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Diga-me com quem andas

Por Sergio Aparecido Alfonso

Texto-base Salmo 1.1-6.

Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as sua folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará. Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha. Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos. Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.

Há todo o tipo de companhia com as quais podemos seguir juntamente. Mas dentre elas existem aquelas com as quais não devemos nos associar. De igual forma, há muitas opiniões  e conselhos disponíveis. Mas não podemos nos orientar por meio de  um ideia qualquer. Ou seja, nem todo mundo serve para seguir o caminho conosco, por mais agradáveis que as pessoas pareçam ser, e nem todas as palavras são para o nosso bem, por mais que pareçam sábias. As companhias com as quais andamos, as opiniões que consideramos e as ideias que expressamos, às vezes podem não corresponder ao que realmente somos, mas se não nos importamos em sermos associados a elas, podemos deixar impressões difíceis de apagar, e ainda, podemos perder a nossa real identidade. E o pior ainda, se assim nos conduzirmos, vamos decepcionar a Deus. É certo que ele conhece o nosso coração, mas nossas atitudes devem manifestar o que acreditamos e somos em relação ao Senhor. Agradá-lo deve ser nosso alvo, e nos identificarmos com ele, a nossa preocupação.
Paulo escrevendo aos Coríntios, capítulo 15 verso 33, disse assim: "Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes". É interessante saber os significados com os quais a palavra conversações se relaciona. Ela vem do grego "homilia" que se refere a comunicação e relacionamento, e está associada a "homilos" que por sua vez tem relação com multidão e companhia, combinada com  "homou" na forma genérica e "homos" que quer dizer o mesmo que, que por fim se associa a "homa" que é traduzida como ao mesmo tempo, que quando utilizada como preposição depreende íntima ligação, e junto com. Ou seja, como se vê, numa conversação existe a associação com companhia, conselhos, comunicação e sobretudo, relacionamentos. Tem-se, portanto, que trata-se de uma questão de intimidade e identificação. É um caminhar junto, numa atitude de confiança; um partilhar e compartilhar ideias e opiniões, pensamentos e sentimentos.
Importante ater-se ao parágrafo anterior, porque o Salmo 1, que é a base deste texto, no verso 1, trata sobre as caraterísticas da bem-aventurança do justo. O salmista busca estimular o justo a afastar-se das más companhias para não haver contaminação. Por isso ele começa falando sobre o que o justo não deve fazer para que assim seja bem-aventurado, feliz e próspero em seu caminho. As palavras não e nem, que se repete, são usadas para informar ao justo sobre o não ouvir, não se fazer acompanhar, e não comungar, que respectivamente se referem a não andar segundo o conselho dos ímpios, não se deter no caminho dos pecadores, não se assentar na roda dos escarnecedores
O justo não se pauta pela moral da impiedade. Não são as palavras do injusto que guiam o homem ou a mulher na bem-aventurança. O justo pensa e age de forma diferente, autônoma e agradável a Deus. Os desvarios dos maus conselhos não fazem parte do manual de procedimento de quem anda na justiça. As palavras torpes e néscias são desprezadas pelo justo. O homem e a mulher de Deus buscam a sabedoria no Senhor por meio da oração, do conhecimento e da intimidade com Ele. Mas ainda assim, quando lhes falta subsídios para decidir, devem buscar a orientação do seu pastor, de um irmão mais experiente, enfim, de alguém com maior maturidade cristã. Mas nunca deve buscar ajuda de quem não tem compromisso com o Senhor. 
Os conselhos dos ímpios podem conduzir a atitudes das quais caberá arrependimento posterior, porque produzidos na secularidade e no mundanismo. Os conselhos fora de Deus ou dos servos que ele designou para falar são muito cheios de humanismo e nada espiritual. Os danos podem ser irreversíveis. Os parâmetros do Senhor não são levados em consideração por um conselheiro ímpio. O que vale é fazer as pessoas se sentirem bem, auto estima elevada, busca da felicidade e paz interior, ainda que numa consciência cauterizada.
Quanto ao caminho a ser seguido pelo servo do Senhor, pode às vezes parecer dificultoso. E de fato o caminho a ser seguido pelo justo poderá ser mais difícil do que parece. Mas é no caminho dos pecadores que existem as facilidades. O caminho dos pecadores é eivado de lascívia, mentira, maldade, promiscuidade, crime, depravação, descompromisso, rejeição a Deus. No caminho dos pecadores há oportunismo, maquinação do mal, afastamento em relação ao Senhor, até chegar o ponto em que Jeová perde a importância para o pecador. Nesse momento a consciência já não pesa nada. No percurso seguido pelo pecador, a paisagem é artificial. Tudo parece lindo, mas nem mesmo é de verdade. Algumas vezes parece o único e verdadeiro caminho a ser seguido. Tem aparência de bom caminho, mas é enganoso, tortuoso, e não conduz a bons termos.
Como se lê em Provérbios 14.12 Há caminho que para o homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte. Claro! O que tem no caminho do pecador? Pecado, ora. E o pecado não reserva outra paga além da morte. Quem peca trabalha para o Diabo, que é mal em essência, e não pode dar boa recompensa como bom pagamento. Romanos 6.23, diz que o "salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor". A verdade é que alguém que trabalha para o mal só produz como fruto o pecado, e o pagamento recebido por esse produto é a morte. Por outro lado, quem está no Senhor não precisa trabalhar, sob o ponto de vista espiritual, para receber coisa alguma, mais especificamente, recebe a vida eterna como dom gratuito. 
Dom do grego charisma que é uma recompensa, uma libertação. No caminho dos pecadores há trabalho forçado cujo pagamento é a morte. No caminho dos justos a recompensa é gratuita, imerecida, mas alcançada pelo justo sem trabalho algum, apenas pela confiança no Senhor, bastando apenas render-lhe obediência e amar estar nos Seus preceitos. ainda que os caminhos do justo e do ímpio se cruzem, o segundo é que tem que deixar sua estraba e andar com o justo rumo à sua conversão, e não o contrário. Talvez te digam: Ah, mas Jesus andavam com pecadores de todos os tipos. E isso não é mentira. Mas quando os caminhos se cruzavam, não era Jesus quem deixava de ser quem era, nem abandonava o seu caminho para seguir as pegadas de alguém, mas os pecadores deixavam os seu caminhos para seguir as pegadas do Mestre, abandonavam as sua práticas para se renderem ao que Jesus mandava fazer.
O bem-aventurado não se assenta na roda dos escarnecedores. Ou seja, não compactua das mesmas conversas, dos mesmos gracejos, da zombaria, do desrespeito e do desprezo ao seu próximo. Também não compartilha das blasfêmias faladas contra o Senhor, nem das piadas de mal gosto, nem das palavras fúteis. Assentar-se à roda dos escarnecedores pode levar ao cometimento de graves erros perante o Senhor. Graves erros que também podemos definir como pecados notáveis, e acredite, há pecados diferentes, pois, a bíblia diz que há pecados para a morte (1 João 5.16), são os pecados praticados por birra, maquinados, arquitetados, construídos com um propósito de desafio a Deus. 
Por isso, assentar-se à roda dos escarnecedores é um procedimento perigoso que leva a pessoa a fazer coisas cuja consequência será de profunda amargura. Veja o caso de Pedro. Quando Jesus foi preso, os inimigos do Filho de Deus aproveitaram a oportunidade para tripudiá-lo, insultá-lo, fazer gracejos e zombarias, ou seja, escarnecer do Mestre Jesus. Em Mateus 26, verso 34, Jesus alerta sobre a negação que Pedro iria proferir em relação a Jesus por três vezes quando o Mestre passasse a enfrentar o desprezo efetivado na noite da última ceia dele com seus discípulos. Apesar de ao verso 35 Pedro negar que faria tal coisa, o apóstolo acabou por negar Jesus três vezes, como Cristo havia dito. As companhias escolhidas por Pedro naquela noite, após a prisão de seu Mestre foram determinantes para a negação em relação ao Senhor.
Uma narração das vezes em que Pedro negou o seu Mestre, está em Lucas 22. 55 - 59. Consta que havia um ajuntamento de pessoas no pátio da casa do sumo sacerdote, a mesma casa para onde Jesus foi levado preso. Esse ajuntamento acendeu uma fogueira e assentou-se no entorno para se aquecer, e obviamente eles faziam chacotas do Senhor. O texto diz que Pedro se assentou com eles. Naquele momento, "certa criada", não sendo especificado de quem se falava, viu o apóstolo e o identificou imediatamente como seguidor de Cristo, sendo que ao verso 57, Pedro negou que esteve com Jesus. Nos versos 58 e 59, são repetidas as afirmações de que Pedro esteve com Jesus, sendo reiterada a negativa por parte de Pedro, inclusive o apóstolo se irritou ao ser insistentemente identificado como seguidor de Cristo. Provavelmente, nas três vezes em que o apóstolo foi associado aos que andavam com Jesus, ocorreram em volta da fogueira, bem como as três negativas dele. 
Se bem observado pelo leitor da bíblia, as três vezes em que Pedro negou a Cristo, ele estava assentado e assentindo com os escarnecedores junto à fogueira. Assim, ele adotou, ainda que inconsciente, o discurso do escárnio. Somente recobrou a consciência quando Jesus passa e olha para ele. Os versos 61 e 62 dizem que Jesus olhou para Pedro, o apóstolo então se lembra da advertência de Jesus, percebe o que acabara de fazer, e logo sai do meio daquela aglomeração e vai chorar amargamente (verso 62, Lucas 22). Agora sim, Pedro, bem-aventurado abandona a roda dos escarnecedores. Ele assumiu o risco quando se assentou com aquelas pessoas, e produziu o erro previsível. O mesmo pode ocorrer conosco se nos descuidarmos.
Mas a bem-aventurança do justo não está só em não fazer: Não se guiar pelo ímpio, não andar com o pecador, não se assentar com o escarnecedor; está também no fazer. E fazer o que? Meditar na lei do Senhor de dia e de noite, tendo nela prazer. Porque não basta fugir do pecado e do ajuntamento com o pecador. Mas é preciso saber por meio da palavra de Deus o motivo do não fazer isso ou aquilo. É por meio da palavra que a cristandade dos servos de Jesus vai fincar raízes no chão, a ponto se desenvolver até encontrar águas abundantes, de modo que os cristãos sejam sempre frutíferos (Salmo 1.3). A prosperidade do justo está pautada na palavra do Senhor, sobre a qual nossa meditação deve ser uma contante. O verso 3 de Salmo 1, diz que tudo acontecerá no tempo oportuno. Na estação própria o fruto produzido, as folhas que fazem sombra para as raízes que captam água estarão sempre nos galhos, e onde o justo agir será bem sucedido. Basta confiar nos conselhos contidos na palavra de Deus.
O ímpio, ou injusto e pecador, não goza do mesmo cuidado da parte de Deus. O verso 4 de salmo 1 diz que os impios são como a moinha que o vento espalha. A moinha nada mais é que os fragmentos de palha dos cereais. São partículas leves que qualquer vento pode levar embora. Quando se ciranda o cereal, ou seja, quando se está peneirando as sementes, a moinha é soprada para fora da peneira. Não é que o vento espalha a moinha por acidente, a moinha é espalhada porque é a parte desprezada pelo cegador. O que se busca extrair é o cereal, que depois é levado para o consumo e manutenção da vida, ao passo que a moinha tem como destino o fogo, ou, no máximo serve de adubo. No dia do juízo os ímpios perecerão (verso 5). Será como na seleção feita pelo peneirador. A semente é recolhida, a palha jogada fora. No grande dia o ímpio terá um terrível fim. O texto diz que ele não subsistirá no juízo, assim como o pecador não fará parte da congregação dos justos. Os pecadores não subsistirão ao juízo porque suas ações não resistirão ao crivo do Senhor. Os pecadores não farão parte da congregação dos justos por motivos óbvios, já que não foram justificados pela palavra, pelo contrário, sendo como a moinha levada pelo vento, ficam suscetíveis a qualquer doutrina e ensinamento.
O verso 6 deste salmo 1 termina de maneira triunfal. O Senhor conhece o caminho do justos. Ou seja, Deus está examinando o caminhar diário dos que o buscam. Ele não ignora os percalços, os sofrimentos, os tropeços. Mas ele também observa o quanto o justo busca a justificação, a perseverança. O Senhor está atento ao trajeto daquele que nele confia. Quem se firma no Senhor não anda só, nem destituído dos cuidados de Deus. O Senhor pessoalmente está a cada dia acompanhando o justo e se satisfazendo com o progresso. Por outro lado, o caminho dos ímpios perecerá, diz a parte b deste último versículo. A insistência no pecado afasta Deus da caminhada diária. O Senhor não anda com quem persiste no erro, Ele ignora, no sentido de não tomar conhecimento, daqueles que insistem nos pecados e no desprezo e desapreço por Deus. Portanto, quer ser feliz, próspero e frutífero segundo Deus? Abandone a impiedade, a injustiça, o pecado, o escárnio, enfim, tudo aquilo que o afasta do Senhor; apegue-se à Sua palavra, estude, medite, tenha prazer em conhecer a Deus mais e mais. Que o Senhor abençoe a todos quantos querem andar com dEle. Quem com Ele anda, Ele sabe quem é.

Comentários

  1. صباح الخير يا احمد. شكرا جزيلا لقراءة المقال. سأصلي من أجلك. بارك الله فيك

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