontade e o tempo de Deus é preciso. Sem essa consciência, pode acontecer outro grave problema, quiçá, eterno como no caso de Isaac e Ismael. Dos versos 2-8 (Eclesiastes 3), há uma lista de coisas apresentadas pelo pregador, as quais acontecem no seu tempo, há propósitos que serão entendidos no seu tempo. 
Ainda que seja doloroso esperar, é preciso entender que há tempo, inclusive, de chorar e tempo de rir, há tempo de prantear e tempo de saltar (Eclesiastes 3.4), há tempo de viver e tempo de morrer. Ou seja, há o tempo em que a espera conduz ao pranto, ao choro, à tristeza, ou até a momentos de depressão. Mas quando a solução chega, a alegria vem, o riso brota e até saltar de felicidade é possível. Mesmo que a tentação de soluções fáceis venha a rondar, espere o tempo de Deus. Lembre-se, para todo o propósito debaixo do céu há um tempo determinado. Se é determinado, é um tempo imutável, não se adianta, mas também não se atrasa. O Senhor não precisa de ajudinha para cumprir os seus desígnios. Ele requer obediência, e espera que tenhamos paciência para aguardar a sua providência. Que Deus nos inspire a ficar na sua dispensação, ou seja, na administração, do Senhor, administração do tempo e da vontade.

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