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De que forma Deus fala?

Por Sergio Aparecido Alfonso

Texto-base 1º Reis 19. 11 e 12.

E Deus lhe disse: Sai para fora, e põe-te neste monte perante o Senhor. E eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes e quebrava as penhas diante do Senhor; porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto; também o Senhor não estava no terremoto; E depois do terremoto um fogo; porém também o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo uma voz mansa e delicada.

Não sei quantas vezes li o texto acima, só sei que foram muitas. Mas dia desses, quando buscava um versículo para postar no grupo  familiar de aplicativo de mensagens, finalmente parei para ler com mais cuidado e extrair algo além de dados. Desta feita tive a chance de meditar nos versículos transcritos, ou melhor, usei a chance que sempre tive. Isso já me ocorreu com muitas outras passagens bíblicas. É maravilhoso saber o quanto podemos aprender quando paramos para prestar atenção na palavra de Deus. Isso nos dá a oportunidade de crescermos em sabedoria na Escritura. No texto em questão, fiquei maravilhado com o final do versículo 12; "e depois do fogo uma voz mansa e delicada".
Elias, o profeta, estava escondido numa caverna no monte Horebe o monte de Deus (v.8). Ele esperava a morte, estava angustiado, e  queria ouvir a uma manifestação mais clara da parte do Senhor. No capítulo anterior (1º Reis 18) Elias havia feito um desafio para os profetas de Baal, uma divindade pagã cultuada por Acabe, rei de Israel, e sua esposa a rainha Jezabel. Como os líderes de Israel se renderam aos falsos deuses, os liderados foram atrás. O exemplo arrasta. Diante disso, Elias tinha por objetivo mostrar o poder de Deus ao povo, e por consequência, despertar os israelitas para retornarem às práticas cúlticas dedicadas ao Deus Jeová, reconhecendo, portanto, quem de fato era Deus. O profeta do Senhor propôs aos profetas de Baal que ambos oferecessem sacrifícios, e o deus que respondesse seria verdadeiramente Deus e Senhor. 
Local escolhido, povo presente, desafiante e desafiados preparados, altar de Baal erigido, sacrifício posto sobre o altar e por fim, abertos os momentos de invocação do poder divino para consumo do sacrifício. Primeiro os profetas do deus pagão. Esses gritaram, imploraram, fizeram malabarismos, enfim, tudo o que podiam para chamar a atenção da sua divindade, e nada. Chegaram a se mutilar como forma de obter o favor de seu deus, mas nenhuma resposta havia. Muito tempo perdido pelos profetas do falso deus, mas não havia uma manifestação, sem sinal de vida, nenhum movimento. Elias zombou deles, e mandou que eles gritassem mais forte, pois, poderia ser que seu deus estivesse ocupado, ou até dormindo (1º Reis 18.17). Fato é que a tarde chegou e Baal não respondeu às petições dos seus servos. 
Encerrado o tempo dos profetas de Baal, chegou a vez de Elias. Ele chamou para si o povo e restaurou o altar do Senhor, tomou doze pedras, simbolizando o número de tribos de Israel, com essas pedras edificou o altar, em seguida mandou abrir uma vala em volta do altar, rachou a lenha e partiu os bezerros os pôs sobre a lenha já disposta naquele altar. Depois mandou jogar água sobre o altar, de modo que molhou os pedaços dos bezerros, encharcou a lenha e encheu a vala aberta no entorno do altar. Na sequência, o profeta Elias invocou ao Senhor em oração, pediu que Deus se manifestasse e respondesse a sua oração para que fosse mostrado para o povo de Israel, quem era o verdadeiro Deus. A partir daí, desceu fogo do céu, consumiu o sacrifício, a lenha, as pedras e até as cinzas. E além disso, o fogo vindo do céu secou a água da vala. Diante de tal manifestação, o povo se prostrou, adorou a Deus e confessou o Seu Senhorio sobre tudo e todos, dizendo: Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus! (1º Reis 18.39).
Após isso, o profeta do Senhor encorajou o povo a capturar os profetas do deus pagão, ao que o povo atendeu, levando-os a um ribeiro chamado Quisom, onde o profeta os matou. Elias ainda profetizou diante de Acabe rei de Israel que a chuva desceria em breve, mesmo o rei não vendo nuvem que fosse propícia para uma precipitação pluviométrica. Mas quando o rei ficou sabendo do que houve com os profetas de Baal, correu contar a Jezabel, a rainha de Israel. Essa por sua vez, proferiu ameaças contra Elias, prometendo o mesmo destino para o qual o profeta encaminhou os servos do deus pagão. Por este motivo último é que Elias se refugiou. Enquanto em seu exílio, Deus o sustentou na caverna. Mas chegou o momento em o que Senhor pretendeu usar Elias para outras missões. Mas o profeta estava só, com medo, deprimido, se sentindo o remanescente dos servos de Deus, não por convencimento ou soberba, mas por certo queixume por ter ficando só. Mas o Senhor chegou para esclarecer que o ministério contava com muitos outros profetas.
E é justamente a forma usada por Deus naquele diálogo que motivou este texto. Os versos 11 e 12 falam sobre fenômenos de grande vulto. Terremoto, vento que fende montes e quebra penhas e por fim, o  fogo. Mas Deus não estava nos fenômenos. É verdade que o Senhor à vezes usa sons estrondosos para fazer soar a sua voz, como em 2º Samuel 22.14, entre outros textos. Mas sendo Deus, o Senhor, não podemos querer limitá-lo a uma única maneira de se manifestar. Ele falou de forma paciente com Moisés no período que começou com a sarça ardente (Êxodo 3 em diante) até o fim do pentateuco. É certo que em algumas vezes o Senhor foi duro e firme com Seu servo. Por todo o conjunto desses cinco livros escritos por Moisés, Deus falou com ele de várias formas. Inclusive usou Jetro, sogro de Moisés (Êxodo 18) quando do conselho para que dividir a carga da regência nos negócios jurídicos do povo. 
No Velho Testamento Deus falou com os seus servos o tempo todo. Às vezes falava irado, outras vezes falava de maneira calma. O nosso texto de reflexão diz que Deus, no caso específico, não estava nas fortes manifestações da natureza. Mas após a ocorrência dos efeitos fenomenais, o Senhor falou por meio de uma voz mansa e delicada. Mas Deus já havia, dias antes, falado com o povo através de um fogo abrasador, que consumiu o sacrifício, o altar e a água que estava em volta do altar. Aquele fogo que a tudo consumiu foi a forma de Deus expressar a Sua existência e poder. Porém, desta vez, Ele usou outra maneira para falar com Seu servo. E é muito importante ter em mente que o Senhor tem liberdade e autoridade para falar e se manifestar quando, onde e como quiser. Isso é muito claro em Hebreus 1.1, que diz: "Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, ao pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo filho", ou seja, o padrão, os meios e a forma são de Sua única e exclusiva escolha.
Assim, sabendo que o Senhor não está restrito a um jeito específico e único de falar, precisamos estar atentos à sua voz. Não importa os meios, os sons, o volume ou o tom com os quais Ele falou às outras pessoas. Deus tem o Seu jeito para o momento de cada um com Ele. Não será possível ouvir Deus falar se impusermos condições para que Ele fale. Deus pode falar contigo de repente, como foi o caso de Abrão em Gênesis 12.1-3. Ele pode aceitar satisfazer as tuas dúvidas como foi com Gideão no caso dos novelo de lã (Juízes 6. 36-40), quando ele fez o teste do orvalho noturno, onde primeiro o novelo deveria ficar molhado e o chão em volta seco, e depois o contrário, o novelo seco e o chão molhado. Mas cuidado, testar o Senhor pode reprovar você. A dúvida é o oposto de fé, e pode te levar a fazer algo que você não tem consciência da importância. 
O que se faz por dúvida é pecado, porque não é feito com fé (Romanos 14.23). Com isso não se quer dizer que a dúvida razoável seja pecado, perguntar é a oportunidade de ser sincero e buscar esclarecimento. Mas fazer algo por automático, sem que tenha sido motivado pela fé é desonesto com Deus. Fazer algo no qual não se acredita, é, nos dizeres seculares, hipocrisia. Já fazer algo para Deus sem acreditar que O ouviu, é o mesmo que dizer: Pelo sim, pelo não, vai que dá certo. É dessa dúvida que o apóstolo Paulo falava. Paulo se referia aos procedimentos adotados mesmo não tendo certeza de agradar a Deus com o proceder. Enfim, a dúvida de que Paulo fala é a que leva a pessoa a fazer algo para Deus só porque os outros estão fazendo, quando na verdade, para ela esse algo nada significa, porque feito descompromissadamente. 
Fazer algo duvidando, ou ainda, sem fé, não tem a menor chance de ser agradável ao Senhor (Hebreus 11.6). Portanto, é preciso ficar atento à Sua voz, saber se e quando Ele falou. Nem sempre o Senhor vai falar alto, nem sempre Sua voz será audível. Lembra que no primeiro parágrafo disse que tive a oportunidade de meditar nos versículos do nosso texto-base? Pois bem, foi assim que Deus falou comigo desta vez, no caso, texto bíblico e meditação. E Ele encontrará a forma própria de falar contigo. Poderá ser no vento que fende as rochas dos montes e despedaça a penha, poderá ser no terremoto que a tudo desestabiliza, poderá ser através do fogo, como na sarça ardente de Êxodo 3, ou, na voz mansa e delicada de 1º Reis 19.12. Então, de que forma Deus fala? De uma uma forma especial com cada um.

Comentários

  1. Mário Celso Rodrigues14 de dezembro de 2019 às 15:14

    Inspirativa e didática mensagem, muito me edifica e instrui. Sou grato a Deus e em minhas orações peço ao Senhor que enriqueça de sabedoria o escritor, e, também ao leitor.

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  2. Fico lisonjeado com tantas palavras de estima e consideração. Agradeço igualmente pelas orações. Sem a graça de Deus nada do que foi escrito poderia ter sido apresentado. Que Deus o abençoe nobre irmão Mário Celso.

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  3. Muito boa a mensagem, que Deus continue te inspirando a escrever assim.

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  4. Graça e paz irmão. Que Deus o abençoe, e muito obrigado pelas palavras de incentivo.

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