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Série: Breve panorama de temas do Apocalipse (Parte 2)

 

Apocalipse 6.1-8.1


A segunda parte da breve visão panorâmica de alguns temas do livro de Apocalipse vai tratar dos sete selos, sua abertura e eventos revelados em cada um desses selos. Cada selo é aberto na sua sequência e em cada um deles há um juízo. Os 144 mil homens visto por João com a marca de Deus, recebem a marca entre o sexto e o sétimo selo. Muitos autores defendem que os 144 mil são evangelistas judeus que pregam durante a grande tribulação. De acordo com essa ideia, o texto de Apocalipse 7.9-17 deve ser interpretado assim. Em contrapartida, os frutos são colhidos com a multidão de inumeráveis salvos que têm as vestes brancas e que sofreram todas as aflições contidas nos selos, trombetas, e taças da ira colérica de Deus. Observe que nos versos 16 e 17 do capítulo 7, eles não mais sentirão fome, nem sede, nem ardor do sol, e que Jesus os guiará para a fonte de água da vida, e vai enxugar de seus olhos toda a lágrima. Os juízos desencadeados pelos selos, trombetas e taças trazem exatamente isso, entre outras coisas, ou seja, fome, sede, dor, sofrimento, pranto e tristeza e sol causticante. Mas o Senhor Jesus vai trazer não só o alívio, mas o livramento eterno de todas essas assolações a que foram submetidos na tribulação. Enfim, é este o panorama do intervalo do sexto para o sétimo selo.

E por falar em selo, vamos a eles e suas consequências. Lembre-se de que ninguém foi encontrado digno de abrir os selos, senão, Jesus Cristo chamado de Cordeiro (Ap. 5.8-14), que também foi louvado por sua grande obra de salvação e vitória sobre a morte, que operou o resgate de muitos. Portanto, não se verá anjo abrindo selo, pois, apenas Jesus é digno dessa incumbência. O primeiro selo foi aberto (vv. 1, 2) e então a cena de um cavalo branco montado por um cavaleiro que tinha um arco em sua mão. O final do verso 2 diz que ele saiu vencendo e para vencer. O leitor poderá encontrar muitas versões para a representação desse cavalo e seu cavaleiro. Uma delas diz que se trata de Cristo, cuja vitória sobre o mal é impossível de se frustrar. Mas existe dificuldade de se fazer essa associação. Outra versão diz que trata-se do evangelho sendo pregado rapidamente pelo mundo todo, em cumprimento ao que Jesus disse em Marcos 13.10. Sendo certo que essa versão também carece de suporte, porque para ambas as versões anteriores, a dificuldade é dissociar o cavalo branco dos demais cavalos, que são portadores de juízos. Assim, é mais viável acreditar numa investida militar, em que uma força arbitrária é imposta afligindo a toda a população.

O cavaleiro saiu vencendo e para vencer, retrata para alguns estudiosos o próprio anticristo revelado em seu caráter verdadeiro. Em um primeiro momento ele convence o mundo de que é um homem de paz, simbolizada pela cor do cavalo. Faz muitas coisas boas com as quais ganha a confiança do mundo. Mas por fim, se revela a pessoa belicosa e autoritária que é. Vencendo e para vencer é o seu poderio sujugador posto em prática. Como dominador que é, o arco que possui é a demonstração de força, e a coroa em sua cabeça é a expressão de poder geopolítico de alcance global que ele exerce. Depois de se envolver em questões morais e de espiritualidade, terá a sua face revelada, seu lado opressor que impõe uma suposta paz, mas pelo medo.

Enquanto isso, nos versos 3 e 4, é rompido o segundo selo, e com ele vem o segundo cavalo, na cor vermelha. A paz superficial existente é tirada. Com isso, não só as nações se tornam inimigas, mas os homens são inimigos entre si. O vermelho do cavalo é uma representação do banho de sangue que ocorrerá com a violência desenfreada. Guerra civil e guerras internacionais estarão acontecendo. Os homens estarão com o nervo a flor da pele em função do período de dominação a que estão submetidos. O falso príncipe da paz, o anticristo, será desmascarado. Os tratados de paz que serão frágeis e se romperão nesse tempo. As amizades se desfarão muito facilmente porque as supostas diversidades, por exemplo, são impostas sob ameaça de processos para os que não aceitam tais alegadas diferenças. Como o anticristo se imiscui em questões espirituais e de moralidade, ao que tudo indica, vivenciamos imposições de natureza moral hoje. Porém, isso não traz uma convivência tão pacífica, mas um contrato social assinado a lápis, logo e facilmente se apaga, e conflitos se deflagram. Mas é importante dizer que não se consuma o fim dos tempos com esses eventos. Como o Senhor Jesus disse em Mateus 24.8, são dores de parto. Doem muito, mas são dores iniciais, nem o bebê nasceu, nem a preocupação dos pais se acabam no nascimento.

Se não bastassem os sofrimentos já descritos na abertura dos dois selos antecedentes, temos o terceiro cavalo, agora da cor preta (versos 6, 7), liberto com na abertura do terceiro selo. Essa cor do cavalo não simboliza trevas, mas fome. Crise econômica e de produção de alimentos se instalará. Os dois cavalos anteriores trazem respectivamente opressão, guerra e morte. Nesses tipos de eventos, a produtividade e acesso aos bens de consumo e alimentícios são difíceis. Observe o mundo à sua volta, caro leitor. Perceba que nos países onde há conflitos internos ou governos autoritários, a economia e o abastecimento são atingidos. Podem ser citados países nominalmente, tais como Cuba, Síria, Venezuela e mais recentemente a Argentina que já se tem notícia de pessoas desenterrando carne em decomposição para comer. Neste exato ano de 2020, quando este texto está sendo escrito, o governo atual da Argentina já aprovou a reforma do judiciário, que na prática tira poderes de juízes que trabalham no combate à corrupção, tipos de ações que a vice-presidente responde. Tais atos afastam investidores porque não veem segurança jurídica para seus negócios. Mas talvez se diga: A China é ditatorial mas é próspera. É verdade. Mas persegue os cristãos. Por outro lado, as ditaduras africanas têm perseguição aos cristãos e fome e miséria para o povo.

Mas as guerras internacionais também trazem crises para os países envolvidos. Os importadores e exportadores não sente segurança física para o transporte de seus bens. Isso faz com que o comércio exterior se deteriores nas zonas de conflito e os produtos ficam caros e escassos. No verso 6 do capítulo 6, uma voz anuncia que uma medida de trigo custa um denário e três medidas de cevada custam também um denário. O denário é usado aqui como o montante que designa o salário de um dia de trabalho. Ou seja, a escassez e o alto preço vão fazer com que o trabalhador consiga comprar apenas um dos gêneros de consumo diário.

No caso do Brasil, por exemplo, numa situação dessas, num dia se compra arroz, no outro dia o feijão, no outro a carne. Mas ao final do verso 6 tem uma advertência que não pode ser desprezada. A expressão diz: “não danifiques o azeite e o vinho”. Há produtos que pela sua importância e aplicação serão bastante raros. Tanto o azeite quanto o vinho eram usados também para fins além da cozinha. O azeite por exemplo, tinha uso fitoterápico, era usado como cicatrizante de feridas, e o vinho também era usado como desinfectante e antisséptico. Os recursos medicinais serão muito disputados no resultado do juízo do cavalo preto. Mas a falta de alimento e escassez de recursos de higiene e médicos servirão para mostrar que o anticristo não pode curar o mundo e também não é o Pão da Vida. Até porque, sob seu governo os recursos materiais estarão em falta, que dirá recurso espiritual.

Na abertura do quarto selo ainda nos versos 7, 8, tem o quarto cavalo, o quarto ser imponente portador de um juízo. Era um cavalo de cor amarela, e seu cavaleiro se chamava morte. Guerra, fome, pestes, e mortes sem causa aparente além de desequilíbrio ambiental com ataque de animais, são os propagadores de morte através dessa representação. O termo grego para amarelo usado aqui dá origem à palavra clorofila em português. Trata-se, no caso do amarelo do cavalo, de uma cor verde acinzentada, com aspecto de palidez caraterístico de corpo morto em decomposição, ou seja, carne estragada mesmo. Ele será acompanhado do Hades, que na mitologia grega é o deus do submundo, do reino dos mortos. A missão do terror dos juízos de Deus, ou das fases desse juízo em meio a humanidade começa a tomar corpo mais ostensivo a partir deste cavalo e seu cavaleiro. O cumprimento da ameaça de aniquilação da terra é real, por fim.

E então dos versos 9-11 é aberto o quinto selo, que vem com a visão das almas dos que morreram por amor ao evangelho. Essas almas são vistas por João, debaixo do altar, numa figura de sacrifício. Já estavam protegidas por Deus. Mas elas clamavam por justiça contra aqueles que as torturaram e mataram. Porém, receberam de Deus o reconhecimento de seu esforço e aplicação na pregação da palavra ao receberem as vestes brancas. E também, foram avisados de que deveriam descansar e aguardar o momento certo da vingança de Deus. Mas o julgamento para enfim, resultar na vingança, somente seria aplicado apenas quando os demais cristãos fossem salvos. E aqui cabe uma observação: Foi anunciado aos servos vistos por João, que não apenas outras pessoas ainda precisavam ser salvas, mas que ela seriam também mortas brutalmente por amor à Palavra de Deus. Os mártires do evangelho continuaram a ser produzidos durante os eventos que João estava tomando conhecimento. São perseguições encorajadas e incentivadas por pessoas interessadas em manter baixo o número de habitantes na terra por causa da escassez de recursos que já começam a ser sentida. Os cristãos que aceitam a palavra depois do arrebatamento e durante a tribulação – segundo os pré-tribulacionistas – serão acusados de causar dissensão religiosa e política. A própria imprensa que clama por liberdade será usada para pregar a censura contra os cristãos. E cabe aqui uma pergunta: Por acaso não são os cristãos no presente século, acusados de intolerância religiosa, apesar de serem as maiores vítimas no mundo todo de assassinato exatamente por perseguição religiosa? E a comunidade internacional faz “vistas grossas” para isso, porque na sua concepção, o cristão perturba a paz. E é esse o pensamento que vai permear a sociedade durante a tribulação.

Ainda não acabou. O sexto selo é aberto. Dos versos 12-17, uma série de desarranjos cósmicos são narrados. Um terremoto com poder de alterar a geografia drasticamente será sentido em todo o planeta. Para quem acha impossível, no dia 27 de fevereiro de 2010, ocorreu um terremoto no Chile, com magnitude de 8.8 na escala Richter. Esse terremoto, segundo a Nasa, encurtou o dia, porque a terra sofreu alteração no seu eixo de 8 centímetros. E em 2004, outro terremoto, na ilha de Sumatra, causou o mesmo efeito, com 7 centímetros de alteração no eixo da terra.

Mas o terremoto não é tudo. O universo participará dos eventos do sexto selo. O sol ficará escuro. Um breu, trevas espessas tomarão conta da terra. A lua vai ganhar aspecto avermelhado. Meteoros vão despencar sobre a terra como se fosse uma chuva de estrelas. As pessoas pedirão que os montes que já não etão no seu lugar, ou sofreram abalos nas suas estruturas, caiam sobre elas. A visão de um mundo em ruídos e suas estruturas fragilizadas, jogadas de um lado a outro, nem de longe poderá ser comparada com os danos causados pelos furacões e tornados que vemos na televisão. Serão assombros nunca antes vividos, embora alguns eventos já tenha sido até profetizados por Joel, por exemplo em Jl 2.30, 31. e 3.15, ou em Isaías 13.9,10. Diante disso tudo, em vez de se voltar para Deus, as pessoas vão querer se esconder do Cordeiro, como se isso fosse possível para alguém.

E a série de sete selos chega ao fim nos versos 1-6 do capítulo 8 de Apocalipse, com a abertura do sétimo selo. Nesse momento houve silêncio no céu, por um tempo de meia hora, segundo alguns estudiosos, para que as orações dos santos fossem ouvidas. E não era de se admirar. Um conjunto de sete anjos, cada qual portando uma trombeta, e cada trombeta anunciando uma série nova de catástrofes foi vista na abertura do sétimo selo. Em relação as sete trombetas e seus eventos, haverá uma trabalho específico no próximo artigo. Agora vamos nos deter sobre o que ocorre na sequência do rompimento deste selo. O texto diz que um anjo se colocou em pé junto ao altar com um incensário de ouro, e muitos incensos foram lhe dados. Os incensos guiavam a oração dos santos até o altar de Deus. Em seguida, ele encheu o incensário com fogo e atirou contra a terra. Houve trovões, relâmpagos e terremoto. O segundo terremoto, aliás. Trata-se do aviso de que os castigos e penalidades vão continuar. As súplicas dos santos foram atendidas quando o anjo incendiou o incensário que continha as orações dos santos e o atirou para a terra. Ao que parece, o clamor dos mártires dos versos 9-11 do capítulo 6, os quais pediam a vingança para os seus sofrimentos, infligido pelos ímpios e impenitentes, que odiavam as testemunhas do evangelho. Mas a paga pelos atos dos inimigos de Deus e de Seus servos chegou. Deus não se esquece de nada.


Bibliografia

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BÍBLIA DE ESTUDO PALAVRAS-CHAVE. 4ª Ed. Rio de Janeiro. CPAD. 2015.


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WIERSBE, Warrem W. COMENTÁRIO BÍBLICO EXPOSITIVO. Vol. 6. 1ª Ed. Santo André. 2012.


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